Memória da Revolução proletária mobiliza Rússia e Bielorrússia
- Mehane Albuquerque
- há 12 minutos
- 4 min de leitura
Por Cíntia Xavier, correspondente do TODA PALAVRA em Moscou
Mesmo sem ser feriado oficial na Rússia, o 7 de novembro encheu praças, avenidas e monumentos com flores, bandeiras vermelhas e palavras de ordem. Na Bielorrússia, a data é feriado nacional e as cerimônias oficiais reforçaram o sentido “criador” do legado de 1917, com inaugurações de escolas, hospitais, estradas e outras obras públicas e apelos à unidade e continuidade histórica do povo bielorrusso com o seu passado soviético.

A seguir, um panorama das celebrações nos dois países e o sentido histórico do dia.
Rússia: do Mausoléu às praças
Em Moscou, dirigentes, militantes e simpatizantes do Partido Comunista da Federação Russa (KPRF) iniciaram a manhã colocando flores no Mausoléu de Lenin, na Praça Vermelha. Após a cerimônia, o presidente do Comitê Central do KPRF, Gennady Ziuganov, saudou a data e exaltou o papel histórico de Outubro para os direitos do trabalho, a vitória sobre o nazismo e a conquista do espaço.
“O Grande Outubro abriu uma nova era, em que passou a governar o trabalho, não o capital”, afirmou.
No meio da tarde, houve ato patriótico no jardim da Praça Teatral, diante do monumento a Karl Marx. A atividade foi conduzida pelo vice-presidente do CC do KPRF, Vladimir Kashin, que puxou o coro: “Pela nossa Rússia Soviética — Ura! Ura! Ura!”. O comício combinou discursos, entrega de carteirinhas partidárias (inclusive a participantes da operação militar) e a presença de delegações estrangeiras ligadas ao fórum internacional “A Verdade contra o neofascismo”, realizado em Moscou.
“Só o socialismo pode unir a humanidade contra uma nova guerra”, disse Ziuganov no palanque.

Segundo a direção do partido, representantes de 40 países vieram a Moscou, associando o 7 de novembro à tradição internacional antifascista e à defesa da soberania.
As mobilizações não se restringiram a capital e se espalharam pelas regiões. Em Tyumen, um comício organizado pelo comitê regional do KPRF reuniu centenas de pessoas na Praça dos Combatentes da Revolução, com bandeiras das frentes aliadas do partido.
“Lugar do capitalismo é o lixo da história”, declarou Tamara Kazantseva, primeira-secretária do KPRF local, ao listar as conquistas sociais associadas a Outubro.
Em Novosibirsk, teve marcha e comício. O ex-prefeito e dirigente Anatoly Lokot reafirmou o vínculo entre a data e o patriotismo soviético:
“O Outubro Vermelho é nosso orgulho, nossa glória e nossa história”.
No Altai, na cidade de Barnaul, foi realizado um comício na Praça dos Sovietes. A manifestação, inicialmente prevista como passeata, foi substituída por concentração, segundo o portal Amic.ru, por “motivos de segurança do tráfego”.
Em Uliánovsk, cidade natal de Lenin, o KPRF organizou uma cerimônia na Praça V. I. Lenin, com flores ao monumento, discursos e apresentações culturais.
Já na cidade de Samara foi sediado o tradicional “Desfile da Memória”, que recorda o histórico desfile de 1941 em Kuibyshev. A edição deste ano reuniu mais de 7,5 mil participantes, com orquestra militar, viaturas históricas e atividades patrióticas ao longo do dia.
“A força do espírito decide tudo”, afirmou o chefe da “Yunarmia”, Vladislav Golovin.
Bielorrússia: feriado nacional enfatiza o “sentido criador” da Revolução
Na Bielorrússia, o 7 de novembro é feriado nacional e data de descanso. Em mensagem oficial, o presidente Aleksandr Lukashenko sublinhou o conteúdo construtivo da comemoração:
“Este é um dia de conquistas do trabalho e de importantes descobertas”, disse, ligando o legado da Revolução à formação do Estado bielorrusso. “O modelo de Estado social, fundado em 1917, lançou a base sólida do nosso desenvolvimento”, afirmou.
Em outra declaração pública, durante agenda em Zhitkovichi, Lukashenko reforçou a ideia de atualização histórica:
“É um feriado normal, nós o modernizamos”, disse o chefe de Estado, mostrando que as comemorações de 7 de novembro e a memória da Revolução de Outubro não são apenas momentos do passado, mas parte do presente e do futuro do país.
Em Minsk, a Praça da Independência recebeu o ato central, com flores ao monumento a Lenin e a participação de representantes do governo, do corpo diplomático e de organizações sociais. O primeiro-secretário do Comitê Central do Partido Comunista da Bielorrússia, Sergei Syrankov, afirmou: “O capitalismo desencadeia novos conflitos”, destacando que com a Revolução de Outubro “estão ligadas vitórias, feitos e os resultados do trabalho do povo bielorrusso”. Houve entrega solene de carteirinhas a novos filiados da sigla.
Assim como na Rússia, as comemorações se espalharam por todo o país. Em cidade de Mogilev, cerca de mil pessoas ocuparam a Praça Lenin.
“A história deve ser conhecida e lembrada por todos, transmitida de geração em geração”, disse uma moradora à agência estatal Belta.
É tradição na Bielorrússia inaugurar obras sociais em feriados nacionais, para simbolizar o progresso do país e a continuidade entre gerações. A deputada Natalia Tarasenko resumiu a prática:
“Tudo isso é criado para as pessoas. Para que construímos uma nova ponte? Para unir não só as margens dos rios, mas também as pessoas.”
Na capital, representantes de três gerações de comunistas ressaltaram a mesma tradição de entregar ao povo “presentes” sociais pelo feriado.
“Abrem-se novas escolas, hospitais, estradas e pontes”, disse a veterana Nina Dubovik. O secretário do CC do PCB, Vitaly Misevets, reforçou o papel da memória histórica e da educação cívica dos jovens.
A cobertura oficial do dia enfatizou que a Revolução proporcionou ao povo bielorrusso a estatalidade e o impulso para um modelo social próprio.
“Graças à revolução, o povo bielorrusso conquistou a soberania, desenvolveu potencial econômico e intelectual, e preservou e enriqueceu sua cultura nacional”, resumiu a agência estatal Belta, que acompanhou as cerimônias em todo o país.
História e sentido do 7 de novembro
A Revolução de Outubro ocorreu em 25 de outubro de 1917 (7 de novembro no calendário gregoriano), marco que alterou os rumos do século 20 e influenciou movimentos políticos no mundo todo. Na leitura bielorrussa, a Revolução foi decisiva para a autodeterminação nacional e a constituição da Bielorrúsia soviética, origem histórica do atual Estado. No país, o Dia da Revolução de Outubro é feriado oficial desde o Decreto Presidencial nº 157, de 26 de março de 1998, que lista os feriados e datas comemorativas do país. É dia oficial de descanso nacional.
Na Rússia, embora a data siga mobilizando militantes, veteranos e jovens em todo o território, ela não é atualmente feriado nacional. A iniciativa mais recente para restaurar o feriado em 7 de novembro foi protocolada por deputados do KPRF na Duma, com a justificativa de reforçar a memória histórica e o ensino sobre os “eventos-chave do século 20”.
*Com informações de: KPRF.ru, TASS, BelTA, SB. Belarus Segodnya, Amic.ru, KPRFNSK.ru, Sputnik Belarus e Lenta.ru.








