Movimentos entregam carta em defesa da Amazônia a candidatos

A Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais (IRI Brasil) entregou a todos os candidatos a presidente, além dos mais bem posicionados candidatos a senador e governador dos estados que compreendem a Amazônia Legal uma carta aberta que pede que se comprometam, nas eleições de 2022, com a preservação da Floresta Amazônica.
A entrega foi feita nesta quinta-feira (15), segundo anúncio do grupo. Entidades católicas, evangélicas, judaicas, islâmicas, budistas, de matriz africana, entre outras, assinaram o documento.
A carta pede aos candidatos que assumam o compromisso público de parar o processo de destruição da Floresta Amazônica e de violação dos direitos dos povos indígenas, quilombolas, agricultores familiares e comunidades locais. Pede também que a região se desenvolva com sustentabilidade.
No documento, os líderes religiosos ressaltam que “não podemos aceitar que a destruição da floresta e de tudo o que ela representa para nós, seja tratada com indiferença por parte das pessoas que pretendem governar esse vasto território de fundamental importância para o planeta Terra e para toda a humanidade”.
A iniciativa aponta que "a perda da floresta tem sido acompanhada por sofrimento, dor, miséria e desesperança para a maioria da população".
"A devastação caminha de braços dados com o aumento da violência, criminalidade e com as violações dos direitos humanos, especialmente contra os povos indígenas e as comunidades locais. Os 20 municípios campeões de desmatamento de 2019 a 2021 são também os campeões de pobreza, desigualdade e baixo progresso social", apontam.
"Pedimos que se comprometam com a retomada e atualização do Plano de Ação Para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia e que seja criada uma Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, tendo a bioeconomia da floresta, a educação, o desenvolvimento científico, a valorização dos saberes e culturas tradicionais e o estímulo ao empreendedorismo como seus eixos principais, como proposto pelo Painel Científico da Amazônia e por outras iniciativas existentes."
A carta foi assinada por: Aliança Cristã Evangélica Brasileira (ACEB), Confederação Israelita do Brasil (CONIB), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), Religiões pela Paz Brasil, União Nacional Islâmica (UNI), Federação Espírita Brasileira (FEB), Instituto Nangetu de Tradição Afro e Desenvolvimento Social Comitê Inter-religioso do estado do Pará. Casa Galiléia, Instituto Clima e Sociedade (ICS), Instituto de Estudos da Religião (ISER), Instituto Vladimir Herzog, Movimento pela Ética Animal Espírita (MOVE), Nós na Criação, Perifa Sustentável, Rede Cristã de Advocacia Popular (RECAP), Renovar nosso Mundo, Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), TEARFUND e Visão Mundial.
Confira a Carta Compromisso:
"AMAZÔNIA PARA SEMPRE
CARTA ABERTA DE COMUNIDADES RELIGIOSAS BRASILEIRAS PELA PRESERVAÇÃO DA AMAZÔNIA AOS CANDIDATOS E CANDIDATAS À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, GOVERNOS ESTADUAIS, SENADO E CÂMARA FEDERAL
Somos representantes de comunidades e organizações religiosas e manifestamos
nossa grande preocupação com a grave destruição do meio ambiente,
especialmente da floresta amazônica. Para nós, o amor ao divino, nas diversas
expressões do sagrado, das diferentes matrizes, inclusive aquelas das cosmovisões
indígenas, exige o cuidado com a vida na Terra e a natureza, que nos provêm
alimento, trabalho e a base de toda a vida em comunidade com nossos irmãos e
irmãs de fé.
A Amazônia é uma dádiva, é um paraíso na Terra, uma das mais maravilhosas
expressões do amor divino pela humanidade e por todos os demais seres da
natureza. Nela habitamos, dela dependemos para viver, nela encontramos beleza,
alimento, inspiração, saúde, alegria e esperança. Na harmonia de seus ecossistemas
encontramos o exemplo para vivermos em comunidade, cooperando uns com os
outros, através da compreensão de que tudo nela é solidário. No saber acumulado
pelos povos que habitam as florestas, temos a oportunidade de aprendermos como
viver em paz, entre nós e como parte da natureza.
