Fluminense é campeão da Taça Rio e prorroga o término do "Coronão"
Tricolor das Laranjeiras supera o Flamengo nos pênaltis, em jogo marcado por altos e baixos fora e dentro de campo. Equipes vão se encontrar em mais dois jogos para decidir o campeonato
Edu Gomes
Na noite de ontem (8), Fluminense e Flamengo entraram em campo para decidirem a Taça Rio do "Coronão", apelido dado ao Campeonato Carioca que, de forma irresponsável teve seu retorno antecipado pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) no mês passado.
De um lado estava o tricolor das Laranjeiras, que não tinha ainda ganho nenhum jogo (nem feito gols) desde seu retorno à competição, além de ter tido um tempo mais curto para a preparação, considerando que, junto do Botafogo, se manteve contrário a essa volta do Carioca nesse momento difícil. De outro o Flamengo, considerada a melhor equipe do Brasil, tal como da América do Sul. Atual campeão do Brasileirão e da Libertadores, o clube havia se colocado como favorável ao retorno do torneio, tal como voltado aos treinamentos mais de um mês antes de seu adversário na final.
Em jogo, a continuidade do campeonato: se o Flamengo fosse o campeão da Taça Rio, seria também declarado campeão carioca, já que venceu a Taça Guanabara, o primeiro turno da competição. Já se o Flu vencesse o confronto de ontem, forçaria a realização de uma final entre as equipes, em dois jogos, para assim decidirem quem será o campeão do Carioca (ou "Coronão") 2020.
O jogo já começou antes mesmo da bola rolar. Após não chegarem a um acordo pelos direitos de transmissão com a Rede Globo (então detentora dos mesmos no Campeonato Carioca), o Flamengo foi à Brasília, representado por seu presidente Rodolfo Landim, buscar uma alternativa para essa situação. E o dirigente contou com o apoio de Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, que efetivou a Medida Provisória (MP) 984. De forma sintetizada, a mesma determina que: o clube mandante, quando não estiver com contrato de transmissão em vigor, se torna responsável pela transmissão e divulgação de sua partida. Assim, de acordo com a MP, o mandante do jogo poderia não só transmitir seus jogos, como também vendê-los individualmente para a empresa que bem entendesse. Essa jogada, que pode a longo prazo representar uma grande mudança em relação às transmissões de jogos de futebol no Brasil, em um espaço curto, representou na verdade uma tentativa do governo federal e do Clube de Regatas do Flamengo, de "atacarem" o monopólio antes mantido pela Globo. Obviamente, pelo lado rubro-negro, buscando estabelecer maiores lucros com transmissões próprias. Foi com esse objetivo que o clube transmitiu os jogos contra o Boavista e Volta Redonda por sua Tv no YouTube, a FlaTV.
Entretanto, a briga extracampo de ontem começou quando, de acordo com o regulamento da competição, o Fluminense ganhou o sorteio e foi declarado mandante na final da Taça Rio. Sim, em regulamento assinado e acordado previamente entre federação e todos os clubes (incluindo o Flamengo), ficou decidido que a final da Taça Rio teria o mandante escolhido por sorteio. Como o Fluminense possuía contrato com a Rede Globo, poderia ter seu jogo televisionado normalmente. Acontece que, alegando ter ocorrido uma quebra contratual (após a iniciativa do Flamengo de transmitir seus jogos via YouTube, depois da aprovação da MP), a Rede Globo optou por abrir mão da transmissão da final e, assim, buscou rescindir o contrato com a federação (mesmo mantendo todos os pagamentos). A Ferj, entretanto, continuou entendendo que a Globo seria a detentora dos direitos da transmissão. Porém, não mais interessada na referida transmissão, a empresa de comunicação autorizou que o Fluminense fizesse a partida pela FluTV. Não deixava de ser, também, uma forma de "revidar" contra o Flamengo, nessa queda de braço travada. E como o Flu possuía o mando de campo, definido por sorteio, só a equipe teria esse direito de transmitir a partida, de acordo com a própria MP que a diretoria do Flamengo forçou a barra para ser aprovada.
