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Nome de Bolsonaro aparece em investigação sobre morte de miliciano


Uma reportagem exclusiva do site The Intercept Brasil neste sábado (24) revelou que o nome do presidente Jair Bolsonaro aparece nas investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre a morte do ex-capitão do Bope Adriano Nóbrega, chefe da milícia Escritório do Crime. Nóbrega também foi investigado por ligações nas rachadinhas no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro e na morte de Marielle. O miliciano chegou a ser condecorado por Flávio com a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio, por recomendação de Bolsonaro, que o chamou de "herói", uma semana após a sua morte na Bahia.


Por Sérgio Ramalho, do Intercept Brasil

"Diálogos transcritos de grampos telefônicos sugerem que o presidente Jair Bolsonaro foi contactado por integrantes da rede de proteção do ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, chefe da milícia Escritório do Crime. As conversas fazem parte de um relatório da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio elaborado a partir das quebras de sigilo telefônico e telemático de suspeitos de ajudar o miliciano nos 383 dias em que circulou foragido pelo país.

Logo após a morte do miliciano, cúmplices de Adriano da Nóbrega fizeram contato com “Jair”, “HNI (PRESIDENTE)” e “cara da casa de vidro”. Para fontes do Ministério Público do Rio de Janeiro ouvidos na condição de anonimato, o conjunto de circunstâncias permite concluir que os nomes são referências ao presidente Jair Bolsonaro. “O cara da casa de vidro” seria uma referência aos palácios do Planalto, sede do Executivo federal, e da Alvorada, a residência oficial do presidente, ambos com fachada inteiramente de vidro.

Após as citações, o Ministério Público Estadual pediu que a justiça encerrasse as escutas dos envolvidos nas conversas, apesar de eles seguirem trocando informações sobre as atividades ilegais de Adriano da Nóbrega. A interrupção reforça a ideia de que trata-se do mesmo Jair que hoje ocupa o Planalto. O MP estadual não pode investigar o presidente da República. Em casos deste tipo, tem a obrigação constitucional de encerrar a investigação e encaminhar o processo à Procuradoria Geral da República, que tem esse poder. Questionada pela reportagem, a PGR não informou se recebeu ou não a investigação do MP do Rio até a publicação desta reportagem.

O Intercept já havia reportado sobre as escutas em fevereiro, quando mostramos como Adriano dizia que “se fodia” por ser amigo do presidente da República, e em março, quando detalhamos a briga pelo espólio deixado pelo ex-caveira. As referências a “Jair” e “cara da casa de vidro” constam em novos documentos recebidos pela reportagem, que, em conjunto com as escutas anteriores, permitem entender a amplitude das relações do miliciano e da rede que lhe deu apoio no período em que passou foragido.

Adriano da Nóbrega fugia da justiça desde janeiro de 2019, quando o Ministério Público do Rio pediu a sua prisão, acusando-o de chefiar a milícia Escritório do Crime, especializada em assassinatos por encomenda. Ex-integrante da elite do batalhão de elite da Polícia Militar do Rio, ele foi expulso da corporação em 2014 por relações com a máfia do jogo do bicho.

As conversas de apoiadores do miliciano com supostas referências ao presidente começaram a aparecer nos grampos a partir do dia da morte de Adriano, em 9 de fevereiro de 2020, e continuaram por mais 11 dias. No dia 9 pela manhã, o miliciano foi cercado por policiais do Rio e da Bahia, quando se escondia no sítio do vereador Gilson Batista Lima Neto, o Gilsinho de Dedé, do PSL, em Esplanada, cidade a 170 quilômetros de Salvador. Segundo os agentes, o miliciano reagiu a tiros a ordem de se render. Os policiais reagiram e mataram Adriano com dois tiros."

Leia a matéria completa no site The Intercept Brasil:

https://theintercept.com/2021/04/24/grampos-comparsas-miliciano-adriano-da-nobrega-bolsonaro/


Pelo Twitter, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) foi um dos primeiros a reagir ante a divulgação da notícia, que envolve também o inquérito que investiga quem mandou matar a vereadora Marielle Franco. "Temos na presidência um sujeito que pode estar diretamente envolvido c/ a fuga e proteção do miliciano Adriano da Nóbrega. Procuradores federais que, ao contrário de Aras, respeitam o dever institucional da PGR [Procuradoria Geral da República] precisam reagir, e a Câmara tem que abrir o processo de impeachment", escreveu o parlamentar.