PRF articulou operações no 2º turno e tentou cobrir rastros
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Com o desenvolvimento das investigações, descobriu-se que as operações nas rodovias no dia do segundo turno foram um plano arquitetado com data, hora e encobrimento de informações que poderiam deixar pistas da ação articulada pela PRF e pelo Ministério da Justiça.
Anteriormente já havia sido ventilado que as operações da Polícia Rodoviária Federal durante o segundo turno das eleições, as quais dificultaram o acesso de eleitores aos locais para votação, não teriam ocorrido por justificativas dadas na época.
Mas agora sabe-se que a discussão foi realizada na sessão extraordinária do Conselho Superior da PRF, no dia 19 de outubro, e cercada pelo esforço da cúpula da corporação naquele momento para eliminar rastros de seu conteúdo, de acordo com o Globo.
O plano da "Operação Eleições 2022" foi repassado pelo diretor-geral Silvinei Vasques a todos os superintendentes da PRF na reunião do colegiado. Até mesmo a ata do encontro, que não consta na agenda de Vasques, foi manipulada para que não houvesse registro oficial da operação prevista para o segundo turno, segundo a mídia.
O documento indica a participação de 44 dos 49 integrantes do colegiado, entre diretores e superintendentes da PRF nos estados, e informa apenas a discussão de temas triviais, como o treinamento físico institucional da PRF e o cálculo das escalas de serviço em situações excepcionais, entretanto, o principal objetivo do encontro — planejar as blitzs que impuseram obstáculos em redutos de eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — não consta do documento.
Outro ponto que chamou atenção é que a convocatória dos diretores e superintendentes foi presencial, quando a discussão de temas gerais da corporação acontecem virtualmente.
Ao mesmo tempo, na entrada do auditório da sede nacional da PRF, os participantes precisaram entregar celulares e relógios a dois agentes do setor de inteligência da polícia para evitar que a discussão fosse gravada, relata o jornal.
O Globo afirma que ouviu cinco polícias rodoviários e que três deles disseram que, durante a reunião, Vasques disse que havia chegado a hora da PRF tomar lado na disputa eleitoral.
Sendo assim, o então diretor-geral pediu o engajamento dos presentes nas operações de 30 de outubro, especialmente no Nordeste. Enfatizou, ainda, que um segundo mandato de Bolsonaro traria benefícios a todos ali e à corporação, que teve suas prerrogativas expandidas durante o mandato do então presidente.
Ao final do encontro, nove participantes da reunião não assinaram a ata. Dos 44 participantes citados no documento, 37 registraram ter estado no encontro do dia 19.
As informações que subsidiaram a ordem de serviço oficializada pela PRF partiram do próprio Ministério da Justiça, comandado à época por Anderson Torres.
Anteriormente, no último dia 19, a ex-diretora de inteligência da pasta Marília Alencar, que é próxima de Anderson Torres (preso desde 14 de janeiro por omissão e conivência com os atos golpistas contra o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional), confirmou à Polícia Federal ter elaborado um mapeamento das cidades em que Lula teve desempenho superior ao de Bolsonaro no primeiro turno, conforme noticiado.
Vale também lembrar que, na noite anterior à votação, 29 de outubro, o Supremo Tribunal Federal proibiu a PRF e a PF de realizarem qualquer força-tarefa visando o transporte público de eleitores até a conclusão da votação.
Na véspera da votação, Vasques usou suas redes sociais para se manifestar sobre as eleições. "Vote 22. Bolsonaro presidente", escreveu o então diretor-geral da PRF. Logo depois, o Ministério Público pediu o afastamento de Vasques da corporação e em seguida a PRF o aposentou, com o ex-diretor tendo apenas 47 anos.