FBN lança coleção com publicações de imigrantes italianos
A Fundação Biblioteca Nacional (FBN) – entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) – lançou na última sexta-feira, (5/7) o dossiê digital “150 anos da imigração italiana nos periódicos”, disponível na BNDigital. O dossiê inclui artigos de pesquisadores da instituição sobre a imigração italiana no Brasil, a origem da imprensa italiana no país e uma listagem completa dos jornais em italiano produzidos aqui – ao todo 90 títulos, dos quais 42 estão disponíveis para consulta em formato digital – entre outros conteúdos.
O lançamento celebra os 150 de imigração italiana no Brasil, iniciada na grande leva de 1874. As ações da instituição incluíram ainda a iluminação da fachada da Biblioteca Nacional, no Centro do Rio, com as cores da bandeira da Itália.
De acordo com o presidente da FBN, Marco Luchesi, além do dossiê com os jornais e revistas, a FBN é detentora de um acervo de obras expressivas de escritores e artistas italianos, que vai desde as grandes obras do Renascimento — com Giorgio Vasari, Annibale Carracci e Guido Reni — até outras mais atuais.
Diversidade ideológica
A língua italiana, ao longo da unificação daquele país (1870), não formava maioria. No Brasil, os imigrantes utilizavam o português para melhor compreensão entre si, mesclado à imponente abundância de seu respectivo dialeto de origem. O idioma italiano, porém, foi mantido nas publicações dos jornais e revistas que circulavam nos redutos da comunidade, ajudando a manter viva a herança cultural.
De acordo com o texto de apresentação do acervo, no site da FBN, a coleção de jornais e revistas italianos forma um capítulo importante da história do país, refletindo opiniões diversificadas e correntes ideológicas variadas entre os imigrantes: eram católicos, anarquistas, socialistas, filofascistas e comunistas. São "páginas da história, política e econômica, greves e sindicatos, contos e folhetins, autônomos ou derivados do horizonte político", descreve o texto.
Muitos dos veículos catalogados pela FBN eram de periodicidade semanal e noticiavam o cotidiano da comunidade italiana espalhada em diferentes pontos do Brasil, principalmente no Estado de São Paulo. Temas como família, religião e trabalho eram recorrentes. As publicações possuíam ilustrações e também traziam humor.
Um exemplo é o jornal Il Moscone, fundado pelo jornalista e escritor Vicente Ragognetti, que tinha charges, histórias bem humoradas em forma de quadrinhos e caricaturas. Foi publicado desde abril de 1925, quando saiu seu primeiro número, até agosto de 1961, totalizando 1.357 números.
Trabalho
Os periódicos também discutiam as condições de trabalho nas colônias italianas e destacavam questões relativas ao sistema de trabalho em cooperativas. Tratavam de assuntos como empreendedorismo, economia, comércio, agricultura (em especial a viticultura), indústria e tributação. Tinham como grande objetivo, portanto, defender o trabalhador imigrante.
Um exemplo é o Jornal La Tribuna, publicado em Santa Catarina, que trazia notícias sobre a Itália, principalmente as de conotação política, e propagandas voltadas para o comércio de descendentes de italianos na cidade e para destacar a sua importância na economia.
Antifascismo
A implantação do fascismo na Itália alcançou expressiva repercussão entre os imigrantes italianos e seus descendentes no Brasil. Mussolini estava empenhado em atingir as grandes massas usando a imprensa. O jornalismo italiano, através do órgão Ufficio della Stampa, designava a forma e o conteúdo das matérias veiculadas pelos jornais e isso incluía o controle dos veículos italianos publicados no exterior entre os imigrantes. No caso específico do Brasil, houve envio de livros, filmes, fotos e matérias para os jornais aqui editados.
Em 1919, Benito Mussolini fundou o movimento 'Fascio de Combatimento', que tinha como uma de suas premissas a perseguição e o combate aos movimentos grevistas e concentrações socialistas. Na direção oposta, multiplicaram-se os sindicatos, associações, imprensa, vinculados a praticamente todo o leque de organizações partidárias que lutavam contra o fascismo, fosse na Itália ou fosse nas colônias estabelecidas em outros países, como o Brasil. Por aqui o antifascismo ganhou muita força após a ascensão do nazismo alemão e através das atividades da Ação Integralista Brasileira.
A imprensa antifascista italiana foi mais expressiva no Brasil nas décadas de 1920 e 1930, mas repercutiu bem menos do que as publicações fascistas. Dentre eles, o jornal Il Moscone possuía a seção “Le Lettere di Pasta Frolla al Moscone” que era dedicada à discussões sobre o fascismo e o antifascismo de São Paulo.
Também se destacam outros três periódicos que chegaram a perdurar por dois anos: Il Risorgimento, Lo Spaghetto e Italia Libera. A maioria dessas publicações teve periodicidade semanal ou de forma decididamente irregular.
Cores da Itália
Como parte do evento de lançamento da coleção de periódicos e da celebração pelos 150 anos da imigração italiana, a fachada da Biblioteca Nacional, no Centro do Rio, ganhou as cores da bandeira da Itália. A iluminação ocorreu na quinta-feira (4/7), e foi acionada remotamente da Itália pela princesa Elettra Marconi – filha de Guglielmo Marconi, físico e inventor italiano, tido como o criador da telegrafia sem fio, e que acendeu as luzes do Cristo Redentor diretamente de Roma, em 1931, por meio de um impulso elétrico que atravessou o Oceano Atlântico.
Elettra Marconi acionou as luzes na fachada da Biblioteca Nacional diretamente de sua residência em Roma - na mesma sala em que Marconi acionou a iluminação do Cristo - onde estava acompanhada pelo embaixador brasileiro, Renato Mosca de Souza.
Veja o vídeo
“Eu adoro o Brasil, as belezas naturais e as pessoas. Falo sempre da humanidade dos brasileiros, me sinto com eles como se estivesse em família. Tenho sempre a esperança de retornar ao Brasil. Falo para que todos conheçam o Brasil, o país mais belo da América do Sul”, afirmou a princesa Elettra Marconi.
“Estamos emocionados, porque a princesa Elettra é uma referência dessa amizade entre o Brasil e a Itália, tanto cultivada e tão importante para as nossas culturas. Uma família para qual a humanidade deve prestar reverência e reconhecimento pelas grandes contribuições que nos legaram”, ressaltou o embaixador Renato Mosca de Souza.
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