Flora urbana de Niterói se integra à Mata Atlântica
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Flora urbana de Niterói se integra à Mata Atlântica

Atualizado: 6 de jun. de 2021

Por Mehane Albuquerque


Cidades que cuidam bem de suas árvores geralmente estão preocupadas com a qualidade de vida de seus habitantes. Em Niterói, o Arboribus, projeto de mapeamento de árvores na área urbana realizado pela secretaria municipal de Conservação e Serviços Públicos (Seconser), além de coletar dados sobre quantidade e espécies hoje plantadas em ruas e praças, também fornece informações para a manutenção e reposição de exemplares. Um dos objetivos é evitar acidentes, às vezes fatais, especialmente durante chuvas fortes. A cidade hoje apresenta uma das menores taxas de queda de árvores em todo o estado.

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A arborização urbana não é apenas uma questão de paisagismo. Para além da beleza, as árvores proporcionam conforto térmico e acústico em contraste ao calor do concreto e do asfalto. Também ajudam a evitar enchentes, protegem os cursos d'água e tornam o ambiente urbano menos inóspito e mais agradável. Mas podem se transformar em um grande problema quando plantadas aleatoriamente em locais inapropriados, ou quando as espécies utilizadas não são adequadas a ruas e avenidas.


É o caso das amendoeiras, sombreiros e figueiras. De crescimento rápido e boa sombra, essas espécies foram amplamente usadas na arborização de Niterói no passado. Os flamboyants, da mesma forma, pela beleza das flores. Enquanto as primeiras entopem os bueiros com a profusão de folhas perdidas ao longo do ano e possuem raízes que quebram calçadas e muros; as outras, apesar do espetáculo de cores, são frágeis e campeãs de quedas.


Aos poucos, elas estão sendo substituídas por espécies nativas de Mata Atlântica mais resistentes, que melhor se adaptam ao meio urbano, se integram às matas que cercam a cidade atraindo a avifauna local, e também embelezam o cenário com suas formas e florações.


"As árvores não podem ser um castigo para os moradores", pondera Alexandre Moraes da Silva, biólogo da Seconser que coordena o Arboribus. "Em determinada época houve um 'boom' de flamboyants e Ficus na cidade, e foram plantados em calçadas. Agora temos que cuidar deles, ou substituí-los quando apresentam problemas", conta.


Ele cita o caso das imensas figueiras da Vila Progresso, em Pendotiba, que foram retiradas da 'Rua das Árvores' e deram lugar a 29 ipês com diferentes floradas, que já alcançam cinco metros de altura. Essas árvores do gênero Ficus, segundo relata, foram plantadas na calçada e causavam transtornos com o crescimento excessivo de raízes, rachaduras em muros e queda de galhos sobre carros e telhados. Além disso, várias delas foram envenenadas por pessoas da própria vizinhança que não queriam mais conviver com os riscos. Com a estrutura comprometida, representavam um perigo ainda maior.

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Polêmicas


Retiradas de árvores sempre geram opiniões contrárias e até protestos, a partir da ideia de um 'crime' contra a natureza. Mas há casos em que realmente a remoção é necessária. Alexandre explica que é feito um trabalho de conscientização dos moradores, e como compensação a prefeitura executa o plantio de novas espécies mais adequadas e saudáveis.


Foi assim na Região Oceânica, com as obras de urbanização da Estrada Francisco da Cruz Nunes para a implantação da via Transoceânica. Árvores doentes ou mesmo as saudáveis plantadas em locais perigosos, como embaixo da fiação elétrica, tiveram que ser removidas.


"Cerca de 500 árvores, amendoeiras e flamboyants na maioria, foram retiradas na RO. Para compensar, a prefeitura plantou 2.600 mudas de ipês, paus-brasis, aroeiras e sibipirunas, entre outras. Estamos realizando o manejo corretamente, substituindo as velhas e doentes por novas, e plantando uma média de 70 árvores nobres de Mata Atlânica por mês. Conversamos com os moradores antes de plantar uma árvore na calçada em frente a suas casas, e eles podem ou não aceitar a proposta. Oferecemos dez opções de espécies para eles escolherem. Ainda assim, temos respondido a uma série de protestos no Ministério Público contra a remoção de árvores, mas sempre com respaldo técnico para demonstrar a necessidade das medidas. Temos um comprometimento severo com a segurança do cidadão. Temos protocolos bem sustentados. Gosto muito de árvores, mas gosto mais de gente", defende.

