Leonardo Jardim é o nome certo para o Flamengo
- Da Redação
- 18 de jul. de 2020
- 6 min de leitura
Saída de Jorge Jesus preocupa clube e torcedores, mas Jardim já mostrou que pode dar sequência ao trabalho iniciado por seu conterrâneo
Edu Gomes

Como era aguardado durante a semana, o técnico Jorge Jesus confirmou ontem (17) oficialmente sua saída do Flamengo. O treinador volta para Portugal, onde mais um vez treinará o Benfica, clube onde obteve mais sucesso em sua terra natal. Jesus se despede do clube rubro-negro depois de um ano extremamente vitorioso, marcado pela conquista de 6 taças: Copa Libertadores da América 2019, Campeonato Brasileiro 2019, Recopa Sul-Americana 2020, Supercopa do Brasil 2020, Campeonato Carioca 2020 e a Taça Guanabara, primeiro turno do Carioca desse ano. Foram 43 vitórias e apenas 4 derrotas em 57 jogos à frente do time carioca.
Além do expressivo número de conquistas em um curto espaço de tempo, é notório o quanto Jorge Jesus revolucionou não só o Flamengo, mas a própria visão do futebol brasileiro. Por mais que muitos técnicos nacionais não queiram dar o braço a torcer, o padrão de jogo estabelecido pelo Mister, fez com que o rubro-negro saísse da posição de "time do cheirinho" para se tornar uma das equipes mais competitivas e vitoriosas do mundo, tendo inclusive feito frente ao poderoso Liverpool na final da Copa do Mundo de Clubes FIFA do ano passado, onde perdeu apenas na prorrogação por 1x0, gol marcado pelo brasileiro Roberto Firmino.
Não me lembro de ter acompanhado uma saída de treinador que tenha gerado tanta repercussão no futebol brasileiro como essa de Jesus. Isso é, sem dúvidas, fruto das conquistas alcançadas pelo treinador português e pelo alto padrão que conseguiu estabelecer com sua equipe, sempre tendo como parâmetro o jogo coletivo. Não é sem motivos, portanto, que Jesus já seja apontado como um dos maiores, se não o maior, técnico da história do Flamengo (que me perdoem Flávio Costa, Manuel Fleitas Solich, Paulo César Carpegiani, Cláudio Coutinho, Carlinhos, entre muitos outros).
A notícia de seu retorno ao Benfica, além de causar grande surpresa (já que Jesus tinha no mês passado renovado seu contrato até junho de 2021), gerou também muitas dúvidas: quem poderá substituí-lo e, assim, manter o nível que a equipe já alcançou? A verdade é que, no meio da temporada de 2020 e prestes a começar o Campeonato Brasileiro em um cenário ainda marcado pela pandemia da Covid-19, o treinador que assumir o Flamengo não terá que montar uma equipe ou estabelecer padrões táticos. Pelo contrário, já encontrará tudo pronto e bem definido. E é isso que a diretoria deve pensar: um nome forte, que seja vitorioso, mas que mantenha a estrutura e lógica de trabalho estabelecidas por Jesus, para assim não correrem o risco de perderem parte ou, quem sabe, até a totalidade daquilo que o Mister construiu.
Muitos nomes foram especulados na mídia durante a semana. O argentino Jorge Sampaoli, hoje no Atlético Mineiro e que ano passado fez grande trabalho no Santos, é um deles. Já cotado outras vezes para assumir o rubro-negro, tem como ponto negativo o fato de ter assumido o Galo há pouco tempo e, com isso, possuir uma grande multa para ser estabelecida a rescisão de seu contrato. O também argentino Marcelo Gallardo, rival de Jesus na final da última Libertadores e técnico mais vitorioso da América do Sul nessa década à frente do River Plate, também foi cogitado, mas de imediato já negou essa possibilidade. Gallardo já afirmou, outrora, que se sair do River será para treinar alguma equipe da Europa, caminho que também fez Jesus ao optar pela saída do Flamengo nesse momento.
Outros nomes que aparecem como cotados são: o também português Marco Silva, campeão da Taça de Portugal com o Sporting em 2015 e que fez uma boa campanha com o Everton na temporada passada na badalada Premier League, onde também treinou Watford e Hull City; o espanhol Miguel Ángel Ramírez, que levou o equatoriano Independiente del Valle ao título da Copa Sul-Americana do ano passado (garantindo, assim, vaga inédita na Copa do Mundo de Clubes FIFA que, a partir de 2021, terá novo formato e mais clubes participantes); e o brasileiro Renato Gaúcho, com um passado recente de grandes conquistas pelo Grêmio e que foi o nome cogitado quando a atual diretoria do Flamengo assumiu o clube no início de 2019, tendo a negociação não ido à frente e resultado, na época, na chegada de Abel Braga. Entretanto, o nome de Renato divide opiniões atualmente dentro da diretoria rubro-negra, principalmente depois dos confrontos entre Flamengo x Grêmio na última Libertadores, onde o treinador do tricolor gaúcho teria afirmado que sua equipe era aquela que "jogava o melhor futebol do Brasil" (no confronto em si, acabou sendo derrotado por 5x0 no Maracanã, após empate por 1x1 em Porto Alegre).
