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Marinha recebe oferta da Arábia por porta-aviões à deriva


O porta-aviões São Paulo, da Marinha do Brasil (Foto: Marinha do Brasil)

O destino do porta-aviões São Paulo ganha fôlego a cada semana com novos acontecimentos, e agora, perto de ser afundado pela Marinha, sua saga ganha um novo capítulo.


No início da tarde de ontem (31), a força recebeu uma proposta de compra para a embarcação proveniente de uma empresa de desmanche de navios da Arábia Saudita, pertencente ao grupo árabe Sela, de acordo com o colunista Jorge de Souza do UOL.


Souza afirma que a abordagem do país árabe ocorreu através do advogado brasileiro Alex Christo Bahov, que atua no caso, e ofereceu uma proposta de R$ 30 milhões, três vezes mais do que a empresa turca Sok Denizcilik Tic pagou pela embarcação no leilão promovido pela Marinha em outubro de 2021.


Contudo, segundo o colunista, a força não respondeu até agora à proposta e pretende afundar o porta-aviões nesta quarta-feira (1º).


"Isso é ruim [não ter dado a resposta], porque, a cada hora que passa, o estado do navio fica mais comprometido. É preciso agir rápido. Se a Marinha aceitar a proposta, em 72 horas uma equipe internacional de salvatagem, contratada pelo meu cliente, entrará a bordo do porta-aviões para avaliar as ações necessárias, reparar o navio, limpá-lo e, depois, levá-lo embora do Brasil. Será um favor para a Marinha, que não sabe o que fazer com o navio", disse Bahov citado pela mídia.


Pala proposta, o grupo árabe assumiria "todo e qualquer custo operacional com eventuais reparos estruturais no navio, retirada de resíduos tóxicos e transporte para um estaleiro de desmanche com certificação internacional".


A ação para afundar o navio, que leva consigo 9,6 toneladas de amianto em suas paredes, acontecerá com explosivos, de maneira controlada, a cerca de 200 quilômetros da costa brasileira em um local onde a profundidade beira os 5.000 metros, mas dentro da chamada Zona Econômica Exclusiva (ZEE), o que, a princípio, parece incompatível com o afundamento proposital de um navio que contenha tamanho material tóxico a bordo.


Exatamente por apresentar grande risco ambiental que o ex-porta-aviões foi negado pela Turquia de entrar em seu território, tendo também sido barrado pelo governo britânico antes mesmo da decisão turca, quando a embarcação passava pelo estreito de Gibraltar.


A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, demonstrou preocupação com o tema e o levou ao Ministério da Defesa para dialogar com o chefe da pasta, José Múcio Monteiro. Porém, de acordo com a lei, cabe exclusivamente à Marinha saber o que vai fazer com a embarcação.


A situação tem sido monitorada por outras entidades ligadas ao meio ambiente também estão protestando contra a ação da força brasileira.


"Se o ex-porta-aviões for afundado, isso equivaleria a um crime ambiental patrocinado pelo Estado brasileiro", disse a organização Shipbreaking Platform, que monitora a questão do desmanche consciente de navios no mundo inteiro, citada pela mídia. Já a organização Basel Action Network afirmou que "a Marinha brasileira está se preparando para cometer um crime ambiental de grandes proporções no mar".


O IBAMA também se pronunciou e afirma que os risco ambiental preocupa seriamente as autoridades justamente se a embarcação for afundada. "[...] A Marinha informou, nesta segunda-feira [30], ter identificado, com base em estudos realizados pelo seu Centro de Hidrografia, um local que permitiria o afundamento do ex-porta-aviões com redução de potenciais impactos ambientais. Estamos buscando informações mais detalhadas sobre este estudo, a fim de conhecer o mapeamento do fundo do oceano, de modo a avaliar possíveis impactos ambientais decorrentes do afundamento", disse o órgão, em comunicado enviado à mídia na noite de ontem (30).


Relembre o caso

O porta-aviões São Paulo da classe Clemenceau foi construído na França entre 1957 e 1960 e chama a atenção pelas suas dimensões: são 266 metros de comprimento e um peso de 32,8 mil toneladas. Em 2000, a embarcação foi adquirida pelo governo brasileiro, a um custo de US$ 12 milhões (cerca de R$ 62 milhões) e serviu à Marinha até 2014.


Entretanto, com o passar do tempo, considerando o alto custo de manutenção e a evolução tecnológica no setor que hoje privilegia porta-aviões menores para operações com drones, a Marinha decidiu desativar a embarcação em 2017.


Em 2021, em um leilão realizado pela força, o estaleiro turco Sok Denizcilik Tic o comprou e no dia 4 de agosto do ano passado a embarcação saiu do Brasil rumo à Turquia. Já ao zarpar do Brasil uma liminar da Justiça tentou impedir sua saída, alegando que o porta-aviões não foi leiloado com transparência, mas mesmo assim o navio seguiu seu rumo.


Durante a viagem, com a forte pressão internacional pelo seu alto grau de risco ambiental, sendo até monitarado pelo Greenpeace, o porta-aviões foi barrado pelo governo britânico e turco de seguir seu caminho.


Ao voltar do Brasil, nenhum porto o quis receber pelas questões ambientais e o estaleiro turco o abandonou. Agora, vagando pelo mar por cerca de seis meses sem destino, a Marinha tomou o controle da embarcação e planeja o afundar para acabar com a novela do porta-aviões que, um dia, foi o maior do Brasil.


Fonte: Agência Sputnik

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