Grafite homenageia mulheres guerreiras do Preventório
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Grafite homenageia mulheres guerreiras do Preventório

Por Ana Clara Paiva


Na última quarta-feira (9/6), mais uma etapa dos preparativos para a inauguração do Espaço Multiprojetos foi concluída. O muro do centro comunitário, localizado na região conhecida como “entrada da UFF” ao lado da UMEI Darcy Ribeiro, recebeu um grafite da artista local Cibelle Arcanjo. A obra é uma homenagem a duas moradoras, Dona Sônia e Dona Graça, que foram figuras de destaque para a comunidade.

Foto: Divulgação

A criação do Espaço Multiprojetos é uma iniciativa do Banco Comunitário do Preventório, uma associação comunitária que atua na promoção da economia local (Morro do Preventório), financiando comércios, serviços e pequenos negócios da favela, fornecendo microcrédito e incentivando o consumo em moeda social digital. A ideia do espaço já era planejada há alguns anos. O terreno escolhido abrigava um galpão abandonado que foi demolido para a construção da UMEI Darcy Ribeiro, entregue em 2018, quando então a associação pode voltar a pensar no projeto.


Com a ajuda de doações, o local vai tomando forma. Os containers que fazem parte da estrutura já foram instalados e a arte veio para destacar a fachada. De acordo com o líder comunitário, Marcos Rodrigo, a intenção de homenagear as moradoras é para tornar a memória presente.

“O grafite trouxe um resgate do patrimônio imaterial da comunidade e da história desses dez anos do Banco do Preventório. A proposta acabou chamando atenção e nós queremos realizar outros em diferentes áreas da comunidade”, afirma o coordenador e fundador do banco social.

A artista plástica Cibelle Arcanjo / Divulgação

Elas


E quem são as personagens dessa obra que estampa o anexo do banco comunitário? Sônia e Graça são figuras importantes na história do Morro do Preventório, autênticas guerreiras que participaram da fundação do banco comunitário e da primeira associação de mulheres local. Isso fica nítido através dos relatos de quem mais conhecem essas personagens: as próprias filhas delas.


Daniela Araújo, filha da dona Graça, destacou o papel de resistência que as mulheres negras exercem nas favelas:


“São elas que mantêm a estrutura familiar, muitas vezes a alimentação e o cuidado com os filhos e são elas que estão, historicamente, assumindo o papel da luta política pela qualidade de vida nesses lugares. Então, uma homenagem a duas mulheres que tomaram pra si o papel do cuidado para além de suas casas e familiares e que entendiam a comunidade como uma unidade, é um reforço à importância da mulher negra, favelada e mãe que abdica de seus projetos para construir projetos coletivos. Por isso, é maravilhoso ver uma homenagem que preserva aquelas que, historicamente, vêm sendo apagadas e não valorizadas pela história oficial. Então, é outra forma de escrever essa memória, resgatando a oralidade e o visual pra construir um consenso comunitário.”

Foto: Divulgação

A filha da dona Sônia, Daiane Silva, conta que ver a pintura ressignificou a saudade da mãe.


“O dia do grafite coincidiu exatamente com o dia em que ela se foi. A homenagem deu uma leveza à saudade e a lembrança de uma data tão importante e triste para nós. Minha mãe e a dona Graça, além de trabalharem juntas e morarem próximas, tinham um amor em comum pelas plantas. Lembro que às vezes ficavam um tempinho falando dos benefícios e trocando dicas das plantinhas que cuidavam com amor. E sem a Cibelle saber disso, as plantas estão presentes no desenho. Encontrei outros motivo para agradecer e todos se resumem em uma palavra: gratidão!”


Cibelle Arcanjo reforçou a importância da homenagem para a história da comunidade.


“Eu também sou cria de projeto social, sou cria do Preventório. Representar a Dona Graça e a Dona Sônia é ver que a memória não deixou de ser construída e que ainda existem pessoas lutando por aquele lugar. Eu não tive a oportunidade de conhecer a Dona Sônia pessoalmente, mas ela impactou toda uma geração depois da minha e eu me vejo neles, quero contribuir para o crescimento deles.”

Foto: Divulgação

A artista conta que foi um processo muito significativo e emocionante:


“Foi uma emoção muito grande pintar ao ar livre de novo. As pessoas passavam e as reconheciam (D. Graça e D. Sônia) enquanto ainda estava fazendo os traços. As crianças saindo da escola, algumas pessoas voltando do futebol e até alguns familiares das homenageadas passaram por ali e ficaram algum tempo assistindo enquanto eu pintava o muro. A experiência de representar pessoas comuns e mostrar para outros moradores que poderia ser um deles ali também foi muito gratificante, porque normalmente nós não nos enxergamos numa posição dessa importância.”


De acordo com a diretora do Banco Comunitário do Preventório, Maria Hosana, o anexo será inaugurado em breve.


“Vamos realizar vários projetos como reciclagem, bazar, feiras, atividades para mulheres e para todos da comunidade.”



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