OMS: povo brasileiro com "mãos atadas nas costas"

No momento em que o Brasil atinge a marca de 100 mil mortos pela Covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta em relação à pandemia e ao descaso do presidente Jair Bolsonaro, dizendo que o governo não pode deixar a sociedade "com as mãos atadas nas costas".
Numa resposta direta ao comportamento do presidente Bolsonaro que voltou a fazer campanha pela hidroxicloroquina, questionou o isolamento social e criticou vacinas que possam vir da China, a OMS alertou que a proliferação do novo coronavírus no Brasil não cai, a cloroquina não funciona e a doença continua ativamente se espalhando pelo país.
A OMS recomenda que o distanciamento social precisa ser mantido no Brasil, assim como a ajuda financeira à sociedade. "O governo deve continuar a dar apoio à sociedade. É difícil agir como comunidade se não recebe apoio. Não se pode empoderar comunidades com palavras. Elas precisam de ações. Ela precisa de recursos e conhecimento. Sociedades não podem agir com as mãos atadas nas costas. Elas precisam receber recursos e meios para agir", alertou o chefe do programa de emergências da OMS, Mike Ryan, que conhece a realidade do povo brasileiro e concluiu: "É muito difícil para muitos no Brasil. Muitos vivem em locais lotados e na pobreza".
Cloroquina e vacinas
Classificando o novo coronavírus como simples, brutal e cruel, Ryan ainda alertou mais uma vez sobre a hidroxicloroquina, substância já descartada pela comunidade científica para casos da Covid-19 em todos os estágios, mas que segue sendo exaltada e recomendada pelo presidente Jair Bolsonaro. "Em uma situação como essa, a hidroxicloroquina não é uma solução e nem uma bala de prata", avaliou.
Sobre a insinuação de Bolsonaro de que vacinas chinesas não seriam eficientes - uma delas está sendo produzida em cooperação com o Instituto Butantan, em São Paulo -, o diretor da OMS respondeu que "todas as vacinas serão colocadas sob o mesmo teste rigoroso. Não há motivo para ter suspeita de nenhuma delas neste momento". E garantiu que a OMS não dará o sinal verde para nenhuma das 160 vacinas sob teste hoje se não houver eficiência e segurança.
O chefe da OMS ainda pediu que autoridades, profissionais e as populações mundo afora tenham consciência de que o momento é de foco no combate reconhecido pela ciência.
Até aqui, o novo coronavírus atingiu 210 países desde que os primeiros casos foram identificados, em dezembro de 2019, na China. Quase 20 milhões de pessoas já foram infectadas pela doença e aproximadamente 730 mil morreram.