Esse território abençoado é o lar de cerca de 180 povos indígenas conhecidos e
outros tantos isolados. A Floresta é lar também de grandes populações quilombolas
e de inúmeras comunidades locais e de cerca de 20% das espécies vivas existentes
no planeta. A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo é a grande fonte de
água doce para os oceanos e responsável pelo abastecimento hídrico de grande
parte do território brasileiro e do continente sul-americano. Cumpre papel
fundamental na regulação do clima do planeta, na ciclagem de carbono e de água e
fornece inúmeros produtos essenciais para a sobrevivência das populações locais e
para a economia brasileira. Guarda também um estoque gigantesco de carbono,
cuja conservação é vital para evitar o colapso climático da Terra.
Portanto, nos dirigimos aos senhores e senhoras para solicitar que exponham, em
suas ideias e práticas políticas, qual será seu compromisso e cuidado com a
preservação desta Casa Comum chamada Amazônia. Não podemos aceitar que a
destruição da floresta e de tudo o que ela representa para nós, seja tratada com
indiferença por parte das pessoas que pretendem governar esse vasto território de
fundamental importância para o planeta Terra e para toda a humanidade.
A M A Z Ô N I A P A R A S E M P R E
O panorama atual de devastação faz com que nos aproximemos cada dia mais do
momento em que nossa maravilhosa floresta amazônica deixará de ser a mais rica,
biodiversa e úmida, perderá seu dossel esplêndido, transformando-se em uma mata
savânica, com poucas espécies de plantas, árvores e animais. Temos pouco tempo
para agir a fim de evitar que a floresta seque ainda mais, aumentando a frequência e
o poder de devastação dos incêndios.
Estima-se que essa trágica situação deverá acontecer em alguns anos, como já
apontam instituições e relatórios científicos renomados, caso o desmatamento do
bioma atinja aproximadamente 25% de sua extensão. Já perdemos 21% da floresta
original e outros 20% dela estão muito degradados pela exploração ilegal de
madeira, garimpo e pelo fogo, sobretudo para abertura de pastagens e grilagem.
Apenas entre 2019 e 2021, foram destruídos 34.215 quilômetros quadrados de
florestas, uma área maior que muitos países, e perdemos 1,9 bilhão de árvores, o que
equivale a aproximadamente 20 árvores ceifadas por segundo. Isso sem contarmos
os bilhões de vidas perdidas ou extintas da fauna amazônica, como mamíferos,
insetos, répteis, aves e peixes, além dos micro-organismos do solo. Nesse mesmo
período, cerca de 2 bilhões de toneladas de CO2 foram liberadas na atmosfera, o
dobro da quantidade de CO2 emitida por toda a indústria da aviação mundial em
2019, agravando, assim, ainda mais a crise do sistema climático global.
Em 2021, as taxas de desmatamento aumentaram em todos os estados e atingiram
13.235 km2, um aumento de 75% em relação a 2018. Em apenas 3 dias deste mês, já
se registrou metade das queimadas ocorridas em todo o mês de setembro do ano
passado.
Ao contrário dos que dizem que o desmatamento é necessário para desenvolver a
região, constata-se que a perda da floresta tem sido acompanhada por sofrimento,
dor, miséria e desesperança para a maioria da população. A devastação caminha de
braços dados com o aumento da violência, da criminalidade e com as violações dos
direitos humanos, especialmente contra os povos indígenas e as comunidades locais.
Os 20 municípios campeões de desmatamento de 2019 a 2021 são também os
campeões de pobreza, desigualdade, violência e baixo índice de progresso social.
As promessas de desenvolvimento em seus programas de governo e plataformas
parlamentares dependem de recursos naturais da Amazônia, que foram
intensamente explorados no passado e que continuam sendo no presente, mesmo
em risco de esgotamento e extinção, para atender a demandas econômicas
nacionais e internacionais. O enfraquecimento das leis e da fiscalização ambientais e
o contínuo e impune aumento das atividades ilegais têm sido o fator de maior
devastação da floresta e agressão contra seus animais e suas populações.