Mostra sobre sífilis é destaque IX Congresso de Infectologia
Sucesso de público no Paço Imperial, no Rio, e na Associação Médica Fluminense, em Niterói, a exposição 'Precisamos falar mais sobre sífilis, sem preconceitos' será um dos destaques no IX Congresso de Infectologia, o Infecto Rio 2024. Realizado pela SIERJ (Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro), no Hotel Windsor Marapendi, na Barra da Tijuca, o evento acontece entre os dias 7 e 9 de agosto.
Com curadoria do médico especialista em DST/IST e professor titular chefe do Setor de DST da UFF, Mauro Romero Leal Passos, além de Thiago Petra e Rodrigo Schrage Lins, a mostra une arte e ciência para contar a história da sífilis nas formas adquirida e congênita.
A exposição faz uma verdadeira viagem no tempo. Além de painéis com informações e imagens, o público poderá conferir livros, objetos, pinturas, ampolas, frascos de penicilina de meados do século passado - quando o antibiótico começou a ser usado para tratar a doença.
Uma das peças mais emblemáticas é a réplica de um forno de metal, que na Idade Média era usado para fazer o paciente suar, como um tipo de sauna com vapores de sulfureto de mercúrio, método que segundo os médicos da época, "aliviava os humores".
O médico explica que a infecção adquirida por contato sexual ou transfusão de sangue pode ser evitada e tem cura. Já a forma congênita da doença é a mais cruel, quando é transmitida da mãe para o bebê durante a gestação.
"Poucas doenças têm os dados históricos, os acontecimentos científicos e os elementos artísticos que a sífilis apresenta. E, apesar de todo o conhecimento e da disponibilização de diagnósticos, tratamentos, acompanhamento, rastreio, prevenção, campanhas de comunicação junto à população, além das possibilidades de análises estatísticas e de vigilância em saúde pública, a sífilis continua acometendo de forma crescente pessoas em quase todo o mundo, seja em países de baixo, médio ou alto desenvolvimento econômico e sociocultural", lamenta Mauro Romero.
A mostra foi concebida a partir de um minucioso trabalho de pesquisa coordenado por Romero e realizado por uma equipe de profissionais de ciência, artes visuais e comunicação científica. Contou, também, com a colaboração de médicos de outros países, que enviaram novas informações e documentos, ajudando a enriquecer o conteúdo.
A partir dos dados coletados, foi possível traçar a trajetória da sífilis, passando também pelos artistas renascentistas, que produziram registros sobre os efeitos da moléstia em suas obras.
Dados alarmantes
A sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum. O nome foi tirado do poema épico escrito em 1530 por Girolamo Fracastoro.
Na avaliação do médico Mauro Romero Leal Passos, o quadro da sífilis no Brasil é de “calamidade".
"É um quadro que mostra que o estado do Rio de Janeiro tem número elevado de óbitos de crianças, em decorrência da sífilis congênita. São mais de 300 óbitos por sífilis”.
Ele acredita que o número deve ser muito maior devido à subnotificação. Explicou que a meta a ser perseguida é de 0,5 caso a cada mil crianças nascidas vivas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), para cada 8 mil nascidos vivos por ano, pode-se ter 4 casos de sífilis congênita.
“Uma doença fácil de diagnosticar e de tratar tem esse volume de sífilis congênita. Isso tem um nome que se chama má qualidade de pré-natal, ou pré-natal mal feito, que é o que o mundo todo aponta. País que tem pré-natal bem-feito tem taxa de sífilis congênita abaixo de meio caso por mil nascidos vivos, como França, Itália, Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Cuba, que foi o primeiro país do mundo a eliminar a sífilis congênita”. Para o médico, os dados no Brasil refletem negligência.
A sífilis congênita é adquirida da mãe que foi contaminada por alguém.
“Se ela não faz o tratamento em tempo hábil, é caso de sífilis congênita,” ressalta.
O tratamento básico para eliminar a sífilis congênita é o tratamento da mãe.
“Isso não quer dizer que a gente não tenha que tratar a parceria sexual. Mas, primariamente, tem que tratar a gestante, a mãe. Esse é o foco maior”.
É necessário também evitar que os homens contraiam a sífilis, por meio do sexo seguro, com uso de camisinha, para não contaminar as parceiras.
Indicadores
De acordo com os indicadores do Ministério da Saúde, o número de gestantes com sífilis, entre 2005 e 2022, alcançou 535.034, sendo o maior número da série observado em 2021, com 74.095 casos. Em 2022, foram 31.090. A taxa de detecção em 2021 foi de 27,1 gestantes por mil nascidos vivos.
Em relação à sífilis congênita em menores de um ano, o total no país foi de 293.339 entre 1998 e 2022, com o maior número registrado em 2021: 27.019. Também foi mais alta nesse ano a taxa de incidência de 9,9 casos de sífilis congênita em crianças menores de um ano por mil nascidos vivos. No estado do Rio de Janeiro, foram 25.124 casos no mesmo período analisado.
No que se refere a óbitos por sífilis congênita em menores de um ano, a série revela total de 2.886 casos de 2000 a 2021, no país. O maior coeficiente bruto de mortalidade por 100 mil nascidos vivos foi 8,9, encontrado em 2018. O estado do Rio de Janeiro apresentou, no mesmo período, 366 óbitos por sífilis congênita em menores de um ano.
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