Fiocruz: crianças transmitem menos Covid do que adultos
Embora estudos sugiram que crianças e adolescentes que participem de eventos externos possam levar a Covid-19 para suas casas, uma nova pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indica que eles mais frequentemente são infectados por adultos do que atuam como transmissores. As crianças têm uma probabilidade menor de transmitir o coronavírus do que os adultos.
No estudo, que observou a infecção em crianças e adultos que moram na mesma residência, os mais velhos desenvolveram anticorpos contra a Covid-19 antes dos seus filhos. Isso mostra, segundo os cientistas, que a transmissão ocorre mais a partir dos adultos.
"As crianças foram infectadas após ou concomitantemente às pessoas que moram no domicílio, principalmente seus pais. Nesta medida, nossos resultados preliminares sugerem que as crianças não parecem ser a fonte da infecção, adquirindo, mais frequentemente, o SARS-CoV-2 dos adultos, em vez de lhes transmitir", indicam os pesquisadores.
Além dos pesquisadores da Fiocruz, assinam o estudo cientistas da Universidade da Califórnia e da Escola de Medicina Tropical e Higiene de Londres.
Os resultados, publicados na revista Pediatrics, da Sociedade Americana de Pediatria, ainda serão revisados pela comunidade científica.
No estudo, os pesquisadores analisaram a transmissão do coronavírus na comunidade de Manguinhos, no Rio de Janeiro, de maio a setembro de 2020. Ao todo, participaram 667 pessoas, sendo 323 crianças de 0 a 13 anos, 54 adolescentes de 14 a 19 anos e 290 adultos. Todas haviam tido contato com um adulto ou adolescente com sinais recentes de Covid-19. Segundo a pesquisa, se for comparado com dados do Rio, o estudo mostra que um terço dos contatos domiciliares pesquisados tinham sido expostos ao vírus por volta de agosto de 2020, uma taxa maior do que o registrado na população geral da cidade no mesmo período: 33% contra 7,5%.
Na publicação, os cientistas afirmam que as descobertas "sugerem que, em ambientes como o estudado, escolas e creches podem ser reabertas com segurança se medidas adequadas de mitigação de Covid-19 estiverem em vigor e os funcionários devidamente imunizados".
Os pesquisadores, no entanto, advertem:
“Mesmo não sendo as principais fontes de infeção nos domicílios no estudo, é necessário incluir crianças nos ensaios clínicos de vacinação. Se os adultos forem imunizados e as crianças não, elas podem continuar a perpetuar a epidemia. Se no mínimo 85% dos indivíduos suscetíveis precisam ser imunizados para conter a pandemia de Covid-19 em países de alta incidência, esse nível de proteção só pode ser alcançado com a inclusão de crianças em programas de imunização, principalmente no Brasil, onde 25% da população têm menos de 18 anos". Os autores chamam atenção de que os resultados do estudo são referentes ao local e período estudado (maio a setembro de 2020), diferente do cenário atual com nova variante do vírus, mais transmissível, circulante.
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