Internação compulsória divide candidatos no debate do g1
O candidato do PDT à Prefeitura de Niterói, Rodrigo Neves, preferiu não comparecer ao debate promovido pelo g1 nesta quinta-feira (29/8), para se preservar de notícias falsas e vídeos mal-intencionados. A ausência do ex-prefeito, informada à produção pouco antes do início do programa, fez com que os demais candidatos — preparados para enfrentar cara a cara o adversário que lidera com ampla margem as pesquisas de intenção de votos na cidade — tivessem que reposicionar a estratégia no último momento.
Os três participantes, Bruno Lessa (Podemos), Talíria Petrone (PSOL) e Carlos Jordy (PL), falaram sobre educação, saúde, segurança pública, meio ambiente, políticas sociais e direitos humanos, entre outros temas.
Posicionamentos polêmicos e mudança de tom
Foi um debate tranquilo, sem discussões, porém com discordâncias, e que serviu para reforçar posicionamentos polêmicos de alguns postulantes sobre temas mais sensíveis, como a internação compulsória de pessoas em situação de rua e viciados em drogas, proposta tanto por Bruno Lessa (Podemos) quanto por Caros Jordy (PL), e rejeitada por Talíria Petrone. A candidata do PSOL defendeu a ampliação da rede de atenção psicossocial, melhorias no serviço de atendimento à saúde mental e políticas públicas específicas de cuidado à população de rua.
Talíria Petrone e Carlos Jordy trocaram farpas sobre a questão da vacinação. A candidata do PSOL disse que o bolsonarista foi contra a imunização e negou a gravidade da doença. Jordy, por sua vez, adotando um discurso mais moderado, respondeu que foi contra fabricantes de vacinas na pandemia que não se responsabilizaram por efeitos colaterais e que, por isso, achava que deveria ser opcional. Ele afirmou que pretende vacinar em massa a população.
Talíria, então, rebateu. Lembrou que Jordy, à época, entrou na Justiça contra a vacinação obrigatória. Em outro momento, ela perguntou ao candidato do PL como trataria a Universidade Federal Fluminense, que tem importância estratégica em produção de conhecimento e tecnologia para o país, já que sempre atacou a universidade pública e defendeu a sua privatização. O candidato do PL desconversou, e mais uma vez, modulando o tom, afirmou que vai incluir a UFF em um plano de revitalização da indústria naval.
Bruno Lessa, por sua vez, criticou a proposta de campanha de Talíria de estender auxílio do Cartão Arariboia a migrantes e refugiados, dizendo que os recursos da Prefeitura para custear o benefício deveriam ser investidos em melhorias para a população de Niterói, e que a medida incentivaria a ida desses grupos para a cidade. Foi acusado de xenofobia por Talíria.
Veja os principais temas debatidos e a posição dos candidatos
Educação
- Talíria prometeu dobrar vagas de ensino em tempo integral, criar "Espaço Coruja" para cuidar de crianças de famílias que trabalham no turno noturno e um plano emergencial para garantir mil vagas em Cieps Cantagalo e Fonseca.
- Lessa pretende implementar o ensino integral em 50% das escolas. Também prometeu construir 21 unidades municipais de Educação Infantil (Umeis) e aumentar capacidade de contratação de vagas de ensino infantil privada.
- Jordy disse que vai incluir a Universidade Federal Fluminense (UFF) em um plano de revitalização da indústria naval, e estaleiros, além de oferta de ensino técnico.
Os candidatos criticaram o desempenho de Niterói no último Ideb, o índice nacional que avalia o nível da educação em cidades e estados.
População de rua
- Taliria se declarou contra a internação compulsória e disse que, se eleita, vai implementar o projeto Acolher, no qual a prefeitura pagaria metade do salário para pessoas em situação de rua contratadas, além de prover moradia e tarifa zero. Ela também disse que é a favor de cuidar do uso abusivo de drogas e álcool, problema que, segundo ela, atinge 17% da população de rua.
- Jordy disse que vai resolver essa questão no seu primeiro ano de prefeitura, se eleito. O candidato prometeu reinserção laboral para quem queira trabalhar e internação compulsória para tratamento. "Se fosse parente meu, eu ia querer que fosse tratado", disse.
- Lessa também disse que é a favor da internação involuntária: "Não feita de qualquer modo, mas a partir do CAPS AD com recomendação médica".
Transporte
- Lessa é contra a tarifa zero custeada por royalties do petróleo. "Dá para reduzir a tarifa enfrentando empresários e fazendo bilhetagem eletrônica", afirmou.
