Jornalistas do BRICS Press Meeting lançam a 'Carta de Niterói'

O professor, escritor, poeta e tradutor Marco Lucchesi, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, realizou na manhã desta sexta-feira (4/7) a palestra de abertura do BRICS Press Meeting, evento que reuniu em Niterói jornalistas dos países que integram o bloco, às vésperas da reunião da cúpula anual dos chefes de estado, nos dias 6 e 7/7 (domingo e segunda-feira), no Rio.

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Antes de começar a falar sobre 'Cultura dos BRICS', tema de sua palestra, Lucchesi pediu a todos que se solidarizassem com os palestinos em Gaza, "onde a tragédia vem sendo acompanhada ao vivo".

Sobre o BRICS, ele falou da aproximação e cooperação entre países de diferentes culturas através de trocas significativas, com o oriente que se ocidentaliza e o ocidente que se orientaliza, em uma espécie de "complementação de civilizações".

O imortal da Academia Brasileira de Letras citou o grande potencial cultural dos países que formam o bloco, tão expressivo quanto o PIB de todos juntos. Ressaltou que a cultura é tão importante quanto a economia, principalmente na construção de relações mais profundas e de longo prazo. E defendeu uma 'diplomacia da cultura'.

"Se as relações se basearem apenas na economia nos tornaremos funcionários do capital. Nós somos funcionários da utopia".

Assista ao vídeo completo do evento.

Lucchesi falou sobre a importância de construir memórias do futuro, de envolver escolas e universidades nesse processo. Sobre as diferenças entre os povos que compõem o grande mosaico cultural que é o BRICS, ele ressaltou que a diversidade é para ser admirada, cultivada, e não meramente "tolerada".

O presidente da Biblioteca Nacional não deixou de destacar o papel das línguas nas relações entre os países que integram o BRICS.

"Que as línguas não sejam barreira, sejam convite".

Marco Lucchesi disse ainda que é preciso sair do "esperanto simplificado, ou o 'basic english', para conhecer melhor as outras línguas".

"(...) Quando olhamos para as diferenças culturais dos BRICS crescemos ainda mais, nos muliplicamos a partir desse grande legado de línguas que são construções que atravessam milênios", avaliou ele, aplaudidíssimo ao final de sua palestra.

Foto: Claudio Fernandes / Prefeitura de Niterói

Jornalismo independente e multipolar

Dando continuidade ao evento, o editor executivo da Rádio e Jornal TODA PALAVRA, Luiz Augusto Erthal, enfatizou que o BRICS é um marco nas mudanças das relações geopolíticas mundiais.

"O bloco surgiu em prol da multipolaridade do poder entre nações e pela construção de um mundo mais justo. Lidando com forças hegemônicas, acompanhamos muitos jornalistas independentes se esforçando para promover essa mudança. O encontro de hoje é uma forma de promover diálogo e sinergia entre os profissionais que acreditam na multipolaridade da imprensa”, frisou.

Após a abertura em grande estilo, foi a vez da jornalista, cientista social e professora da UFRJ Beatriz Bissio, seguida de uma mesa-redonda sobre o tema 'Desafios da construção do mundo multipolar' com os professores Eduardo Gomes e Lier pires Ferreira, do Núcleo de Estudos BRICS da Universidade Federal Fluminense (NuBRICS/UFF). A dupla lançou recentemente a ideia de tornar o Rio de Janeiro a sede fixa do BRICS, visto que o bloco desde a sua criação não possui endereço.

À tarde, foram realizadas duas mesas redondas. A primeira com o tema: 'Imprensa independente, mídia regional/comunitária e jornalistas independentes - Alternativas à mídia oligárquica', e com a participação de Paulo Miranda (TVCOM/DF), Luan Scliar (iBRICS), Eduardo Vasco e Mário Souza (SJPRJ). A mediação foi do jornalista Osvaldo Maneschy, do TODA PALAVRA.

Em seguida, jornalistas de mídias independentes — Telesur, Sputnik, Al Mayadeen, HispanTV, Timothy Rush (EIR) — debateram o 'Desenvolvimento de redes de comunicação independentes para o Sul Global', com mediação dos jornalistas Luiz Augusto Erthal e Beto Almeida. TV BRICS e Prensa Latina não puderam comparecer, mas enviaram vídeos.

Encerrando o dia de debates, o jornalista Pepe Escobar falou sobre os 'Desafios e conquistas do mundo multipolar', com a participação do jornalista Leonardo Attuch, do portal de notícias Brasil 247.

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Carta de Niterói

Ao final do BRICS Press Meeting os jornalistas aprovaram a 'Carta de Niterói', um documento propondo ações concretas na área da comunicação e com recomendações sobre o aprofundamento das relações entre as mídias do Sul Global. O texto será entregue ao governo brasileiro para que seja compartilhado com os demais países do BRICS.

Entre as ações sugeridas estão a criação de uma nova ordem informativa internacional, através de um ecossistema colaborativo de jornalistas independentes, capaz de desarticular a propagação de inverdades e campanhas de difamação contra países como Irã, China, Rússia, entre outros, empreendidas por veículos da mídia hegemônica ocidental.

Também foi sugerida a criação de uma plataforma digital própria para o compartilhamento de documentos, informações e notícias do bloco.

Os profissionais de imprensa e representantes de mídias dos países do BRICS decidiram tornar permanente o fórum de debates inaugurado com este primeiro encontro, fortalecendo e intensificando o tema comunicação na agenda do grupo.