Governo escolhe novo presidente da Caixa após assédio sexual
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Governo escolhe novo presidente da Caixa após assédio sexual


(Foto: Isac Nóbrega/PR)

Após o presidente da Caixa Econômica Pedro Guimarães ser alvo de acusações de assédio sexual relatadas por funcionárias, o Palácio do Planalto decidiu mudar a chefia do banco e escolheu Daniella Marques, secretária especial do Ministério da Economia, para ocupar o cargo, segundo informação da Folha de São Paulo.

A decisão ocorreu em uma reunião na manhã desta quarta-feira (29). A indicação de Marques também tem um toque de intenção eleitoral, a partir do momento que o público feminino é o que mais demonstra resistência a votar em Jair Bolsonaro (PL) no pleito deste ano. São raros os cargos de primeiro ou segundo escalões ocupados por mulheres no governo Bolsonaro.

Mesmo sabendo de sua situação insustentável, Guimarães ainda decidiu participar de um evento da Caixa na manhã desta quarta-feira. Até aliados do presidente queriam sua saída. No fim da tarde, ele anunciou o pedido de demissão, através de uma carta pública, chamando de "perversidades" as acusações de assédio sexual feitas por funcionárias do banco (veja a íntegra da carta no final da matéria).

De acordo com a Folha, as acusações reveladas afirmam que ao menos cinco funcionárias dizem ter sido vítimas de assédio sexual por parte de Guimarães. Em um dos relatos, uma delas diz que uma pessoa ligada ao presidente do banco perguntou o que faria "se o presidente" quisesse "transar com você?".

Uma funcionária da Caixa ouvida pela reportagem também relatou que foi assediada por Guimarães. Ela declarou ter sido puxada pelo pescoço e ter ficado em choque após o episódio.

"Aí quando fui sair, ele me puxou pelo pescoço e disse: 'Estou com muita vontade de você'. Saí da sala, em choque e chorando. Depois, em outro momento, ele já passou a mão pela minha cintura e foi abaixando, mas saí antes que piorasse", contou a funcionária sob condição de anonimato.

Falando para a TV Globo, outra funcionária relatou um dos episódios que sofreu de Guimarães.

"Eu considero um assédio. Foi em mais de uma ocasião. Ele tem por hábito chamar grupo de empregados para jantar com ele. Ele paga vinho para esses empregados. Não me senti confortável, mas, ao mesmo tempo, não me senti na condição de me negar a aceitar uma taça de vinho. E depois disso ele pediu que eu levasse até o quarto dele à noite um carregador de celular e ele estava com as vestes inadequadas, estava vestido de uma maneira muito informal de cueca samba canção. Quando cheguei pra entregar, ele deu um passo para trás me convidando para entrar no quarto. Eu me senti muito invadida, muito desrespeitada como mulher e como alguém que estava ali para fazer um trabalho. Já tinha falado que não era apropriado me chamar para ir ao quarto dele tão tarde e ainda me receber daquela forma. Me senti humilhada".

De acordo com o Globo, duas testemunhas disseram que o comando da instituição sabia dos abusos e acobertou casos até com promoções internas ou retaliações. Um dos casos envolveu um vice-presidente da Caixa, que é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF). Ele sugeriu que uma funcionária trocasse de roupa e fosse para a piscina do hotel se encontrar com Pedro Guimarães.

Segundo a testemunha, chegando lá, esse vice-presidente teria perguntado se a vítima gostaria de "entrar para o círculo de confiança" e teria dito ainda se ela quisesse transar com ele seria "tranquilo", se ela "quisesse transar com o presidente seria tranquilo também" e "se quisesse subir agora para o quarto do presidente e transar com os dois, tudo bem", "porque confiança é isso".

Abalada e chorando, a vítima relatou o episódio à Vice-Presidência de Pessoas para ser orientada. Pouco tempo depois, o tal vice-presidente e Pedro Guimarães teriam oferecido um pedido de desculpas e uma promoção de cargo - investida que foi interpretada como uma forma de abafar o escândalo.

Os primeiros casos chegaram aos canais de denúncia do banco ainda em 2019, quando Guimarães assumiu a presidência, e que além de pressionar subordinados que testemunhavam os casos com demissão, o ainda atual chefe usava o fato de ser um dos integrantes do governo mais próximos a Jair Bolsonaro para garantir o silêncio dentro do banco.

