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Quem foi Menina Benigna, cearense beatificada pelo Vaticano


(Reprodução)

Benigna Cardoso da Silva, conhecida como Menina Benigna, tinha 13 anos em 1941 quando foi brutalmente assassinada após resistir a um estupro em Santana do Cariri, no estado do Ceará. Reverenciada pelos católicos como mártir pela pureza e resistência ao feminicídio, ela foi beatificada pelo Vaticano na segunda-feira (24).


Mais de 300 padres e bispos e cerca de 20.000 pessoas de diversas partes do país viajaram ao município de Crato, na região do Cariri, para participar da cerimônia presidida pelo cardeal Leonardo Steiner, que representou o Papa Francisco.


“Exemplo benigno de não subjugação da mulher, defensora de sua própria força e valor, de dignidade e beleza, de sexualidade e maternidade, de vigor e ternura”, disse Steiner.


Beatificada 81 anos após sua morte, sua imagem, com um metro de altura e na qual aparece no vestido vermelho e manchas brancas que supostamente usava quando foi assassinada, foi transferida para sua cidade natal e, depois de abençoada na igreja, transportada procissão até o local onde foi sepultada.


Nesta quarta-feira, o papa destacou da Itália que Benigna, “seguindo a palavra de Deus, manteve sua vida pura, defendendo sua dignidade”.


O processo de beatificação teve início em 2013, quando a diocese do Crato recebeu do Vaticano o 'nihil obstat' (sem objeção) para iniciar a busca pelo título de beato. A cerimônia estava prevista para 2020, mas foi adiada devido à pandemia.


Benigna é a primeira beata do Ceará e a quarta mártir do Brasil e pode ser venerada em templos católicos de todo o país. Mas as peregrinações já duram décadas, nas quais seus fiéis lhe atribuem inúmeros milagres. Algumas das mulheres que o frequentam fazem-no com o já mítico vestido vermelho e são muitas as que recolhem água do poço para onde a santa foi antes de morrer.

(Foto: Divulgação/Diocese de Crato)

Símbolo contra a violência sexual

Nasceu em 15 de outubro de 1928 em Santana do Cariri. Depois de perder ambos os pais, ela e seus irmãos foram adotados por uma família. A menina descrita por sua modéstia, timidez e caráter meditativo, começou a ser assediada pelo jovem que acabaria por matá-la, Raul Alves, quando ela tinha 12 anos. Depois de consultar o vigário, aconselhou-o a mudar de escola. Assim o fez, mas isso não foi suficiente para deter Alves.


Às quatro da tarde de 24 de outubro de 1941, Benigna, que era amante da natureza, voltava de um poço quando foi abordada por Alves no caminho. Depois de se recusar a fazer sexo com ele, ele a matou com um facão e foi preso pouco depois.


"Um ódio feroz o invadiu. Ele sacou um facão e a golpeou, cortando os dedos de sua mão (...) em seguida, atingiu-o na cabeça, nas costas e finalmente no pescoço, um golpe que quase decepou a cabeça", explicam no site em memória da jovem.


Alves voltaria 50 anos depois ao local do crime, onde mostrou seu arrependimento.


Sua história se popularizou e passou a ser reverenciada como símbolo contra a violência sexual contra meninas e adolescentes. Desde novembro de 2019, o dia 24 de outubro se tornou o dia do combate ao feminicídio no Ceará, um dos estados com maiores índices de violência contra a mulher.


Em seu depoimento ao Vaticano para o processo de beatificação e divulgado pela imprensa local, Raimundo Alves Feitosa, 98 anos, que foi colega de classe de Benigna, disse que ela era uma "menina gentil, muito educada" e que "se destacava pela simplicidade e prudência".


"Sua fama de santidade e martírio é justa", afirmou.


Fonte: Agência RT