Niterói tem aumento de casos de sífilis congênita
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Niterói tem aumento de casos de sífilis congênita

Atualizado: 22 de dez. de 2021

O médico e professor titular da Universidade Federal Fluminense (UFF) Mauro Romero, responsável pelo setor de pesquisa e clínica de doenças sexualmente transmissíveis (DST), entrou como uma ação na 2ª Vara Cível de Niterói, no dia 10 de dezembro, solicitando que o município apresente e execute um plano emergencial de combate à sífilis, em cumprimento à legislação de saúde que determina a notificação e acompanhamento de casos, mitigação da transmissão e o tratamento adequado aos infectados pela doença.

Foto: Fabio Rodrigues Pezzebon / Agência Brasil

No documento enviado à justiça, o médico se baseia, principalmente, nos dados da pesquisa realizada na UFF pela professora Andressa Heringer, sob orientação das docentes Helia Kama e Sandra Brignol, sobre a sífilis congênita em Niterói. A doença é transmitida da mãe para o bebê durante a gravidez, na hora do parto ou na amamentação. O levantamento levou em conta as fichas de notificação do Sistema Nacional de Atendimento Médico (SINAM), da rede pública de saúde. Dos 754 casos de sífilis congênita analisados, em grande parte das fichas de notificação o preenchimento não estava correto ou era incompleto.


Os dados obtidos pela pesquisa, segundo o médico, são preocupantes. Para cada mil bebês nascidos vivos em Niterói, a média de sífilis congêntia é de 11,9%. A indicação ideal da Organização Mundial de Saúde (OMS), é de 0,5% para cada mil nascidos vivos. A pesquisa revela, ainda, que 39,4% dos diagnósticos são feitos apenas na hora do parto. Dos 89,6% de gestantes com pré-natal realizados no município, 58% tiveram mais de 7 consultas no pré-natal, 52,9% receberam tratamento inadequado, 46,1% não tiveram tratamento e somente 1% foi efetivamente tratado.

O médico e professor da UFF, Mauro Romero, especialista em DST / Reprodução

Os números, na opinião de Mauro Romero, são muito elevados para uma cidade como Niterói, com alto índice de qualidade de vida. Além dos meios, a cidade possui, segundo ele, uma gestão capaz de elaborar um plano eficiente de mitigação à doença, mas considera que existe inação por parte da Vigilância Epidemiológica do município.


"Niterói pode eliminar a sífilis congênita em um ano, se adotar os procedimentos corretos. Não sou inimigo dos gestores e essa não é uma ação de conflito. Inclusive, me coloco à disposição para colaborar diretamente em toda e qualquer ação da prefeitura no sentido de combater a doença. Mas a situação vem se agravando e é preciso frear esse avanço. A sífilis congênita está sendo negligenciada no município e a prova disso é que apenas 1% dos casos foram tratados", avalia.


Romero explica que, se a mãe for diagnosticada e medicada com antibiótico (penicilina) até a 36ª semana da gestação, a transmisão para o bebê poderá ser evitada. No caso de Niterói, ele afirma que há atraso no diagnóstico e que, por conta disso, 40% das mulheres que possuem a doença só descobrem que estão infectadas na hora do parto.


O professor, que há 40 anos se dedica ao tratamento de DST no país, é curador emérito da exposição 'Sífilis: História, Ciência, Arte', realizada pelo Ministério da Saúde e em cartaz no Paço Imperial, na Praça XV, até 20 de fevereiro de 2022. O objetivo da mostra é difundir conhecimento sobre a doença pelo viés da educação em saúde. A exposição estimula o visitante a não só conhecer mais sobre a sífilis, mas a adotar medidas de prevenção e controle da infecção.

Visita de alunos da escola José do Patrocínio (São Gonçalo), à exposição sobre sífillis no Paço Imperial / Divulgação

Subnotificação e pandemia


Os casos de sífilis adquirida, ou seja, a infecção por contato sexual, cresceram de forma alarmante no Brasil nos últimos 11 anos, especialmente nos grandes conglomerados urbanos. Mauro Romero conta que em uma única manhã, durante uma campanha com realização de exames nas ruas do Centro do Rio, foram detectados 25 positivos.


