Putin anuncia conclusão dos testes do míssil Burevestnik
- Mehane Albuquerque
- 29 de out.
- 3 min de leitura
Por Cíntia Xavier, correspondente do Jornal Toda Palavra em Moscou
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou no dia 26 de outubro que os testes do míssil de cruzeiro Burevestnik, dotado de uma instalação energética nuclear, foram concluídos. Em reunião com o Estado‑Maior, ele descreveu o armamento como um “produto único”, sem análogos no mundo, e disse que as “principais tarefas” dos testes foram cumpridas. Segundo Putin, ainda há uma agenda técnica e organizacional antes de qualquer decisão sobre colocá‑lo em serviço. O presidente também indicou que caberá definir a classe do sistema e as formas de emprego.

No ensaio do dia 21 de outubro, o chefe do Estado‑Maior, Valeri Gerasimov, informou que foram realizadas manobras verticais e horizontais e que o míssil demonstrou capacidade de contornar sistemas de defesa aérea e antimíssil. Em mensagens subsequentes, a RIA Novosti registrou que, nesse teste, o Burevestnik voou cerca de 14 mil quilômetros em 15 horas.
Já o porta‑voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou nesta segunda‑feira, 27 de outubro, que a Rússia “atua de forma consistente para garantir a própria segurança” e que o desenvolvimento de novas armas se dá nesse contexto. Ele acrescentou que os testes do Burevestnik “não têm nada” que deva tensionar as relações com os Estados Unidos, que já estão ao nível mínimo. Em outra declaração, Peskov sustentou que, diante de um “clima militarista” na Europa, Moscou precisa estar em condições de garantir sua segurança.
O vice‑chanceler Serguei Riabkov também comentou os mais recentes testes, afirmando que a Rússia segue cumprindo os acordos bilaterais com os EUA sobre notificações de lançamentos de mísseis e exercícios estratégicos. Questionado sobre incluir o Burevestnik nas contagens do tratado Novo START, ele classificou o tema como “abstrato e teórico”, lembrando que o cumprimento do acordo pela Rússia está suspenso e que seu prazo de vigência expira em 5 de fevereiro.
Ainda no domingo, Kirill Dmitriev, chefe do Fundo Russo de Investimentos Diretos e enviado especial do presidente para cooperação econômico‑financeira, declarou que Moscou já transmitiu aos “colegas americanos” informações sobre a reunião de Putin com o Estado‑Maior e sobre os testes bem‑sucedidos do Burevestnik.
Reações internas e externas começaram a aparecer em sequência. O presidente da Duma, Viacheslav Volodin, classificou os testes como um evento de grande importância e disse que o míssil reforçará a capacidade defensiva e a proteção da soberania. Dmitry Medvedev, vice‑chefe do Conselho de Segurança, parabenizou os “amigos” da Rússia pelo êxito dos testes.
No plano internacional, Pequim afirmou “ter tomado nota” das informações sobre o lançamento. Já nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump reagiu dizendo que Washington tem “o maior submarino nuclear do mundo” próximo às costas russas, em comentário feito ao responder sobre os testes do Burevestnik. A imprensa russa também registrou que Trump disse não “brincar de jogos” com a Rússia e que os EUA “constantemente testam mísseis”.
A cobertura da imprensa russa destacou ainda a repercussão em veículos ocidentais. O jornal Vedomosti resumiu reações de jornais estrangeiros aos testes, enquanto a RIA Novosti citou o analista Jeffrey Lewis, do Middlebury College, descrevendo o Burevestnik como um armamento “da esfera da ficção científica”, observação feita ao New York Times.
Segundo Putin, após o encerramento da fase de testes, o governo e os militares devem decidir sobre classificação do sistema, formas de emprego e eventual colocação em serviço de combate. O Kremlin insiste que o foco é a segurança nacional e que não busca agravar o quadro com Washington.
Paralelamente, o Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa mantém os canais formais de notificação com os EUA e descarta, por ora, discutir o enquadramento do míssil nos limites do Novo START.
*Com informações de RIA Novosti, Vedomosti e Izvestia.










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