Projeto une pecuária e créditos de carbono em floresta nativa
No coração do Tocantins, Seu Zé Neto, um produtor rural de 87 anos, conhecido por sua simplicidade e sabedoria carrega uma paixão especial: o babaçu. As palmeiras de babaçu, que dominavam a paisagem da sua terra, eram muito mais que árvores para ele. Elas representavam vida, história e sustento. Com elas, Seu Zé Neto aprendeu a sobreviver e ensinou seus filhos e netos o valor da terra.
Com o passar dos anos, a pressão para derrubar as árvores e implementar uma lavoura aumentava. Muitos vizinhos trocaram as palmeiras por pastagens ou soja, mas ele se manteve firme.
“A terra nos dá o que precisamos. O babaçu é generoso, só precisa de cuidado, assim como a gente.”
Ele se tornou um guardião das árvores, enquanto outros cederam. Seu Zé Neto, um produtor rural de 87 anos, conhecido por sua simplicidade e sabedoria
Nesse cenário de conversação e desenvolvimento econômico, com apoio do Fundo Vale, nasceu a Caaporã, startup focada em sistemas agrossilvipastoris. A empresa está inovando com um projeto que integra a pecuária sustentável com a preservação dos babaçus.
O trabalho está sendo desenvolvido em uma fazenda em São Bento, interior do Tocantins, e combina a produção de gado de corte com a geração de créditos de carbono, ao mesmo tempo que apoia as comunidades extrativistas locais, que dependem do babaçu para sua subsistência. A iniciativa busca criar soluções inovadoras e de impacto socioambiental positivo.
Mais do que gado: uma pecuária que respeita a natureza
Diferente do que muitos imaginam, os sistemas silvipastoris não são apenas uma forma de integrar o plantio de árvores nas pastagens. Eles oferecem uma série de vantagens, tanto para o bem-estar dos animais quanto para o meio ambiente.
As árvores, por exemplo, proporcionam sombra e abrigo, reduzindo o estresse dos animais e, consequentemente, aumentando sua produtividade. Além disso, as raízes ajudam a preservar o solo, prevenindo erosão e melhorando a retenção de água, o que resulta em pastos mais saudáveis e férteis.
"O que torna esse projeto em Tocantins especial é que, além de plantarmos novas árvores nas áreas de pastagem, estamos preservando as palmeiras de babaçu nativas", explica Luis Fernando Laranja, CEO da Caaporã. "Essa combinação aumenta o sequestro de carbono, ajudando a combater a crise climática e a proteger a biodiversidade. E o mais interessante é que o carbono capturado pode ser convertido em créditos de carbono, gerando uma nova fonte de renda."
Produção de baixo carbono e tecnologia aliada ao campo
Para garantir uma produção pecuária sustentável, a Caaporã utiliza um manejo rotacionado das pastagens. Isso significa que cada área de pasto tem tempo para se recuperar, evitando superlotação e garantindo pastos de alta qualidade para os animais. Como resultado, há uma menor dependência de insumos externos, como fertilizantes e rações, o que diminui os custos e o impacto ambiental.
Além disso, a empresa investe em tecnologia de ponta para monitorar o uso das pastagens e a saúde do gado. Sensores e dados permitem ajustes precisos no manejo, otimizando os recursos e melhorando a eficiência da produção. O foco também está em dietas balanceadas que aceleram o ganho de peso dos animais, aumentando a produtividade em menos tempo.
Com seus quase 90 anos, o "senhor dos babaçus" caminha pelo campo, olhando para o alto das palmeiras e agora vê o gado, apontado por muitos como um vilão da floresta, descansar sob a sombra farta das árvores nativas. E, graças a ele, o babaçu continuou a dar sombra, frutos e esperança para as próximas gerações, que finalmente entenderam que preservar também é uma forma de progresso.
Valorização das comunidades locais e do extrativismo
O extrativismo do babaçu sempre foi uma atividade crucial para as famílias do norte do Tocantins, mas enfrentou desafios econômicos nas últimas décadas. No entanto, a empresa Tocantins Babaçu S.A. (TOBASA) encontrou uma nova forma de revitalizar o uso do coco de babaçu, focando na produção de carvão ativado, um material de alta qualidade utilizado em filtros de água. Isso trouxe uma nova oportunidade de mercado para as famílias locais, que puderam continuar com a coleta e venda do coco, garantindo uma fonte estável de renda.
O projeto da Caaporã vai além ao unir a pecuária sustentável com a preservação dos babaçuais, fortalecendo o extrativismo local e garantindo que a matéria-prima continue sendo vendida para a TOBASA. "Essa iniciativa é um exemplo claro de como é possível aliar inovação com a preservação ambiental, ao mesmo tempo que geramos impacto econômico positivo para as comunidades locais", afirma Patrícia Daros, diretora-executiva do Fundo Vale.
Meta Florestal 2030
A iniciativa da Caaporã integra a Meta Florestal 2030 da Vale, um compromisso voluntário que prevê a proteção de 400 mil hectares de florestas e a recuperação de 100 mil hectares de áreas além das fronteiras da empresa até 2030.
Para a recuperação dessas áreas, a Vale conta com a atuação do Fundo Vale, que realiza investimentos inovadores e fomenta negócios com potencial de ganho de escala baseados em práticas agrícolas, pecuárias e florestais que combinam diferentes tipos de cultivos e manejo para otimizar o uso dos recursos naturais, promover a biodiversidade e garantir a rentabilidade econômica. Os arranjos produtivos em implantação estão localizados nos biomas Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado.
Em 2023, o Fundo Vale investiu mais de R$ 50 milhões no desenvolvimento de iniciativas de recuperação ambiental na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica. Foram implementados sistemas como Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), Sistema Agroflorestal (SAF), regeneração natural e silvicultura diversificada. Com esses investimentos, mais de 4 mil pessoas foram beneficiadas direta ou indiretamente, por meio de capacitações e geração de postos de trabalho.
Fonte: Ascom Vale
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