Garimpo ilegal e coronelismo, além de dinheiro na bunda

Os R$ 33 mil encontrados por policias federais escondidos nas partes íntimas do senador Chico Rodrigues (DEM-RR) seriam apenas a ponta de um "iceberg" de desmandos do parlamentar e influência nos governos.
Mensagens trocadas entre o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) e um delator do esquema de desvios de dinheiro na área de Saúde obtidas pela Polícia Federal (PF) sugerem que o parlamentar armou para derrubar o ex-secretário de Saúde, Allan Garcês. O antigo chefe da pasta deixou o cargo em maio deste ano, refletindo a prática de coronelismo do parlamentar roraimense.
A saída de Garcês se deu um dia depois que ele anunciou que iria exonerar o seu adjunto Francisco Monteiro Neto, que foi definido nas trocas de mensagens como alguém que "está dando total apoio" a Chico Rodrigues.
"Parabéns pela articulação pela continuidade do Secretário Monteiro. Agiu certo no momento correto. Os servidores da Sesau (Secretária de Saúde) sabem que o senhor teve peso nesse momento", escreveu o delator Francisvaldo de Melo Paixão em mensagem enviada a Rodrigues.
Além das mensagens, a PF ainda encontrou um fluxograma relacionado à mudança de comando na Secretaria de Saúde e a compra de respiradores. O documento tinha um valor de "1.800.000" circulado e com setas apontando para ele. A aquisição dos equipamentos que foram comprados por esse valor leveriam à queda de Allan Garcês.
No dia seguinte, quem foi exonerado foi o próprio Garcês e Monteiro Neto foi quem assumiu a cadeira de secretário de Saúde.
Francisco Monteiro Neto permaneceu na chefia da Secretária de Saúde até o início de maio, quando foi exonerado pelo governador Antonio Denarium (PSL). Sua saída ocorreu na esteira da polêmica aquisição de 30 respiradores em valor que supera R$ 6 milhões – o montante foi pago antes mesmo dos equipamentos serem recebidos pelo governo.
"Mister se faz salientar que a influência exercida pelo senador Chico Rodrigues dentro da SESAU teria sido tão grande que, um dia depois que Francisvaldo o procura para pedir ajuda com a exoneração de Francisco Monteiro, o então Secretário de Saúde, Allan Quadros Garcês, foi exonerado e, em seu lugar, assumiu Francisco Monteiro Neto", apontou a PF.
Segundo a corporação, diálogos entre Francisvaldo e Chico Rodrigues apontam para "fortes indícios de que este parlamentar teria grande influência no governo de Roraima".
As informações são do jornal O Estado de São Paulo .
Garimpo ilegal
Durante a operação na casa do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), a Polícia Federal apreendeu uma pedra suspeita de ser uma pepita de ouro. A PF não informou o tamanho do objeto dourado, mas a informação sobre a apreensão da pedra consta no relatório da ação , que foi enviado ao Supremo Tribunal Federal ( STF ) e só teve o sigilo retirado nesta quarta-feira (21).
Segundo as informações da PF, a pedra foi recolhida pelo fato de existirem muitos garimpos ilegais a região. O caso foi revelado pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e confirmado pela TV Globo. Conforme os policiais, a pedra apreendida, supostamente caracterizada como pepita de ouro, foi encontrada no cofre do quarto de Rodrigues . O material deve passar pela perícia para comprovar se é, de fato, ouro.
"Tendo em vista que o estado de Roraima possui um número elevado de garimpos ilegais e ouro e que o material encontrado possui um brilho dourado, é possível que esta teria/se trate de uma pedra com vestígios de ouro, o que, por si só, já restaria configurado crime de usurpação de bem da União. Portanto, sugere-se a apreensão", escreveu a PF.
Armas e munições "do filho"
Na casa do senador, a Polícia Federal também apreendeu armas, como um revólver Taurus 38 Special, seis munições avulsas para a arma e duas caixas de munições de espingarda calibres 20 e 36.
Segundo o relatório, Chico Rodrigues foi questionado sobre as armas e munições de calibres diversos. Inicialmente, ele teria dito que pertenciam a Pedro Arthur Rodrigues, mas, depois, mudou a versão e afirmou serem suas.
A PF registrou, ainda, que encontrou no celular do filho do senador que ele faz parte de um grupo de caçadores e atiradores.
Emendas parlamentares e 'gestor paralelo'
O sigilo do inquérito que investiga o ex-líder do governo, que tinha "quase uma união estável" com o presidente Jair Bolsonaro, foi levantado nesta quarta-feira (21) pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).
No relatório da PF fica claro que o senador atuava como se fosse um "gestor paralelo" da Secretaria de Saúde de Roraima, cobrando a liberação do dinheiro de emendas parlamentares para o pagamento a empresas investigadas no esquema. O senador recebeu R$ 15,6 milhões em emendas parlamentares só neste ano. As emendas são também uma das maiores fontes de desvios de recursos públicos utilizadas por políticos corruptos conforme identificou a Força-Tarefa Lava Jato.