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Itamaraty censura informações para embaixadores brasileiros


Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, mandou cortar jornais brasileiros (Agência Brasil)

Uma medida inédita na história do Brasil foi tomada pelo ministro das Relações Exteriores do governo Bolsonaro, Ernesto Araújo: diplomatas no exterior não irão mais receber notícias da imprensa brasileira. A ordem do ministro exclui do clipping diário do Itamaraty as informações veiculadas pelos jornais brasileiros. O clipping agora é feito apenas com notícias da mídia estrangeira, segundo noticiou a agência Reuters, nesta quinta-feira (14).

O trabalho, feito diariamente pela assessoria de imprensa do Itamaraty, servia para auxiliar os diplomatas no exterior com as informações sobre o que ocorre no Brasil.

“Agora temos que trabalhar sem as informações publicadas pela imprensa brasileira. Só nos chega o clipping de publicações estrangeiras”, disse uma das fontes, acrescentando que não foi dada qualquer explicação aos diplomatas quando o noticiário dos jornais brasileiros deixou de chegar aos postos no exterior.

A razão por trás da decisão, segundo uma das fontes, seria a insatisfação do chanceler Ernesto Araújo, bolsonarista assumido, com a cobertura dos veículos brasileiros sobre a política externa atualmente comandada pelo ministro.

Violação da Constituição

Araújo utilizou as redes sociais no fim de semana para rebater artigo assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os ex-chanceleres Aloysio Nunes Ferreira, Celso Amorim, Celso Lafer, Francisco Rezek e José Serra, o ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero e o ex-secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência, Hussein Kalou, publicado pelos grandes jornais brasileiros.

No texto, os autores dizem estar preocupados com “a sistemática violação pela atual política externa dos princípios orientadores das relações internacionais do Brasil” definidos na Constituição, a subserviência aos Estados Unidos e o que chamam de custos de difícil reparação à imagem brasileira, com “desmoronamento da credibilidade externa, perdas de mercados e fuga de investimentos.”

Em duas séries de mais de uma dezena de publicações, o chanceler chamou o ex-presidente e ex-ministros de “paladinos da hipocrisia” e “figuras menores” que deveriam aprender com o atual governo como se defende a Constituição.

“Se querem implementar de novo seus falidos projetos de política exterior para servir a um sistema de corrupção e atraso, muito bem. Apresentem esse projeto ao povo e disputem uma eleição. Não fiquem usando a Constituição como guardanapo para enxugar da boca da sua sede de poder”, escreveu.

Sites de apoio a Bolsonaro

De acordo com uma segunda fonte, o clipping interno do Itamaraty já havia sido modificado desde o ano passado. Quando o presidente Jair Bolsonaro determinou a suspensão da assinatura da Folha de S.Paulo, o jornal - que tem a maior circulação do país - foi retirado da seleção de notícias.

Em seguida, o gabinete do ministro ordenou a assinatura de sites de apoio a Bolsonaro, que passaram a ser incluídos no clipping do ministério.

Procurado, o Itamaraty informou em nota que a seleção nacional de notícias está suspensa desde o dia 4 de março, para reavaliação de sua elaboração.

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