Frota protocola pedido de CPI para investigar facada

O deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) protocolou nesta segunda-feira (13) pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as suspeitas levantadas pelo documentário "Bolsonaro e Adélio - uma facada no coração do Brasil" de que o atentado, às vésperas das eleições de 2018, teria sido uma farsa. Frota disse ter tomado a decisão depois de assistir ao documentário do jornalista Joaquim de Carvalho, publicado no portal Brasil 247. “Hoje eu tenho noção do quanto muitas coisas não estão explicadas”, disse o parlamentar, ex-aliado de primeira hora de Jair Bolsonaro.
“Bolsonaro tinha 8 segundos de televisão e passou a ter 24 horas […]. Foi na facada que ele ganhou as eleições”, disse o deputado.
“Tudo leva a crer que o Bolsonaro tinha um problema sério no intestino e ele aproveitou dessa situação, criou esse fato e com isso ele venceu as eleições.”
Frota também questionou a prisão de Adélio não ser em local específico para tratamento psiquiátrico. “Por que Bolsonaro aceitou tão facilmente que Adélio agiu sozinho? Espero que Arthur Lira (PP) [presidente da Câmara dos Deputados] não aja a favor de Bolsonaro, como tem feito”, disse nesta segunda-feira, em entrevista ao portal Poder360.
Adélio Bispo foi absolvido do crime por ser considerado inimputável, ou seja, incapaz de responder pelos atos que praticou. Por isso, sua pena foi convertida em internação psiquiátrica por tempo indeterminado. Ele cumpre a sentença na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS) desde 2018.
Revelações dos bastidores
Também nesta segunda-feira, o repórter investigativo Joaquim de Carvalho fez novas revelações dos bastidores do documentário, e afirmou que "o inquérito sobre a facada precisa ser reaberto, já que há indícios fortíssimos de que houve fraude. A Polícia Federal não considerou a hipótese plausível de que ocorreu em Juiz de Fora um auto atentado, uma armação para interferir na campanha eleitoral".
Carvalho destaca que sua "primeira surpresa foi descobrir que a faca apresentada como o instrumento do crime tinha percorrido um caminho tortuoso naquele 6 de setembro de 2018 antes de chegar à mesa do delegado Rodrigo Morais, e de ser encaminhada para a perícia". Segundo o repórter, a faca não foi apreendida com Adélio, "mas entregue à Polícia Federal por um PM do serviço reservado e por um paramédico vinculado a uma rede de militares e de seguranças que compunham uma espécie de célula bolsonarista na cidade, um troço bem esquisito".
"Os peritos não encontraram as digitais de Adélio na faca - nem nenhuma outra; a conclusão dos investigadores é que ela tinha sido tocada por muita gente e, portanto, havia digitais sobrepostas, o que não permitiu identificar nenhuma delas", relata.
Furos e segredos
O documentário, de uma hora e 44 minutos, demonstra todos os furos do episódio com as várias inconsistências da história oficial contada desde então. Demonstra, por exemplo, como Adélio Bispo era um militante que concordava com as pregações ideológicas de Jair Bolsonaro - portanto, ideias bem distintas do PSOL, partido ao qual chegou a se filiar. Demonstra também como Adélio esteve no mesmo local em que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) esteve dois meses antes do episódio. Revela ainda que Adélio foi filiado ao PSD (partido conservador, com vários aliados a Bolsonaro) - informação importante que teria sido mantido em sigilo até então. Revela também como os seguranças de Jair Bolsonaro protegeram Adélio e, mesmo com as supostas falhas na segurança que resultaram no atentado, foram promovidos a cargos importantes depois que Bolsonaro assumiu a Presidência. O documentário também narra como os prontuários médicos foram escondidos e como o caso, que teve Bolsonaro como único beneficiado na campanha eleitoral, foi usado como arma de propaganda para elegê-lo.