- Jordy disse que vai rever os contratos e buscar tarifa zero para beneficiários da Moeda Arariboia, devolvendo linhas de ônibus que foram retiradas.
Vacinas e saúde
- Lessa propôs zerar a fila por exame na rede municipal. "É inaceitável 8 meses para uma mamografia", afirmou. Também prometeu construir centro de imagem, outro de especialidades e, até que as obras fiquem prontas, "comprar vagas na rede particular". Afirmou que o combate à Covid foi ineficiente na cidade e que o Programa Médico de Família virou moeda de troca política.
- Jordy afirmou que também pretende fazer um centro de imagem e um centro especializado para autistas. Disse ainda que São Gonçalo tem três centros de atenção a pessoas do espectro autista, "enquanto Niterói não tem nenhum".
- Taliria propôs universalizar o programa Médico de Família, ampliar leitos em hospitais, criar um centro para tratamento de AVC e infarto e renovar o parque tecnológico das policlínicas.
Infraestrutura e segurança
- Lessa prometeu acabar com a Empresa Municipal de Moradia Urbanização e Saneamento, a Emusa, alvo de denúncias no ano passado. "Virou sinônimo de roubalheira e corrupção, o seu dinheiro público sendo utilizado menos para ser investido nas obras da cidade e mais para pagar funcionários fantasmas."
- Jordy disse que vai fazer piscinões no Caio Martins e no Barreto para acabar com os alagamentos e prometeu um grande pacote de obras para reformar todas as calçadas de Niterói.
Considerações finais
Lessa: "Eu tenho orgulho enorme de ser niteroiense e eu amo morar na nossa cidade. Niterói enriqueceu ao longo dos anos, mas em uma contradição a qualidade de vida piorou. Isso é responsabilidade de quem governa a cidade há tantos anos. Essa eleição é um apontamento para o futuro. Muitos de vocês talvez ainda não me conheçam. Eu tenho propostas claras e concretas para o futuro de Niterói. Peço uma oportunidade para que a gente possa conversar e juntos mudar nossa cidade. Niterói pode muito mais. Vote 20 para prefeito“.
Talíria: “Essa é uma eleição que vai escolher entre o passado e o futuro. De um lado, o candidato de Axel, Rodrigo Neves, que representa a estagnação, e cidade que fica estagnada anda para trás. De outro, o que há de mais atrasado na política brasileira, que nós temos obrigação de derrotar nessa eleição. Nós somos o futuro. Imagina criança na escola, saúde para todas as famílias. Vem com a gente, com coragem, eleger a primeira mulher prefeita de Niterói. Vem com esperança, vem 50’’.
Jordy: “Eu quero agradecer a todo cidadão niteroiense que acompanhou esse debate até agora. Quero dizer para vocês que tenho andado a nossa cidade, conheço nossos problemas e sei como resolvê-los. No meu primeiro ano de problema eu vou reduzir, não, eu vou resolver o problema das pessoas em situação de rua. Nós vamos acabar com as calçadas destruídas em Niterói com um grande pacote de obras reformando todas as calçadas. O IPTU do niteroiense, que é muito alto, eu vou reduzir. Eu fui analista de planejamento e orçamento, sei como resolver e nós vamos efetivar essa mudança. Vote 22 para prefeito, Carlos Jordy”.
Em nota enviada ao portal do grupo Globo, o candidato do PDT, Rodrigo Neves, justificou a ausência e expôs os motivos. Leia na íntegra:
"O candidato a prefeito de Niterói Rodrigo Neves tem grande respeito pelo trabalho jornalístico do g1 e das Organizações Globo, tendo participado ativamente de debates eleitorais e sabatinas nas últimas campanhas. Ele, no entanto, tomou a decisão de não participar do evento em função do novo cenário das disputas eleitorais deste ano.
Infelizmente, o que se vê, de forma cada vez mais exponencial, são iniciativas importantes, como os debates, se tornarem fontes para aventureiros e extremistas. Eles fazem edições mal-intencionadas com único objetivo de criar notícias falsas e posições fora do contexto dos candidatos. Apesar de proibidas, essas edições criminosas são espalhadas nas redes sociais, onde o controle pelos meios legais é muito mais difícil.
Rodrigo Neves acredita que o debate, que é um instrumento democrático para esclarecer o eleitor, nos tempos atuais vem sendo deturpado pela máquina das notícias falsas para, na verdade, confundir o eleitor. Ele ressalta que está à disposição para entrevistas e sabatinas com veículos das Organizações Globo."
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