Indígenas do Equador culpam política neoliberal por crise na segurança
A principal organização indígena do Equador, a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), culpa as políticas neoliberais adotadas no país como a raiz da atual crise de segurança. Em nota, a organização diz que a crise é resultado de um problema estrutural, “originado pela radicalização de políticas neoliberais que têm destruído o Estado e suas instituições, deixando-as sem capacidade de resposta”.
O neoliberalismo é a doutrina político-ideológica que prega a máxima liberdade dos agentes econômicos e a mínima intervenção do Estado na economia, geralmente implementada por meio de privatizações, corte de gastos e investimentos públicos, desregulamentação trabalhista, entre outras medidas.
“Essas políticas também têm gerado mais desigualdade e pobreza, criando condições sociais propícias para o recrutamento de jovens por parte do crime”, afirma a Conaie, organização que liderou os últimos levantes populares contra medidas dos governos de Lenín Moreno, em 2019, e Guilherme Lasso, em 2022.
A confederação, fundada em 1986, reúne 53 organizações de base indígena, que somam 18 povos de 15 nacionalidades originárias do Equador.
Para os indígenas, a atual crise é agravada pela falta de liderança e de projeto político dos últimos governos. “Esses governos priorizaram suas agendas particulares para favorecer os grandes grupos econômicos, à custa da pobreza e do sofrimento da maioria da população”, destaca.
Para os indígenas organizados na Conaie, os criminosos têm se aproveitado da permissividade de autoridades nos últimos anos, “se infiltrando na maioria das entidades estatais e debilitando a institucionalidade encarregada da segurança pública. Os criminosos têm usado a estratégia de medo e caos para intimidar e submeter o povo equatoriano, que não tem recebido as garantias adequadas por parte de um Estado falido e reduzido”.
A Conaie faz ainda um chamado para que a população se mantenha ativa em guardas comunitárias, controlando o acesso a seus territórios. A organização acrescenta que é necessário construir a unidade nacional, com todos os setores da sociedade, que permita superar a atual crise.
“Além disso, exortamos o governo e a Assembleia Nacional a não usar a crise como desculpa para aprovar leis ou políticas antipopulares, que afetem a maioria da população, já que isso só agravará a situação e provocará uma reação popular em defesa dos direitos, em uma conjuntura que não foi provocada pelos povos, mas pelos governos falidos”, finaliza o comunicado oficial.
Crise de segurança
Grupos do crime organizado ligados ao tráfico de drogas têm provocado uma onda de sequestros e explosões no país desde terça-feira (9). Após a fuga de um presídio de uma liderança de uma das quadrilhas que atuam no país, tem ocorrido o sequestro de civis e policiais. Um telejornal chegou a ser invadido por criminosos enquanto estava no ar.
Em resposta, o presidente equatoriano Daniel Noboa decretou Estado de Emergência com toque de recolher, convocando as Forças Armadas para atuar contra os grupos criminosos.
Entenda
Daniel Noboa triunfou nas eleições presidenciais equatorianas em 15 de outubro de 2023, depois que o ex-presidente Guillermo Lasso dissolveu o Parlamento para evitar a votação final do seu processo de impeachment. Assim, foram convocadas eleições extraordinárias para os restantes períodos constitucionais que terminariam em 2025.
Eleito em outubro do ano passado com a promessa de combater o crime organizado e o tráfico de drogas, Daniel Noboa, de 36 anos, disse que iria acabar com os cartéis do país. Após uma série de tumultos nas prisões e a fuga de importantes líderes das quadrilhas criminosas que operam no Equador, ele decretou em 8 de janeiro estado de emergência por 60 dias para "recuperar o controle" dos centros penais que foram perdidos nos últimos anos.
A medida desencadeou uma onda de violência com queima de carros e detonações de explosivos nas ruas de diversas províncias, inclusive Quito, por grupos criminosos. Em 9 de janeiro, Noboa emitiu outro decreto no qual declarava um "conflito armado interno" como resultado da crise de segurança pública que assola o país e designava 20 grupos do crime organizado como "organizações terroristas".
Entre 2018 e 2022, a taxa de homicídios quadruplicou no país, quando mais de 7,8 mil homicídios foram registrados e 220 toneladas de drogas foram apreendidas, um recorde no Equador, que tem 17 milhões de habitantes. Desde fevereiro de 2021, confrontos entre detentos deixaram mais de 460 mortos, diante da falta de controle do governo sobre as próprias unidades prisionais.
Com Agência Brasil e Agência Sputnik
Posts Relacionados
Ver tudoEduardo Vasco “Israel” faz uma guerra genocida direta em duas frentes – Palestina e Líbano. Ambas chegaram, após extrema resistência de...
Comments