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Lula pede união e diz que fará 'a maior revolução pacífica da história'


Lula acena no lançamento da chapa "Vamos juntos pelo Brasil" neste sábado (7) (Foto: Ricardo Stuckert)

Em seu discurso no lançamento da chapa com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) neste sábado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um apelo pela união nacional: “É uma conclamação a todas as pessoas, de todas as gerações, todas as classes, todas as religiões, todas as raças, todas as regiões do país, para que recuperemos a democracia e a soberania”. E acrescentou: ”Nós faremos a maior revolução pacífica da história”.

"O momento grave nos obriga a unir nossas forças. (...) Nunca me esqueço das palavras de Paulo Freire. Ele dizia: ‘é preciso unir os divergentes para poder combater os antagônicos’. É preciso unir os democratas de todos os matizes e origens, de todas as classes sociais para enfrentar e vencer a ameaça totalitária. Queremos a volta da concórdia e da paz neste país e este é o sentido de nossa unidade. Precisamos dela para reconstruir o Brasil, o que será mais difícil que vencer as eleições”, discursou Lula.

Citando o Brasil de volta ao mapa da fome, Lula falou da alegria com a melhora da qualidade de vida do povo, com as conquistas como a casa própria e a realização do sonho de ver o filho se tornar doutor depois de ter acesso à universidade.

“Tudo o que fizemos e o povo brasileiro conquistou está sendo destruído pelo atual governo. O Brasil voltou ao Mapa da Fome da ONU, de onde havíamos saído em 2014, pela primeira vez na história. É terrível, mas não vamos desistir, nem eu nem o nosso povo. Quem tem uma causa jamais pode desistir da luta”

Para realizar esse sonho, cumprir essa missão, Lula disse que um presidente, um governante, precisa ter empatia, “ter a capacidade de viver em sintonia com as aspirações e os sentimentos das pessoas, especialmente das que mais precisam".

“Mas não basta ao bom governante sentir como se fossem suas as conquistas do povo sofrido. Para governar bem, ele precisa ter também a sensibilidade de sofrer com cada injustiça, cada tragédia individual e coletiva, cada morte que poderia ser evitada. Infelizmente, nem todo governante é capaz de entender, sentir e respeitar a dor alheia”, disse Lula.

Lula pontuou também os constantes aumentos de preços em alimentos e produtos, serviços como a energia elétrica e, em especial, os combustíveis, e reiterou que a Petrobras deve voltar a ser uma grande empresa nacional a serviço do povo brasileiro e não de seus acionistas. Ele citou também a tentativa de privatização da Eletrobras como mais uma das frentes de ataque ao Brasil.

“Perder a Eletrobrás é perder Chesf, Furnas, Eletronorte e Eletrosul, entre outras empresas essenciais para o desenvolvimento do país. É perder também parte da soberania sobre alguns dos nossos principais rios, como o rio Paraná e o São Francisco. É dizer adeus a programas como o Luz para Todos, responsável por trazer para o século 21 cerca de 16 milhões de brasileiros que antes viviam na escuridão(...) Aumentar ainda mais a conta de luz, que hoje já pesa não apenas no bolso do trabalhador, mas também no orçamento da classe média”, afirmou.

Alckmin mira Bolsonaro e é aplaudido

Lula iniciou seu discurso após a fala de Alckmin, que foi aplaudido no lançamento da chapa "Vamos juntos pelo Brasil".

"Tenho o orgulho de contar com o companheiro Geraldo Alckmin nessa nova jornada. Alckmin foi governador quando eu era presidente. Fomos adversários, mas também trabalhamos juntos e mantivemos o diálogo institucional e o respeito pela democracia", disse.

Alckmin, diagnosticado com covid-19 na sexta-feira (6), fez um discurso ao vivo de sua casa para o lançamento da pré-campanha. No telão, o ex-tucano disse que nenhuma "divergência do passado, nem diferença do presente" servirá de desculpa ou pretexto para que ele deixe de apoiar Lula "com toda convicção".

"O Brasil sobrevive hoje ao mais desastroso e cruel governo de sua História, perdulário nas despesas públicas, hipócrita no combate à corrupção, patrocinador de conflitos temerários, despreparado na condução da economia, ineficiente, injusto e irresponsável. O que é necessário constatar para concluir que o Brasil precisa de mudança?", discursou Alckmin, sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Lula com chuchu

Ainda em seu discurso, Alckmin - que enfrentou Lula na eleição presidencial de 2006 - brincou dizendo que "lula é um prato que cai bem com chuchu", numa referência ao seu apelido de "picolé de chuchu".

"Obrigado, presidente Lula, por me dar o privilégio da sua confiança. Mesmo que muitos discordem da sua opinião de que lula é um prato que cai bem com chuchu - o que acredito venha ainda a se tornar um hit da culinária brasileira -, quero lhe dizer, perante toda a sociedade brasileira: muito obrigado", discursou.

