Porta-voz da PM é exonerada após ataque a jornalista
O governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), determinou nesta quarta-feira (9) a exoneração da tenente-coronel Gabryela Dantas do cargo de porta-voz da Polícia Militar. Gabryela gravou um vídeo em que ela aparece fazendo críticas e ofensas pessoais a um repórter dos jornais O Globo e Extra pela publicação de uma matéria com dados oficiais da própria Polícia Militar para mostrar o aumento do consumo de munição por policiais do batalhão investigado pelas mortes das meninas Emilly e Rebeca, no último sábado, em Duque de Caxias.
O vídeo foi divulgado nos canais da PM nas redes sociais e gerou uma onda de ataques ao jornalista. O vídeo chegou a ser compartilhado como sendo oficialmente da PMERJ: "Assista o posicionamento oficial da Secretaria de Estado da Polícia Militar sobre matéria", dizia a mensagem no Instagram.
Num linguajar raivoso, a porta-voz da corporação qualificou o trabalho jornalístico como "ilação irresponsável e mentirosa" e ainda "covarde e inescrupulosa", entre outros adjetivos, e incentivou o compartilhamento do vídeo.
De acordo com informação da Folha de S.Paulo, o governador tomou a decisão depois de conversar com o comandante do batalhão investigado e com o secretário de Polícia Militar, coronel José Rogério Figueiredo. E que Castro foi informado que a decisão de gravar o vídeo foi tomada pela própria tenente-coronel sem autorização do comando. Castro determinou também a exclusão do vídeo das redes sociais da PMERJ. Antes disso acontecer, o vídeo já havia sido compartilhado mais de mil vezes.
Ataque bolsonarista
A deputada federal Major Fabiana (PSL-RJ), oficial da PM, em tom ameaçador, escreveu na sua conta no Twitter: "Que a classe jornalística entenda o recado e comporte-se com ética. É só o começo".
O deputado estadual Anderson Moraes (PSL) definiu a reportagem como "desinformação" e ofendeu o jornalista. "A quem interessa tanta desinformação? Vermes defensores de vagabundos", disse, sem demonstrar entendimento sobre o conteúdo da apuração da matéria jornalística.
Outro bolsonarista que compartilhou o vídeo foi o deputado estadual Daniel Silveira, também do PSL, partido pelo qual Jair Bolsonaro se elegeu presidente da República. O parlamentar disse que trava-se de um "repúdio ao jornalismo mentiroso", apesar de não ter apresentado qualquer prova do que estava afirmando.
Nota de repúdio do Globo
A Editora Globo se manifestou através de nota repudiando as declarações da tenente-coronel: "Faz parte da prática jornalística diária lidar com críticas, contestações e pedidos de reparação de alguma informação. No entanto, a Editora Globo repudia os ataques feitos pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, que, por meio de um vídeo oficial, classificou o repórter como inimigo da corporação e incentivou a população a divulgar vídeo. Não é papel de uma instituição de Estado atacar pessoalmente um profissional nem incitar a população contra ele", diz um trecho.
Entidades de classe e órgãos que atuam em defesa da liberdade de expressão e de imprensa também manifestaram repúdio à atitude da policial.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirmou que “incitar a população contra o jornalista mostra não só falta de respeito à liberdade de imprensa, mas claro objetivo de intimidar o repórter. O governo do Rio, cujo logotipo assina o vídeo, deve informar se concorda com esse tipo de recurso de ameaça à imprensa”.
O governador Cláudio Castro se manifestou pelo Twitter para reforçar a confiança no trabalho da polícia e para defender "o diálogo com a imprensa".
Comments