OMS mantém indicação de isolamento. Bolsonaro quer reabrir escolas e comércio

O presidente Jair Bolsonaro afirmou na manhã desta terça-feira (9), durante uma reunião ministerial, que escolas e o comércio podem ser reabertos mais rapidamente após a fala de uma funcionária da Organização Mundial da Saúde (OMS), acerca dos assintomáticos na pandemia da Covid-19.
O presidente aproveitou a recente fala da chefe da unidade de doenças emergentes da OMS, Maria Van Kerkhove, que declarou na segunda-feira (8) que já há estudos que apontam que transmissão da Covid-19 pelos assintomáticos é rara.
"Foi noticiado ontem [segunda-feira, 8], também de forma não comprovada ainda, como nada é comprovado na questão do coronavírus, que a transmissão por parte de assintomáticos é praticamente zero. Então, isso vai dar muito debate. Muitas lições serão tomadas. Com toda certeza isso pode ser analisada uma abertura mais rápida do comércio e a extinção daquelas medidas restritivas adotadas segundo decisão do Supremo Tribunal Federal, governadores e prefeitos", sentenciou Jair Bolsonaro, prevendo a retomada das atividades escolares.
Entretanto, o que Bolsonaro não comentou é que a fala da funcionária da OMS foi criticada pela comunidade científica, já que deu margem para interpretações equivocadas, e a OMS esclareceu nesta terça-feira que há registros de transmissão de Covid-19 por pacientes assintomáticos, mas que ainda não se sabe a dimensão do processo. "Estamos absolutamente convencidos de que a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo. A questão é saber quanto", afirmou o diretor de emergências da OMS, Michael J. Ryan.
De acordo com os epidemiologistas, há diferença entre assintomáticos (sem sintomas) e pré-sintomáticos, que são as pessoas que vão desenvolver algum sintoma da doença.
Posteriormente, a própria Van Kerkhove destacou que ela tratava dos países com grande capacidade de testagem e rastreamento, como Cingapura, país que tem adotado rigoroso rastreamento de contatos, quando fez o seu comentário sobre os assintomáticos.
A eterna cloroquina
Em pé de guerra com as orientações da OMS desde o início da crise do novo coronavírus, Bolsonaro ainda voltou a defender o uso da hidroxicloroquina para o tratamento dos infectados, embora não existam comprovações científicas da eficácia do medicamento – na verdade, vários estudos recomendam que não se utilize.
"A OMS nas últimas semanas tem tido algumas posições antagônicas. A penúltima sobre a hidroxicloroquina foi determinada a suspensão da pesquisa depois voltou atrás. As pesquisas continuam, não temos a comprovação científica ainda, mas relatos de pessoas infectados e de médicos, em grande parte, tem sido favorável a hidroxicloroquina", afirmou.
O presidente fez referência à retomada dos estudos por parte da OMS, que haviam sido suspensos após um estudo publicado pela revista científica The Lancet apontar riscos. Contudo, o mesmo trabalho acabou sendo questionado e deixou de ser referencial, embora outras pesquisas já atestem os perigos da hidroxicloroquina no combate ao coronavírus.
Contra a imprensa
Sem mencionar a polêmica em torno da falta de transparência na divulgação dos números da Covid-19 no Brasil, Bolsonaro lamentou as mais de 37 mil mortes e 700 mil infecções e ainda aproveitou para alfinetar a imprensa, que teria ajudado a instaurar o clima de medo ao noticiar amplamente o avanço da doença.
"Esse pânico que foi pregado lá trás por parte da grande mídia começa talvez a se dissipar levando em conta o que a OMS falou por parte do contágio dos assintomáticos. O governo federal espera algo de concreto nas próximas horas, nos próximos dias, o que será muito bom para o Brasil e o mundo. A OMS falará com certeza sobre as suas posições adotadas nos últimos meses, o que levou muita gente a segui-la de forma cega", completou.
Endossando a visão de Bolsonaro sobre a OMS, o chanceler Ernesto Araújo criticou a entidade, que estaria tendo uma aparente falta de independência, transparência e coerência. Ele ainda sinalizou o alinhamento brasileiro com os Estados Unidos ao criticar a organização, cobrando informações como a origem do vírus.
"A origem do vírus, o compartilhamento de amostras, o contágio por humanos, os modos de prevenção, a quarentena, o uso da hidroxicloroquina, a indumentária de proteção e agora na transmissibilidade por assintomáticos. Em todos esses aspectos a OMS foi e voltou, às vezes mais de uma vez. Isso nos causa preocupação", comentou.
Com Agência Sputnik