Liderança da UE: crime no AM é fruto da postura de Bolsonaro

Após a confirmação divulgada quarta-feira (15) de que o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram assassinados no Amazonas, a Organização das Nações Unidas (ONU) e outras autoridades internacionais começaram a se posicionar sobre o assunto.
De acordo com a coluna de Jamil Chade no portal UOL, a eurodeputada alemã e vice-presidente da Delegação do Parlamento Europeu para o Brasil, Anna Cavazzini, deixou claro que as mortes de Pereira e Phillips terão um impacto direto na relação já deteriorada do país com o bloco europeu. A autoridade ainda sugeriu que a violência é resultado direto do comportamento do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Para a eurodeputada alemã, "assassinatos são também uma consequência da difamação dos ativistas humanos e ambientais pelo presidente Bolsonaro".
"As mortes do jornalista Dom Phillips e do ativista dos direitos indígenas Bruno Pereira são notícias terríveis. As autoridades brasileiras devem investigar imediatamente os antecedentes destes assassinatos e levar os responsáveis à Justiça. [...] Estes assassinatos são também uma consequência da difamação dos ativistas humanos e ambientais pelo presidente Bolsonaro e do desmantelamento da legislação ambiental e de direitos humanos", denunciou Cavazzini, que também é presidente da Comissão de Comércio e Globalização do Parlamento e uma das principais vozes de questionamento em relação ao acordo Mercosul-UE.
Para Cavazzini, a questão vai além da morte dos dois homens: "Este e o futuro governo brasileiro devem fazer todos o possível para assegurar que os ativistas dos direitos humanos, ambientais e climáticos sejam mais bem protegidos no futuro", completou.
ONU faz cobrança direta ao governo
Num comunicado duro, a ONU cobra do governo brasileiro a realização de investigações imparciais sobre o crime, critica a violência e pede um reforço da Funai e do Ibama como forma de lutar contra as invasões de terras indígenas. Essa é a terceira crítica ou cobrança direta ao governo de Jair Bolsonaro (PL) por parte da ONU em menos de uma semana, algo raramente visto, conforme destaca Jamil Chade.
"Exortamos as autoridades brasileiras a aumentar os seus esforços para proteger os defensores dos direitos humanos e os povos indígenas de todas as formas de violência e discriminação, tanto por atores estatais como não estatais, e a tomar medidas para prevenir e proteger os territórios indígenas de incursões de atores ilegais, incluindo o reforço dos organismos governamentais responsáveis pela proteção dos povos indígenas e do ambiente (Funai e Ibama)", acrescenta o comunicado.
Até aliados criticam Bolsonaro
No Brasil, até aliados do presidente, como ministros das alas militar e política ouvidos nesta quinta-feira (16) pelo Globo, consideram que Bolsonaro errou ao fazer afirmações como as que Phillips era "malvisto" na região onde desapareceu e que deveria ter "redobrado a atenção consigo próprio" antes de fazer uma "excursão". Além disso, Bolsonaro também afirmou que o jornalista britânico e o indigenista brasileiro saíram para uma "aventura não recomendada".
Para esses integrantes do governo, esse é o "momento de Bolsonaro demonstrar solidariedade às famílias e não de culpá-los". Eles apontam que o presidente anda em uma "fase difícil" (possivelmente se referindo às pesquisas eleitorais que apontam uma provável vitória do ex-presidente Lula ainda no primeiro turno das eleições) e que tem se posicionado de maneira negativa em diferentes frentes.
As falas de Jair Bolsonaro foram duramente repudiadas por organizações indigenistas e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), já que Bruno e Dom estavam no local para realizar um trabalho de denúncia e tinham amplo conhecimento técnico sobre a região.
Cinco suspeitos
Depois da divulgação de que os irmãos Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, e Oseney da Costa Oliveira, confessaram o assassinato de Bruno e Dom e ainda apontaram um terceiro envolvido diretamente no crime, a Polícia Federal passou a mirar outros dois suspeitos: um envolvido na tentativa de ocultar os restos mortais e um possível mandante, conforme informou a GloboNews.
Os materiais humanos, já recolhidos pela PF, estão em análise e podem ser de Bruno e Dom.
Até agora foram presos somente os irmãos Oliveira, sendo que Pelado confessou o crime na quarta-feira (15), Um terceiro pedido de prisão pode ser expedido em breve.
Em coletiva, o superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Fontes, afirmou que as investigações seguem em sigilo e que ainda não é possível afirmar a motivação para os assassinatos.
Segundo investigadores, Bruno e Dom foram mortos a tiros e tiveram os corpos queimados e enterrados. A PF investiga também a relação do assassinato com a atividade de pesca ilegal na região, com envolvimento do narcotráfico na região do Vale do Javari, fronteira com a Colômbia e o Peru.
A perícia será feita a partir de sexta-feira (17), com a chegada dos restos mortais encontrados, e deverá ser finalizada na próxima semana. De acordo com os investigadores, será realizado teste de DNA para a identificação.