Marido proíbe viúva de miliciano falar sobre Bolsonaro em delação

Eduardo Giraldes, atual marido de Júlia Mello Lotufo, viúva do miliciano Adriano da Nóbrega, proibiu a mulher de falar o nome de Bolsonaro em sua delação à polícia. A revelação veio à tona em trechos de diálogos entre Giraldes e o ex-presidente e ex-patrono da escola de samba Unidos da Vila Isabel, Bernardo Bello Barbosa, suspeito de ser um dos sócios do Escritório do Crime. A conversa aconteceu em junho deste ano na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio.
Na conversa com Giraldes, de acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, Bello afirma que os promotores não estariam interessados nele ("é óbvio que o que querem não é o bobalhão aqui"), mas sim que a viúva do miliciano "fale de Bolsonaro".
"Não vai falar", responde o atual marido de Júlia sobre Bolsonaro. "Se ela souber, e ela quiser falar", emenda Bernardo Bello. "Mas se souber, eu também não vou deixar ela falar", prossegue Giraldes, que foi condenado a mais de oito anos de prisão em 2016 por integrar uma quadrilha de clonagem de cartão de crédito - em agosto do ano passado, a condenação foi mantida, mas a pena reduzida para 5 anos e 10 meses de reclusão.
Bello se reuniu com Giraldes para tentar evitar que fosse delatado pela viúva do miliciano e sua atual esposa. No encontro, Bello recomendou que não citasse algum membro da família do presidente Jair Bolsonaro.
Bernardo Bello diz então acreditar que, se a viúva citar Bolsonaro, vão acabar com ela "de verde, amarelo, azul e branco".
“Imagina se essa menina denuncia o Bolsonaro falando ‘olha só, o meu ex lá (Adriano da Nóbrega) estava todo dia com fulano de tal’. Ela vai foder com o cara. Ok, pode até foder. Mas vão acabar com a vida dela de verde, amarelo, azul e branco”.
O marido de Júlia concorda: "E com a minha".
A tentativa de Bello foi em vão. Segundo a revista Veja, Júlia Lotufo apresentou, no dia 7 de julho, uma proposta de delação premiada ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). No documento, ela acusaria o ex-patrono da Vila Isabel de ser sócio de Adriano da Nóbrega no comando do Escritório do Crime, organização acusada de ter executado a ex-vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), em março de 2018.
Julia Lotufo é acusada de participar de um esquema de lavagem de dinheiro e cumpre prisão domiciliar. A Polícia Civil mantém uma viatura na frente do prédio onde ela mora por 24 horas, para prevenir uma possível "queima de arquivo".
O capitão Adriano, morto pela polícia na Bahia em fevereiro do ano passado, era ligado à família do presidente da República e foi citado várias vezes na investigação que apura a prática conhecida como "rachadinha" no gabinete de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) quando ele era deputado estadual pelo Rio de Janeiro. A mãe e a primeira mulher do miliciano trabalhavam com o parlamentar e repassavam a maior parte de seus salários ao esquema.
Na semana passada, o ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), suspendeu a denúncia que corre no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), o ex-assessor dele, Fabrício Queiroz - apontado como operador do esquema das rachadinhas - e outras 15 pessoas investigadas no caso das rachadinhas e acusadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) por peculato, lavagem de dinheiro, apropriação indébita e organização criminosa.
Nesta terça-feira (31), a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar o recurso do MP-RJ que discute o foro privilegiado do filho 01 do presidente da República. A data foi marcada pelo novo presidente do colegiado, ministro Nunes Marques, indicado por Jair Bolsonaro em setembro de 2020. O relator do caso é o ministro Gilmar Mendes, que havia liberado o recurso para julgamento no final de maio.
Além dos dois, a Segunda Turma conta com os ministros Ricardo Lewandowski e Edson Fachin. A composição atual está com menos um integrante desde a saída da ministra Cármen Lúcia para a Primeira Turma. A vaga deverá ser preenchida por um nome indicado por Jair Bolsonaro - o de André Mendonça, que ainda encontra dificuldades para ser aprovado pelo Senado.
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