O biólogo Alexandre Moraes em área replantada em Charitas / Arquivo Pessoal

Poda mal feita


A poda executada de maneira errada é um alto fator de risco para quedas. Esse tipo de 'mutilação' vinha ocorrendo com frequência na cidade, onde existe uma grande quantidade de árvores de grande porte plantada sob a fiação elétrica. Os funcionários da companhia de energia, nesse caso, são os responsáveis pelo corte dos galhos.


Antes, o serviço era realizado apenas com o objetivo de 'liberar' os cabos, sem levar em conta a estabilidade da estrutura arbórea, contribuindo para deixá-las inclinadas, sem sustentação. O número de quedas por conta disso já foi bem maior. Mas hoje, segundo o biólogo, existe uma parceria técnica entre a concessionária de energia, a Enel, e a prefeitura, no sentido de garantir o fornecimento de luz e, ao mesmo tempo, preservar a flora urbana.

Queda de flamboyant na Região Oceânica / Foto: Mehane Albuquerque

"O manual de poda da Enel é um dos mais completos que eu já vi. A companhia tem um corpo técnico qualificado, inclusive um engenheiro agrônomo só para coordenar essa parte. A secretaria municipal de Meio Ambiente também oferece aulas práticas de poda de árvores aos funcionários", informa ele.


Os flamboyants da avenida Presidente Roosevelt, em São Francisco, famosos pelo colorido em diferentes tons de laranja e vermelho quando estão em flor, servem como exemplo dos sucessivos cortes feitos pelas empresas de energia, sem qualquer critério técnico. São árvores muito antigas, algumas com mais de 60 anos, e várias delas pendiam para um único lado. A via sempre foi um dos locais com grande índice de quedas em chuvas e temporais.


Aos poucos, segundo o biólogo, elas estão sendo substituídas por outras de menor porte, arbustivas, cujos galhos não alcançarão a fiação aérea. Ele conta que a poda acelera o envelhecimento das árvores. As que ainda podem ser mantidas e não oferecem perigo, continuarão monitoradas e cuidadas pela Seconser.


"É um serviço que nunca termina. A revegetação de uma cidade não se esgota. Niterói tem avançado muito na conservação da flora urbana nos últimos anos", observa Alexandre.


Projeto Arboribus


Desde 2014 a Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (Seconser) realiza um censo para contabilizar e identificar a flora urbana da cidade. O Projeto Arboribus ganhou um fôlego extra em 2019, com o apoio do então vice e agora prefeito Axel Grael, que é engenheiro florestal e engajado nas causas ambientais.

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Até abril desse ano, a equipe do Arboribus cadastrou 23.771 mil árvores nas vias públicas e praças, em 29 bairros, mapeando mais de 50% de toda a área urbana de Niterói. Cada árvore é rigorosamente avaliada, sendo observadas suas características e interações com o meio urbano. A ideia é mapear todos os exemplares nos logradouros do município.


“Os dados levantados são processados e convertidos ao formato do banco de dados específico da Prefeitura de Niterói, no Sistema de Gestão da Geoinformação (SIGeo). Também entram no cadastro informações como dimensões, copa e altura das árvores. Com estes dados, temos a classificação geral. As informações levantadas permitem enxergar um parâmetro geral de arborização, tanto em nível de diversidade quanto para interação da população com a vida arbórea da cidade”, explica a secretária municipal de Conservação e Serviços Públicos, Dayse Monassa.


As árvores novas e jovens também são citadas. Assim, não só é possível saber onde estão, mas como estão se desenvolvendo. A secretária enfatiza, ainda, que dentro do conjunto de características que a árvore apresenta, cada uma vai sendo classificada ainda quanto ao risco de acidentes.

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A base das informações se dá através de vistorias no local feitas pelas equipes. Cada árvore classificada como urgência, por exemplo, é abrangida pelo programa de protocolo de segurança, que age de forma rápida e precisa evitando acidentes e perdas para a cidade.


O levantamento do Arboribus se tornou um banco de dados das atividades realizadas pela Seconser. Desta forma, todos serviços executados pelo setor são registrados diariamente. Com essa informação, cada árvore já catalogada no SIGeo é atualizada referente ao manejo recebido. Para ter acesso ao Geoportal com as árvores catalogadas, basta acessar o site.


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