Em 2019, o estado do Rio de Janeiro contabilizou 17.753 casos. E em 2020, foram 15.134. A queda, porém, conforme explica o professor, pode ser devido à subnotificação, à concentração dos esforços de saúde pública contra a covid-19 e a uma redução da busca por serviços de saúde para outras doenças durante a pandemia. Além disso, há ainda uma defasagem no envio de dados das unidades de atendimento ao Ministério da Saúde.


"O controle da sífilis adquirida é mais difícil porque as pessoas infectadas circulam por diferentes locais ou migram. No caso da sífilis congênita, o diagnóstico pode ser feito de forma bem mais simples, já que a gestante passa pelo pré-natal", ressalta.


Em Niterói, a sífilis adquirida infectou 627 pessoas em 2019, e 473 em 2020. Mas em relação à manifestação congênita, houve aumento significativo, passando de 110 casos, em 2019, para 161 em 2020.


"Há falhas no pré-natal, em primeiro lugar. O município é obrigado por lei a notificar os casos de sífilis e gonorréia, e a tratá-los. O tratamento é simples e de baixo custo. Já o bebê infectado precisa internação em UTI neonatal, que muitas vezes chega a meses. Não há razão para que tantos casos de sífilis congênita ocorram na cidade. É preciso contratar mais pessoas, adotar os procedimentos corretos no pré-natal e tratar as gestantes antes das 36 semanas de gravidez. Niterói pode fazer isso. É uma das raras cidades do país que conta com um serviço de DST (doenças sexualmente transmissíveis) para a população há mais de 30 anos, na UFF", finaliza Romero.


Reorganização da rede


Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Niterói informou que "a ampliação da prevenção e tratamento da sífilis é uma das metas estabelecidas no Plano Municipal de Saúde. A secretaria está em contato com o professor da UFF, Mauro Romero, para apoio técnico e científico.


O município participa do projeto "Sífilis Não: piloto colaborativo para prevenção da transmissão materno-fetal da sífilis", organizado pela OPAS (Organização Panamericana de Saúde), em parceria com a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e pelo IHI (Institute for Healthcare Improvement), desde agosto.


Além disso, a recém criada Linha de Cuidado Materno-Fetal-Infantil prioriza, dentre outras ações, o enfrentamento à sífilis congênita, através da reorganização da rede assistencial da mulher e da criança e da formação dos novos profissionais concursados, que chegarão no início do ano de 2022".

'Herança': em 1906 o pintor holandês Edvard Munch já retratava os efeitos da sífilis congênita / Reprodução

No Brasil


A sífilis é uma doença infecto contagiosa de tratamento e erradicação possíveis, mas com consequências bastante danosas quando não tratada a tempo. Por essa razão, está entre as doenças de notificação compulsória pelos profissionais de saúde, sob pena de responsabilização no âmbito jurídico.


De 2010 a 2020, o Brasil registrou 783 mil casos de sífilis adquirida, com crescimento significativo da doença. Em 2010, foram 3,925 mil ocorrências dessa infecção e, uma década depois, o número subiu para 152,9 mil, total 39 vezes maior.


Conforme dados do Ministério da Saúde, de janeiro a junho de 2020, entre janeiro e dezembro de 2019, o sistema de vigilância epidemiológica informou a ocorrência de 152,9 mil casos de sífilis adquirida, o que equivale à média mensal de 12,8 mil registros. Em 2018, foram 158,9 mil ocorrências, ou 13,2 mil por mês. Apesar da constatação de uma tendência de queda de um ano para outro, a variação não chegou a 4% no período pré-pandemia (2018-2019).


Recém-nascidos


De acordo com o Ministério da Saúde, a sífilis afeta principalmente a população masculina. Dos 783 mil casos registrados entre 2010 e 2020, 59,8% eram de homens e 40,2%, de mulheres. Entretanto, muitas mulheres só revelam sintomas durante a gestação, o que acarreta alto risco de contaminação dos recém-nascidos.


A presença de sífilis na gestação pode afetar a criança e causar complicações. O recém-nascido pode apresentar sintomas que incluem baixo peso ou dificuldade de ganhar peso, sequelas neurológicas, inflamação articular, dores nos ossos, perda visual, audição reduzida ou surdez, entre outros. A doença comumente é responsável por abortos espontâneos, prematuridade e óbito neonatal.




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