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"O bêbado e o equilibrista" e a questão do exílio dentro da democracia atual

Atualizado: 10 de jun. de 2020

Por Jorge Santana



Jean Wyllys, ex-deputado federal, é um dos brasileiros que se exilaram nos últimos anos. Foto: Reprodução

"O bêbado e o equilibrista" é uma musica atual Há poucas semanas morreu um dos compositores dessa famosa canção, o saudoso Aldir Blanc. O mestre Aldir não foi homenageado pela secretaria de cultura, pois era considerado um comunista. Logo, é taxado como inimigo da pátria. Voltando a música, a mesma fala dos tempos da ditadura civil-militar e aborda também o retorno de exilados políticos ao Brasil. Contudo, faz uma homenagem a um grande artista que também foi exilado: Charles Chaplin. Muitos não sabem, mas Chaplin (que era britânico) foi expulso dos Estados Unidos na década de 1950, pois era considerado socialista. Nesse momento em que falamos tanto de golpe e fim da democracia, pensei em como nós já temos exilados, sem que estejamos vivendo em uma ditadura.


Da mesmo forma que a América do Norte era uma “democracia”, mas perseguia e expulsava pessoas como Charles Chaplin, nos últimos anos posso citar alguns nomes de brasileiros e brasileiras que tomaram o rumo do exterior por terem suas vidas colocadas em risco. A antropóloga Débora Diniz saiu do Brasil em 2018, ao sofrer ameaças de morte por defender o direto reprodutivo da mulher. A cientista política Ilona Szabó saiu em 2019, por sofrer ameaças de morte. Ilona é conhecida por ter uma posição contrária ao armamento civil. O escritor, empreendedor e favelado Anderson França, deixou o Brasil em 2017, depois de ser ameaçado. Dinho, como é chamado, foi perseguido após denunciar um grupo que disseminava violência, racismo e apologia ao estupro na internet. A estudante Camila Montovani, de 24 anos, também seguiu para exterior. Por ser cristã e militante pró-aborto, recebeu inúmeras ameaças de morte. Com sua vida em risco, optou por sair do Brasil. Jean Wyllys, ex-parlamentar, foi duramente perseguido por defender a igualdade de direitos para gays, lésbicas e travestis. Por sua militância, foi também jurado de morte em 2019. Com o crescimento das intimidações e do empoderamento da extrema-direita, foi mais um a deixar o país.


Esse grupo formado por um favelado, uma antropóloga, um gay, uma cientista política e uma estudante, a priori, parece heterogêneo. Contudo, o que une os cinco é que foram para o exílio por defenderem ideias, as quais para 30% da população são inadmissíveis. A sentença moral para quem pensa diferente desses 30% da população, muitas das vezes é a morte. Quando Aldir Blanc e João Bosco compuseram “O bêbado e o equilibrista”, tinham esperança de que o tempo de brasileiros no exílio não voltaria nunca mais. Infelizmente, eles voltaram.


Jorge Santana é professor de História e doutorando em Ciências Sociais pela UERJ.

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