Pais de João Pedro fazem protesto contra absolvição de policiais
Um ato de protesto ocorreu na manhã desta quinta-feira (11/7), em frente ao Tribunal de Justiça do Rio, Centro da capital, contra a decisão da Justiça que absolveu os três policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) pela morte do adolescente João Pedro Mattos Pinto, ocorrida durante uma operação no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no dia 18 de maio de 2020.
Os pais do adolescente, Rafaela Mattos e Neílton da Costa, participaram da manifestação, que reuniu mais de 30 pessoas, a maioria de movimentos de familiares de vítimas de violência do Estado. Eles afirmaram que vão recorrer até a última instância em busca de Justiça, negaram o entendimento da juíza Juliana Bessa Ferraz Krykhtine de que os executores agiram em legítima defesa e afirmam que não havia confronto com traficantes no momento da morte.
"Esse é um ato de mobilização para que algo seja feito, para que a justiça seja feita. Há quatro anos atrás eu acreditava na justiça, lutava por justiça. E agora eu tenho essa sentença que me deixa muito triste, deixa a minha família triste. É como se perdessemos o João pela segunda vez, mas não vamos desistir de lutar", afirmou Rafaela.
A mãe de João Pedro reclamou que a magistrada impediu que os policiais fossem julgados pelo Tribunal de Júri. Mas diz que não vai desistir de punição dos responsáveis pela morte do filho.
"Ela deu a sentença por ela mesma, e nós vamos correr atrás e lutar enquanto tiver recurso. É uma decisão e nós não vamos nos calar", disse ela.
Para o pai do adolescente, Neílton da Costa, a juíza ignorou as provas do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e da Defensoria Pública, assim como os depoimentos de outros adolescentes que estavam na casa no momento em que João Pedro foi atingido. Ele conta que ficou indignado com alegação de legítima defesa.
"Como poderia ser legítima defesa, se dentro da casa só tinha adolescentes e jovens brincando?", indagou. "Não teve confronto, não tinha ninguém armado. Isso é um absurdo. Não pode ficar assim, tem que mudar".
A diretora-executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck, também esteve presente na manifestação. Segundo ela, a decisão da juíza é uma mensagem de impunidade:
"É muito preocupante. Essa mensagem até o momento é de impunidade. A gente espera que o sistema reverta isso e traga a justiça. São quatro anos de espera para a família de João Pedro. A gente viu recentemente o caso lá de Ipanema em que a brutalidade policial provocou do Estado brasileiro um pedido de desculpas às famílias dos jovens negros. Aqui, se trata de um jovem negro assassinado injustamente, sem justificativa, pelas polícias brasileiras. Não se ouviu uma palavra. A única mensagem que a gente vê, além do atraso, além da demora, além do sofrimento das famílias, é a impunidade. É preciso parar com isso", observou Jurema.
Em nota, o Tribunal de Justiça informou que, "de acordo com a sentença da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, os réus Mauro José Gonçalves e Maxwell Gomes Pereira foram absolvidos sumariamente da morte do adolescente João Pedro, de 14 anos, em maio de 2020, em São Gonçalo, por legítima defesa. Já o acusado Fernando de Brito Meister foi absolvido sumariamente por não ter participado da morte do adolescente considerando que o projétil que atingiu a vítima era de calibre diverso do fuzil que ele portava. Os três foram absolvidos sumariamente da acusação de terem alterado o cenário do crime devido, de acordo com a decisão, à falta de materialidade e indícios de autoria".
*Com informações do g1
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