Todos os nomes acima, acredito eu, possuem suas qualidades e méritos para, assim, serem cogitados para comandar o atual time a ser batido na América do Sul. É bem provável que alguns seguiriam mais fielmente o projeto e padrão estabelecidos por Jesus, enquanto outros, até pelas características próprias, buscariam construir novos olhares acerca da maneira de se pensar o futebol. Entretanto, o nome que considero como ideal e que está sendo cotado com maior força atualmente, também vêm de terras portuguesas: Leonardo Jardim.
Quando as especulações sobre a saída de Jesus começaram, pensei no técnico Marcelo "El Loco" Bielsa como uma boa opção. Mas o fato do treinador argentino ter acabado de vencer a Championship (2ª divisão inglesa) com o Leeds United, levando o grande clube inglês à Premier League pela primeira vez em dezesseis anos, se torna com certeza um grande dificultador momentâneo. Diferente de Leonardo Jardim, sem clube desde dezembro de 2019 quando deixou o Monaco.
Jardim possui hoje, inclusive, uma carreira de nível europeu mais consolidada que Jorge Jesus, por exemplo. Enquanto JJ alcançou o estrelato em Portugal, treinando equipes grandes como o Sporting e, principalmente, o Benfica (clube que estará agora retornando ao comando), Jardim, conseguiu "furar" as fronteiras portuguesas e se aventurar (com grande êxito) em outras importantes ligas do Velho Mundo. Em um primeiro momento, treinou equipes menores de Portugal, onde foi campeão da segunda divisão nacional em 2009-10 com o Beira-mar e comandou, também, o Sporting Braga. No Braga, levou a equipe ao 3º lugar no Campeonato Português 2011-12, tendo terminado à frente do poderoso Sporting na competição nacional e assim garantido ao clube uma vaga na UEFA Champions League 2012-13. Na temporada seguinte, Jardim foi à Grécia treinar o Olympiacos, tendo deixado a equipe na liderança isolada do Campeonato Grego, antes de ser demitido em janeiro de 2013 por problemas pessoais com o presidente do clube, o empresário Evangelos Marinakis. Voltou à Portugal para ser vice-campeão português com o Sporting em 2013-14 (atrás apenas do Benfica de Jorge Jesus). A grande campanha foi suficiente para aceitar o desafio daquele que seria o maior trabalho de sua trajetória como treinador: ser técnico do Monaco, clube que joga as competições nacionais da França.
O desafio foi grande, já que o poderoso Paris Saint-Germain domina o cenário do Campeonato Francês na atual década. Mas Jardim obteve grande sucesso: em cinco anos, conseguiu quebrar a hegemonia do PSG em 2016-17, única temporada em que a atual equipe de Neymar não venceu a Ligue 1 desde 2012-13. Além disso, comandando um timaço que tinha, dentre outros, nomes como Radamel Falcão e Kylian Mbappé, Jardim conseguiu levar o Monaco às semifinais da Liga dos Campeões da Europa desse mesmo ano, tendo liderado seu grupo na primeira fase da competição e eliminado posteriormente equipes poderosas do continente, como o Manchester City nas oitavas e o Borussia Dortmund nas quartas. A equipe só foi derrotada nas semifinais pela não menos poderosa Juventus, da Itália, tendo sido essa a melhor participação do Monaco na Liga dos Campeões desde 2003-04, quando comandados por Didier Deschamps foram vice-campeões, perdendo a final por 3x0 para o Porto de José Mourinho.
O currículo europeu de Jardim é forte. Além disso, foi ele a indicação de Jorge Jesus após declarar sua saída do Flamengo ontem. Jesus afirmou que, se o interesse do clube for manter o projeto que conseguiu construir até aqui, o nome de Jardim é, sem dúvidas, o ideal. Não só por também ser português (apesar de ter nascido na Venezuela, Jardim é filho de portugueses e viveu boa parte de sua infância e adolescência na Ilha da Madeira), mas sim por possuir um perfil similar e vencedor, que pode colaborar para continuar elevando ao máximo o nível técnico e tático do elenco rubro-negro.
Atualmente sem clube, o treinador português poderia ser uma ótima opção para diversos grandes clubes do continente europeu. Anos atrás, seria inviável pensar em um nome desse porte para treinar uma equipe brasileira. Mas Jorge Jesus conseguiu, de fato, elevar esse Flamengo atual para um "outro patamar". E se quiserem continuar pensando grande e mantendo o patamar alcançado, não tenham dúvidas, o nome de Jardim é aquele que melhor pode manter e seguir o projeto que o Mister iniciou.
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