Morte do "Papai Noel", por covid, entristece Niterói
Niterói amanheceu mais triste nesta segunda-feira, 18, com a notícia da morte de Sohail Saud, aos 80 anos, vítima da covid-19. Autoridades, como o prefeito Axel Grael, artistas, jornalistas e amigos lamentaram a morte do "Papai Noel" oficial da cidade, como ele era mais conhecido.
Mas a interpretação do "Bom Velhinho", à qual Sohail se dedicou com carinho e empenho ao longo de 40 anos, visitando instituições de caridade e participando das atividades do calendário natalino da cidade, era apenas um dos papéis desse descendente de libaneses apaixonado pelos palcos desde a juventude. Além de ator, autor e diretor teatral, ele ocupou vários cargos de gestão cultural no Estado do Rio, sendo por muitos anos responsável pela direção do Teatro Municipal João Caetano, de Niterói, considerado o berço da dramaturgia brasileira por ter sido fundado por João Caetano, que apresentou ali a primeira companhia de teatro do país, nas primeiras décadas do século XIX.
Nos anos 60 e 70, por influência de Pachoal Carlos Magno, Sohail organizou em Niterói o Festival de Teatro Jovem Fluminense, onde vários atores hoje consagrados foram lançados nos palcos.
Repercussão
Pelas redes sociais, o prefeito Axel Grael lamentou a morte de Sohail:
"Lamento muito a triste perda do nosso querido Sohail Saud. Durante 40 anos Sohail foi o Papai Noel oficial da nossa cidade e emocionou crianças e adultos. Foi diretor do Teatro Municipal de Niterói e integrava o universo do carnaval, um apaixonado pela Viradouro. Vai fazer muita falta com sua alegria de viver! Uma figura muito simpática e querida da nossa cidade.
Mais uma grande perda para Niterói. Nos lembraremos sempre do Sohail com muito carinho, sobretudo nos natais. Nosso eterno Papai Noel. À esposa Suely e seus familiares, toda minha solidariedade."
O vice-prefeito de Niterói, Paulo Bagueira, também divulgou uma nota de pesar:
"Dia que amanhece triste com a partida do meu amigo Sohail Saud. Companheiro de caminhada, foi diretor de cultura da Câmara de Niterói durante o período que presidi a Casa e se dedicou com afinco ao nosso projeto de abrir as portas do Legislativo para eventos culturais. Também ficará guardada na memória a sua dedicação como o Papai Noel oficial de Niterói, quando fazia questão de visitar o Parque Palmir Silva para a festa de Natal. Sohail também tinha outra paixão. Assim como eu, era da família Viradouro e a sua Ala dos Artistas, a mais festejada e concorrida da nossa agremiação. Vá na paz, amigo, nesse novo caminhar. Abraços de solidariedade à Sueli e todos os seus familiares."
Apaixonado por Niterói
Amigos de longos anos, o jornalista Vinícius Martins conversou com Sohail na véspera de ser internado no Hospital Santa Martha, já com sintomas da covid. Ele narra essa última interação em texto que o TODA PALAVRA reproduz a seguir:
"Sohail Saud era um apaixonado por Niterói e pelos seus amigos. Nos falamos pela última vez na quarta-feira, véspera do fatídico dia de sua internação. Estava, como sempre, bem e animado. Queria agendar um jantar para mostrar o apartamento que acabara de comprar. Disse eu que iria marcar, mas sem convicção, já que achava prudente aguardar o fim dessa maldita pandemia. Ele sentiu a conversa mole e rebateu.
'Ô Vinícius. Você tá me dando volta!', reclamou.
Disse a ele que não. Que não tinha talento para dar volta num cara experiente como ele. Rimos e nos despedimos.
Foi o último bate-papo.
Sohail, entre outras coisas, me ensinou a gostar profundamente do Natal. Uma data que pra mim, desde a infância, me era mais triste do que alegre.
Sohail e o seu Papai Noel me deram a oportunidade de saber quão significativa é essa data.
Dizia sempre que o Natal pra mim começava na festa da chegada de Papai Noel na Pestalozzi, onde Sohail encantava adultos e crianças interpretando o seu melhor e maior papel.
Pessoas como Sohail, que vem sendo nos tiradas dia após dia, farão uma imensa falta para ajudar a gente nessa caminhada.
Muita luz nesse novo caminho.
Vinícius Martins
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