Pois bem, acontece que a diretoria do rubro-negro, contradizendo a MP que idealizou, buscou também transmitir o jogo em seu canal. Primeiramente, tentou, sem sucesso, um acordo com o Fluminense, que não aceitou e manteve seu posicionamento de transmitir a partida de forma exclusiva. Depois, o Flamengo até conseguiu uma liminar judicial que autorizava o clube para tal transmissão, derrubada em torno de uma hora antes do jogo. O Fluminense já anunciava, inclusive, ir à justiça posteriormente, se por ventura o Flamengo transmitisse o jogo de fato. Porém, depois de pressões sofridas por grande parte de sua própria torcida nas redes sociais, a diretoria do rubro-negro recuou e, ontem por volta das 19h, anunciou que transmitiria o jogo em seu canal apenas por áudio. Uma confusão só que, considerando o turbulento retorno do campeonato em momento tão impróprio, já era anunciada.
No jogo em si, com estádio vazio e transmitido com imagens apenas pela FluTV, os clubes fizeram uma partida disputada, mas com nível técnico baixo. O Flamengo não conseguiu impor seu ritmo de passes e posse de bola, tendo terminado o primeiro tempo empatado nesse quesito com o tricolor. Os cérebros do time, como Éverton Ribeiro e Arrascaeta, não estavam bem. Bruno Henrique, que de forma estranha ficou "preso" no meio dos zagueiros tricolores, e Gabigol, que até tentou, sem sucesso, sair para buscar mais o jogo, também estavam apagados. Com isso, o jogo começou com algumas tentativas de pressão tricolor nos primeiros 15 minutos, comandados no meio de campo pelo experiente Nenê.
Na sequência, quando o Flamengo começou a avançar com seus laterais, Rafinha e Felipe Luís, o tricolor aproveitou para explorar os "buracos" deixados e, assim, também subir com seus jogadores nessas posições. Tanto Gilberto pela direita, quanto Egídio pela esquerda, subiram pelas costas dos laterais rubro-negros que já estavam como alas. Ofensivamente, Rafinha e Felipe Luís colaboravam para a criação das melhores jogadas do Flamengo. Nessas subidas, Arão ficava como um líbero entre Rodrigo Caio e Léo Pereira, formando uma espécie de "3-5-2" no time rubro-negro. Entretanto, em uma dessas jogadas de contra-ataque do Fluminense, Egídio disparou pela esquerda e conseguiu, nas costas de Rafinha, criar um bom lance que quase resultou em gol. Na sequência, cruzou para, com desvio de Marcos Paulo, Gilberto abrir o placar para o Fluminense. Eram os laterais tricolores decidindo o jogo nas costas dos laterais rubro-negros.
Depois do gol, o Flamengo passou a ter mais volume de jogo, mas esbarrava na forte marcação e no congestionamento gerado pelos jogadores tricolores, que muitas das vezes ficavam com seus onze atletas no campo de defesa. No segundo tempo, Jorge Jesus modificou o time, colocando Michael e Pedro. Idealizou um 4-2-4, no melhor modelo anos 1960, tentando resolver a partida dentro dos 90 minutos. Para isso, tirou seus dois cérebros no meio, mas que não vinham conseguindo criar muito: Éverton Ribeiro e Arrascaeta. A tentativa do Mister era de resolver a partida sem a necessidade dos pênaltis. Mal sabia ele que a saída de dois de seus principais batedores, poderia ser fatal.
O esquema até pareceu que daria certo, quando logo em seu primeiro lance Pedro aproveitou um cruzamento da esquerda e empatou o jogo. Depois, entretanto, o Fluminense fez o jogo que queria e podia: se defendeu e tentou avançar nos contra-ataques. E o Flamengo, mesmo depois da entrada dos descansados Diego e Vitinho, não conseguiu resolver a partida. Fomos para os pênaltis.