No primeiro trimestre deste ano, o banco teve um lucro líquido contábil consolidado de R$ 2,5 bilhões, o que representa uma queda de 44,5% na comparação com os três primeiros meses do ano passado, quando chegou a R$ 4,6 bilhões.

Fenae: 'É crime'

A Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) se manifestou com indignação frente aos relatos de denúncias. Para a Fenae, os fatos - em processo de investigação pelo Ministério Público Federal - são gravíssimos e devem ser apurados com urgência e rigor.

“A Fenae se solidariza e está à disposição de todas as trabalhadoras que fizeram a denúncia. Esse caso é estarrecedor e, por isso, Pedro Guimarães deve ser afastado”, afirma o presidente da Federação, Sergio Takemoto. “As empregadas e os empregados da Caixa, que tanto contribuem para a construção dessa empresa, merecem respeito. Não toleramos qualquer violência contra as mulheres”, ressalta Takemoto.

O coordenador da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa) e diretor de Administração e Finanças da Fenae, Clotário Cardoso, destaca que a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) tem instrumentos que protegem o trabalhador que sofreu assédios. Ele também cobra respeito aos empregados da instituição centenária, que é a Caixa.

“Assédio é crime. Os fatos são gravíssimos e devem ser apurados imediatamente. É imprescindível o afastamento de Pedro Guimarães diante das acusações”, defende Cardoso.

A carta de demissão

Leia a íntegra da carta de demissão de Pedro Guimarães:

“À população brasileira e, em especial, aos colaboradores e clientes da CAIXA:

A partir de uma avalanche de notícias e informações equivocadas, minha esposa, meus dois filhos, meu casamento de 18 anos e eu fomos atingidos por diversas acusações feitas antes que se possa contrapor um mínimo de argumentos de defesa. É uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade.

Foi indicada a existência de um inquérito sigiloso instaurado no Ministério Público Federal, objetivando apurar denúncias de casos de assédio sexual, no qual eu seria supostamente investigado. Diante do conteúdo das acusações pessoais, graves e que atingem diretamente a minha imagem, além da de minha família, venho a público me manifestar.

Ao longo dos últimos anos, desde a assunção da Presidência da CAIXA, tenho me dedicado ao desenvolvimento de um trabalho de gestão que prima pela garantia da igualdade de gêneros, tendo como um de seus principais pilares o reconhecimento da relevância da liderança feminina em todos os níveis da empresa, buscando o desenvolvimento de relações respeitosas no ambiente de trabalho e por meio de meritocracia.

Como resultados diretos, além das muitas premiações recebidas, a CAIXA foi certificada na 6ª edição do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), além também de ter recebido o selo de Melhor Empresa para Trabalhar em 2021 – Great Place To Work®️, por exigir de seus agentes e colaboradores, em todos os níveis, a observância dos pilares Credibilidade, Respeito, Imparcialidade e Orgulho.

Essas são apenas algumas das importantes conquistas realizadas nesse trabalho, sempre pautado pela visão do respeito, da igualdade, da regularidade e da meritocracia, buscando oferecer o melhor resultado para a sociedade brasileira em todas as nossas atividades.

Na atuação como Presidente da CAIXA, sempre me empenhei no combate a toda forma de assédio, repelindo toda e qualquer forma de violência, em quaisquer de suas possíveis configurações. A ascensão profissional sempre decorre, em minha forma de ver, da capacidade e do merecimento, e nunca como qualquer possibilidade de troca de favores ou de pagamento por qualquer vantagem que possa ser oferecida.

As acusações noticiadas não são verdadeiras! Repito: as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal. Tenho a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta.

Todavia, não posso prejudicar a instituição ou o governo sendo um alvo para o rancor político em um ano eleitoral. Se foi o propósito de colaborar que me fez aceitar o honroso desafio de presidir com integridade absoluta a CAIXA, é com o mesmo propósito de colaboração que tenho de me afastar neste momento para não esmorecer o acervo de realizações que não pertence a mim pessoalmente, pertence a toda a equipe que valorosamente pertence à CAIXA e também ao apoio de todos as horas que sempre recebi do Senhor Presidente da República, Jair Bolsonaro.

Junto-me à minha família para me defender das perversidades lançadas contra mim, com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram.

Por fim, registro a minha confiança de que a verdade prevalecerá.

Pedro Guimarães”


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