Agora aliados, Lula reforçou a brincadeira depois, dizendo que a combinação é extraordinária: "será o prato predileto no ano de 2022 e se tornará o prato da moda no Palácio do Planalto".

O lançamento da chapa reuniu sete partidos políticos (PT, PSOL, PC do B, PV, PSB, Rede e Solidariedade), no Expo Center Norte em São Paulo.

Veja a seguir o discurso de Lula na íntegra.


“Quero começar falando da mais importante lição que aprendi em 50 anos de vida pública, oito dos quais presidindo este país: Governar deve ser um ato de amor.


A principal virtude que um bom governante precisa ter é a capacidade de viver em sintonia com as aspirações e os sentimentos das pessoas, especialmente das que mais precisam.


É se alegrar com cada conquista, com cada melhora na qualidade de vida do povo que ele governa.


É compartilhar a felicidade da família que, graças ao Minha Casa, Minha Vida, toma pela primeira vez nas mãos a chave da tão sonhada casa própria, depois de uma vida inteira morando de aluguel em condições precárias.


É se emocionar com aquela mãe que viveu anos e anos à luz de lamparina, e com a chegada do Luz para Todos pode finalmente contemplar a serenidade do seu filho dormindo à noite.


É se alegrar com a avó que quando jovem era obrigada a partir um único lápis em dois pedaços para dar aos filhos. E que depois, com o Bolsa Família, pode comprar material escolar completo para a neta, até mesmo um estojo com lápis de todas as cores.


É comemorar junto com os filhos dos trabalhadores que se tornaram doutores, graças ao ProUni, ao FIES e à política de cotas na universidade pública.


Mas não basta ao bom governante sentir como se fossem suas as conquistas do povo sofrido.


Para governar bem, ele precisa ter também a sensibilidade de sofrer com cada injustiça, cada tragédia individual e coletiva, cada morte que poderia ser evitada.


Infelizmente, nem todo governante é capaz de entender, sentir e respeitar a dor alheia.


Não é digno desse título o governante incapaz de verter uma única lágrima diante de seres humanos revirando caminhões de lixo em busca de comida, ou dos mais de 660 mil brasileiros e brasileiras mortos pela Covid.


Pode até se dizer cristão, mas não tem amor ao próximo.


Em 2003, quando tomei posse como presidente da República, eu disse que se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros tivessem pelo menos a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, eu teria cumprido a missão da minha vida.


Travamos contra a fome a maior de todas as batalhas, e vencemos. Mas hoje sei que preciso cumprir novamente a mesma missão.


Tudo o que fizemos e o povo brasileiro conquistou está sendo destruído pelo atual governo. O Brasil voltou ao Mapa da Fome da ONU, de onde havíamos saído em 2014, pela primeira vez na história.


É terrível, mas não vamos desistir, nem eu nem o nosso povo. Quem tem uma causa jamais pode desistir da luta.


A causa pela qual lutamos é o que nos mantém vivos, é o que renova nossas forças e nos rejuvenesce.


Sem uma causa, a vida perde o sentido.


Eu e todos nós que estamos juntos nessa hora, temos uma causa: restaurar a soberania do Brasil e do povo brasileiro.


Meus amigos e minhas amigas.


O artigo primeiro da nossa Constituição enumera os fundamentos do Estado Democrático de Direito. E o primeiro fundamento é justamente a soberania.


No entanto, a nossa soberania e a nossa democracia vêm sendo constantemente atacadas pela política irresponsável e criminosa do atual governo.


Ameaçam, desmontam, sucateiam, colocam à venda nossas empresas mais estratégicas, nosso petróleo, nossos bancos públicos, nosso meio ambiente.


Entregam de mão beijada todo esse extraordinário patrimônio que não pertence a eles, e sim ao povo brasileiro.


Destroem políticas públicas que mudaram a vida de milhões de brasileiros, e que eram admiradas e adotadas pelo mundo afora.


É mais do que urgente restaurar a soberania do Brasil. Mas defender a soberania não se resume à importantíssima missão de resguardar nossas fronteiras terrestres e marítimas e nosso espaço aéreo.


É também defender nossas riquezas minerais, nossas florestas, nossos rios, nossos mares, nossa biodiversidade.


E é, antes de tudo, garantir a soberania do povo brasileiro e os direitos de uma democracia plena.


É defender o direito à alimentação de qualidade, o bom emprego, o salário justo, os direitos trabalhistas, o acesso à saúde e à educação.


Defender nossa soberania é também recuperar a política altiva e ativa que elevou o Brasil à condição de protagonista no cenário internacional.


O Brasil era um país soberano, respeitado no mundo inteiro, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos.