top of page
banner 100 dias niteroi 780x90 11 04 25.jpg

Flanco exposto: Brasil esquece a Defesa em estratégia de IA

Com uso e eficácia mais do que comprovados no mundo militar moderno, a inteligência artificial (IA) aplicada à Defesa foi esquecida pelo Brasil em seus documentos estruturantes do tema, criando uma lacuna não só na proteção do país, mas também em seu desenvolvimento tecnológico.

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

"A crescente digitalização dos conflitos e a emergência de ameaças híbridas demandam capacidades tecnológicas avançadas que o Brasil ainda não desenvolveu de forma satisfatória, colocando em risco não apenas sua projeção geopolítica, mas também a segurança de suas infraestruturas críticas."


É o que alerta o professor doutor Carlos Eduardo Franco Azevedo, docente no Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares (PPGCM) da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e líder do Grupo de Pesquisa Guerra do Futuro, Indústria de Defesa e Inovação (GFIDI).


Já há alguns anos, a IA vem revolucionando as capacidades tecnológicas de diversas áreas, e o setor militar não poderia ser diferente. Para muitas pessoas, a inteligência artificial se tornou visível através do ChatGPT e similares, como o DeepSeek chinês. Esse recurso, contudo, é apenas um no vasto mundo da inteligência artificial.


À reportagem, Azevedo, que também é coordenador adjunto do projeto de Inteligência Artificial e Tecnologias Quânticas (IAQT), destaca que a tecnologia atua de forma transversal por todos os domínios e dimensões do mundo militar, como a humana e a informacional, nos embates que vão desde os terrestres, marítimos e aéreos aos novos campos espaciais e cibernéticos.


Um dos exemplos é o uso da inteligência virtual para sistemas autônomos e inteligentes, capazes de realizar tarefas de navegação, reconhecimento de alvos e até combate por si próprios. Outro é o uso dessas ferramentas na defesa cibernética, identificando padrões e comportamentos anômalos para prevenir ataques.


"Destacam-se, ainda, as armas autônomas letais (LAWS), cuja capacidade de decidir e agir sem intervenção humana tem suscitado diversos debates por questões éticas e jurídicas."


De maneira mais discreta, a inteligência artificial também atua na logística militar, ajudando na otimização das cadeias e prevendo necessidades operacionais, como a falta de suprimentos. Dentro do comando militar, a IA pode ser usada, ainda, para analisar a enorme quantidade de dados e auxiliar na tomada de decisões.


A IA se tornará cada vez mais importante


Para o professor de ciências militares, a inteligência virtual revolucionou e vai transformar muito mais as capacidades militares, ainda mais quando aliadas às tecnologias quânticas, como computação, criptografia, sensores e metrologia quântica.


"Obviamente, aquelas nações que possuírem supremacia nesses campos terão maior vantagem militar", diz Azevedo, enquanto "países frágeis no desenvolvimento desses campos" ficarão mais vulneráveis a ataques, até mesmo de atores não estatais.


Enquanto potências como China, Rússia, Estados Unidos e alguns países da União Europeia estão investindo forte em ambas as tecnologias, em uma corrida tecnológica que possui o potencial de "alterar a ordem mundial", o Brasil infelizmente está ficando para trás.


Nos documentos norteadores da Defesa brasileira — o Livro Branco, a Estratégia Nacional e o Programa Nacional —, o tema não é mencionado uma única vez. Isso, no entanto, não é demérito dessa publicações, explica o especialista.


Pelo contrário, ao definir como setores estratégicos o cibernético, espacial e nuclear, ele permite avanços consideráveis nesses campos. Segundo Azevedo, o que se necessita é ressaltar a capacidade da inteligência artificial e das tecnologias quânticas como ferramentas transversais, capazes de induzir o desenvolvimento ainda maior desses segmentos.


"Estamos perdendo oportunidades de aproveitar o potencial criativo da Base Industrial de Defesa [BID] nacional, em proveito da geração de capacidades militares autóctones."


É, contudo, na Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA) de 2021 e no Programa Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) que a verdadeira lacuna se encontra. Em ambos os textos estruturantes, a função da Defesa é omitida. "Deixando um flanco exposto e trazendo todas as vulnerabilidades estratégicas que essa omissão representa para a soberania nacional."


O único documento brasileiro que menciona a inteligência artificial é um texto do Exército Brasileiro de 2024, a Diretriz Estratégica para a Inteligência Nacional. "Um passo significativo, mas quase imperceptível aos olhos da sociedade em geral", aponta Azevedo.


Segundo o pesquisador de ciências militares, o documento aponta para a modernização tecnológica das forças com a adoção de sistemas de IA, enquanto mantém o controle decisório sob o julgamento humano.


Mais importante ainda é o fato de o texto nortear as demais ações estratégicas do Exército, como o Planejamento Estratégico do Exército Brasileiro (PEEx) que, dentre outras finalidades, "serve como direcionamento para a nossa Base Industrial de Defesa".


Não é tarde para o Brasil


Esses fatos evidenciam que, embora atrasado, não é tarde para que o Brasil recupere o tempo perdido na aplicação da inteligência artificial em sua defesa. "Ainda há uma janela de oportunidade", diz Azevedo.


Para o especialista, o país ainda pode se aproveitar de sua neutralidade diplomática para conseguir parcerias que ajudem em seu desenvolvimento nessa área. Países amigos do BRICS, como China e Rússia, são vistos como possíveis parceiros nessa questão.


Ainda que não seja um grupo focado em defesa, o professor ressalta que essas tecnologias possuem um uso dual, podendo ser aproveitadas tanto para aplicações civis quanto militares. A China, diz Carlos Azevedo, é o principal destaque na área de IA do agrupamento.


Já a Rússia, graças à agência espacial Roscosmos, desenvolveu algoritmos para processar imagens de satélite com aplicação em segurança de fronteiras, clima e mapeamento militar. "Algo que pode ser importante para um país com imensa região de fronteiras secas, como o Brasil."


Outro possível aliado são os Estados Unidos. Estes, por sua vez, possuem "postura cautelosa com países que estreitam laços tecnológicos com a China" e podem interpretar a parceria como um realinhamento político brasileiro.


"Em vez de alinhar-se exclusivamente a um polo, o país pode atuar como ponte tecnológica, extraindo benefícios de ambos os lados, buscando promover a cooperação multilateral."


Azevedo afirma que além de aproveitar o BRICS como trampolim para si mesmo, seria interessante aproveitar o grupo para fomentar projetos multilaterais que envolvam outros países, como a Índia e a África do Sul. É uma forma de reforçar a posição brasileira de articular do Sul Global.


Fonte: Sputnik Brasil, parceira do TODA PALAVRA

Comments


banner 100 dias niteroi 300x250 11 04 25.jpg
Chamada Sons da Rússia5.jpg
Divulgação venda livro darcy.png

Os conceitos emitidos nas matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião do jornal. As colaborações, eventuais ou regulares, são feitas em caráter voluntário e aceitas pelo jornal sem qualquer compromisso trabalhista. © 2016 Mídia Express Comunicação.

A equipe

Editor Executivo: Luiz Augusto Erthal. Editoria Nacional: Vanderlei Borges. Editoria Niterói: Mehane Albuquerque. Editor Assistente: Osvaldo Maneschy. Editor de Arte: Augusto Erthal (in memoriam). Financeiro: Márcia Queiroz Erthal. Circulação, Divulgação e Logística: Ernesto Guadalupe.

Uma publicação de Mídia Express 
Comunicação e Comércio Ltda.Rua Eduardo Luiz Gomes, 188, Centro, Niterói, Estado do Rio, Cep 24.020-340

jornaltodapalavra@gmail.com

  • contact_email_red-128
  • Facebook - White Circle
  • Twitter - White Circle
bottom of page