Nas cobranças, sem Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Gérson e Bruno Henrique (esse últimos também foram substituídos para as entradas de Diego e Vitinho, respectivamente), ficava claro que o time de Jorge Jesus não ia com sua "força máxima" para a disputa. O camisa 10 rubro-negro, Diego, nem foi relacionado para as cobranças, já que ficou marcado na história recente do clube por perder pênaltis em decisões importantes. Mas ainda sim, o rubro-negro tinha muita qualidade dentre seus batedores e um goleiro pegador de penalidades, Diego Alves, famoso por defender cobranças, nada mais nada menos, de nomes como Messi e Cristiano Ronaldo, em seus tempos de Espanha.
Mas na hora do vamos ver, valeu também a estrela do outro goleiro da noite, Muriel, que estava no lado tricolor. Inspirado pelo irmão Alisson, hoje titular da seleção brasileira e do Liverpool da Inglaterra, sendo considerado por muitos como o melhor do mundo na posição, Muriel, que sofre com altos e baixos no Flu, fez valer o nome da família e defendeu duas cobranças, de Willian Arão e Rafinha. Como Léo Pereira também perdeu sua cobrança, batendo para fora, o Flu foi declarado campeão da Taça Rio ao vencer a disputa por 3x2, já que pelo seu lado Dodi e Michel Araújo também desperdiçaram suas chances.
Esse foi o quarto título da história do Fluminense na Taça Rio. Agora, o tricolor poderá decidir o Carioca contra o próprio Flamengo. Se for campeão, chegará a seu 32º título carioca, buscando recuperar a hegemonia perdida para o Flamengo na década passada. Enquanto isso, o rubro-negro busca sua 36ª conquista para, assim, se distanciar ainda mais na lista de maiores campeões do estadual.
Considerando os interesses da Prefeitura do Rio, onde o prefeito Marcelo Crivella já autorizou possíveis jogos com torcida a partir de 10 de julho, sabemos que a confusão do "Coronão" vai continuar nas finais, ainda em meio a um cenário extremamente tenso de pandemia. No jogo em si, o Flamengo continua sendo o grande favorito da disputa, já que possui, inegavelmente, um melhor time e elenco, tal como se encontra melhor preparado. Porém, depois de ontem, é válido relembrar aquela máxima que sempre diz: "clássico é clássico".
Seguimos acompanhando. E abaixo a ficha técnica da partida de ontem no Maracanã:
FICHA TÉCNICA DA PARTIDA:
CAMPEONATO CARIOCA - FINAL DA TAÇA RIO
ESTÁDIO JORNALISTA MARIO FILHO (MARACANÃ)
Fluminense 1(3) x 1(2) Flamengo
FLUMINENSE: Muriel; Gilberto (Michel Araujo), Matheus Ferraz, Nino e Egídio; Hudson, Dodi, Yago Felipe (Yuri) e Nenê; Marcos Paulo (Caio Paulista) e Evanilson (Fernando Pacheco). Técnico: Odair Hellmann.
FLAMENGO: Diego Alves; Rafinha, Rodrigo Caio, Léo Pereira e Filipe Luis; William Arão, Gerson (Diego), Everton Ribeiro (Michael), Arrascaeta (Pedro), Bruno Henrique (Vitinho) e Gabigol. Técnico: Jorge Jesus
ÁRBITRO: Bruno Arleu de Araújo ASSISTENTE 01: Rodrigo Figueiredo Corrêa ASSISTENTE 02: Thiago Henrique Neto Farinha ÁRBITRO VAR: Rodrigo Nunes de Sá
GOLS: Gilberto (Fluminense) aos 38 minutos do primeiro tempo e Pedro (Flamengo) aos 31 minutos do segundo tempo.
AMARELOS: Nenê (Flu), Gilberto (Flu), Filipe Luis (Fla), Rafinha (Fla), Leo Pereira (Fla)
PÊNALTIS
FLUMINENSE
Nenê – Gol
Dodi – Perdeu
Hudson – Gol
Michel Araujo – Perdeu
Pacheco – Gol
FLAMENGO
Gabriel – Gol
Arão – Perdeu
Leo Pereira – Perdeu
Pedro – Gol
Rafinha – Perdeu
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