Fundo russo da Sputnik V chama Anvisa de mentirosa

O Fundo Russo de Investimentos Diretos (RFPI, na sigla em russo) acredita que a decisão da Anvisa de não aprovar a importação da vacina russa contra Covid-19 seja uma decisão política. De acordo com Kirill Dmitriev, diretor do fundo que financiou o desenvolvimento da vacina russa, pode ter havido pressão externa "para não deixar a Sputnik entrar no país" e chamou a Anvisa de antiprofissional e mentirosa ao divulgar, segundo ele, informações falsas sobre a Sputnik".
"A decisão da Anvisa de adiar o registro da Sputnik V pode ser motivada politicamente. Isso é confirmado pelos dados do relatório da vacina russa", enfatizou o diretor do RFPI, ressaltando ainda que "o que vem pedindo [a Anvisa] de documentos para nós é bem maior e diferente do que ela pede para outros órgãos reguladores e produtores de vacinas". E ainda acrescentou: "É muita injustiça e falta de profissionalismo da Anvisa lançar luz de incertezas contra o trabalho de outras 63 agências reguladoras que aprovaram nossa vacina".
De acordo com o diretor do Centro Nacional de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, Aleksandr Gintsburg, a Anvisa não solicitou visita ao local de fabricação da vacina russa, lembrando que o centro não nega isso a ninguém, mas há regras.
"A agência reguladora do Brasil [Anvisa] não me solicitou [a visita] na qualidade de diretor do centro, isso posso dizer com certeza. O regulador argentino nos contatou e já os recebemos diversas vezes. Não negamos o acesso a ninguém, mas há determinadas regras, estas visitas são coordenadas com o Ministério da Saúde da Rússia", afirmou Gintsburg.
Gintsburg disse acreditar que o motivo da agência decidir pela não autorização da vacina possa estar ligado às pressões políticas exercidas pelos Estados Unidos. “A decisão da Anvisa de adiar o registro da Sputnik V pode ser motivada politicamente. Isso é confirmado pelos dados do relatório do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos de 2020, que fala abertamente dos esforços do departamento de pressionar as autoridades brasileiras e forçá-las a recusar a compra da vacina russa”, destacou.
As declarações de Dmitriev e Gintsburg foram dadas nesta terça-feira (27) em uma entrevista coletiva global, um dia após a decisão da Anvisa.
Na segunda-feira (26), a Anvisa decidiu não recomendar a importação excepcional e temporária da vacina russa Sputnik V. A análise dos diretores justificou o posicionamento alegando falta de dados e risco de doenças por falhas na fabricação.
O pedido de importação da vacina russa foi feio por governadores de dez estados e inclui contratos de aquisição do imunizante por diversos municípios, dentre os quais Rio de Janeiro, Niterói e Macaé.
A vacina russa Sputnik V contra a Covid-19 foi o primeiro imunizante contra o novo coronavírus a ser registrado, ainda em agosto de 2020. De acordo com resultados de estudos clínicos publicados em fevereiro na revista médica The Lancet, a Sputnik V tem eficácia de 91,6%.
Dados da inoculação de 3,8 milhões de pessoas na Rússia mostram que a eficácia da Sputnik V é de 97,6%.
Até agora o imunizante já foi aprovado em 62 países, além da Rússia, sendo a segunda vacina mais aprovada por órgãos sanitários no mundo. Diversos países da América do Sul, como Argentina, Bolívia, Venezuela e Paraguai, já aprovaram o imunizante, além do México.
A Anvisa questiona impactos na segurança da Sputnik V com a presença de adenovírus replicante, considerado pelos técnicos da agência brasileira como "uma não conformidade grave".
Já o diretor do Fundo Russo afirma que a Anvisa "não solicitou dados sobre o assunto". Dimtriev ainda justificou que a Sputnik passa por quatro sistemas de filtração, o que a deixa com alto grau de pureza ao final do processo. “Nossos ensaios clínicos foram feitos em cinco países, incluindo a Índia. Algumas vacinas aprovadas no Brasil não receberam esse selo no munto", disse aos jornalistas.
Com informações da Sputnik