Rússia assume tom moderador no conflito israelense-palestino
- Da Redação
- 11 de out. de 2023
- 4 min de leitura
Cintia Xavier Dias
Correspondente-colaboradora do TODA PALAVRA em Moscou
Moscou, Rússia - Com uma das maiores diásporas judaicas do mundo, uma grande população judaica de origem russa vivendo em Israel e uma significativa porção de muçulmanos vivendo na Federação Russa, os russos acompanham com cautela as agressões entre palestinos e israelenses. Para a Rússia, esta é uma situação complexa e delicada, em vista de possuir relações tanto com Israel quanto com estados árabes, como Síria, Irã e Arábia Saudita. Tradicionalmente, a posição russa quanto ao conflito entre palestinos e israelenses apela à moderação e ao diálogo para buscar uma solução pacífica, com a necessidade de um cessar-fogo, a importância de retomar as negociações de paz, a condenação da violência e da escalada do conflito.

O secretário-geral da Liga dos Estados Árabes, Ahmed Aboul Gheit, visitou Moscou na segunda-feira (9), já depois dos acontecimentos de sábado (7), a convite do Ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, para discutir o fortalecimento das relações entre a Federação Russa e a Liga Árabe. Além das questões regionais e internacionais, os recentes eventos também foram mencionados. Ao lado do secretário-geral, durante a coletiva de imprensa, Lavrov enfatizou que “os acontecimentos recentes em Gaza e nos territórios palestinos aumentam a urgência de intensificar nossa coordenação de política externa. Defendemos ser inaceitável cometer violência, causar danos, matar civis pacíficos (de ambos os lados) ou tomar mulheres e crianças como reféns”.
Segundo o ministro, “é necessário entender as razões pelas quais a questão Palestina não foi resolvida por décadas” e reforçou que a criação de “um Estado palestino ao lado de Israel é a melhor solução para resolver o conflito”, conforme as Iniciativas Árabes de Paz e as decisões da ONU. Lavrov também mencionou que “os Estados Unidos estão tentando desviar a agenda de paz e cancelar as decisões do Conselho de Segurança da ONU”. “Discordamos daqueles que afirmam que a segurança só pode ser alcançada por meio da luta contra o terrorismo”.
Já na terça-feira (10), o presidente Putin recebeu a visita do premiê iraquiano, Mohammed al-Sudani, no Kremlin, e pela primeira vez se pronunciou sobre os eventos. O encontro teve o propósito de discutir as perspectivas de cooperação entre os dois países, bem como sobre o trabalho da OPEP+. O presidente reforçou o discurso de Lavrov, no dia anterior, de que os Estados Unidos, no âmbito do Conselho de Segurança da ONU, tenta impedir o desenvolvimento de um acordo aceitável a ambas as partes e os recentes acontecimentos representam “um exemplo claro do fracasso da política dos Estados Unidos no Oriente Médio”.
A visita do premiê, assim como a visita do secretário-geral da Liga Árabe, já estava marcada com antecedência, apesar do “timing perfeito”, em relação aos recentes acontecimentos. Da mesma forma, segundo a RIA Novosti, começaram recentemente as preparações para a visita do presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, a Rússia, conforme uma declaração do embaixador palestino na Federação, Abdel Hafez Nofal.
Já na quarta-feira (11), foi a vez do secretário de imprensa presidencial, Dmitry Peskov, conceder uma declaração para o jornalista russo Pavel Zarubin, em seu canal do Telegram. “A Rússia está em diálogo com Israel e a Palestina; é importante que Moscou mantenha uma abordagem equilibrada para participar na resolução do conflito entre eles. (…) É claro que não podemos deixar de condenar atos que não podem ser chamados de outra coisa senão terrorismo. Mas também não devemos esquecer o que é o precursor desta situação.”
Da Ucrânia para o Hamas
Já em entrevista exclusiva à Sputnik, o tenente-coronel aposentado da República Popular de Lugansk, especialista militar Andrey Marochko, pontuou a importância do contrabando de armas ucraniano para a ofensiva do Hamas.
“A Rússia tem repetidamente manifestado em plataformas internacionais que as armas têm espalhado-se incontrolavelmente a partir do território da Ucrânia por todo o mundo desde 2014. Quando falamos sobre isto, disseram-nos que estas teses são “propaganda russa”. Em todo o planeta, há um forte aumento de ataques terroristas, um aumento de conflitos acirrados. Isso significa que surgiu uma oportunidade para isso. Não haveria caos mundial se a ONU ouvisse a Rússia. Para iniciar as hostilidades, é necessária uma enorme quantidade de armas e munição, e todos sabemos muito de onde essas armas estão vindo. Ao mesmo tempo, os países ocidentais fornecem armas aos terroristas que contornam a Ucrânia. Ou seja, no papel, [o fornecimento tem a desculpa de atender] as necessidades de Kiev, mas na realidade [os armamentos vão] para todos os pontos do mundo, armando organizações extremistas”.
Para a Rússia, uma posição equidistante e holística, compreensiva com as demandas palestinas, é crucial para a estabilidade da região e para as suas relações tanto com Israel, quanto com os países do mundo árabe. O conflito aberto, na pior das hipóteses, pode desencadear episódios de violência generalizada com o envolvimento de outros países, além de fortalecer, novamente, a posição geopolítica dos Estados Unidos na região.
Míssil em mesquita atinge a Chechênia
Recentemente, como informado pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel, supostamente a mesquita que leva o nome de Akhmat Kadyrov, ex-chefe da República Chechena, pai de Ramzan Kadyrov, atual chefe da república, foi atingida por um míssil, próximo a Jerusalém. Kadyrov também se pronunciou recentemente em suas redes sociais. Lembrando seu apoio à Palestina, pediu o fim das hostilidades entre os dois países e destacou que, caso haja necessidade, “as nossas unidades estão prontas para agir como forças de manutenção da paz para restaurar a ordem e combater quaisquer criadores de problemas”, conforme relatado pela agência de notícias russa RIA Novosti.
“Apelo à comunidade internacional para que pelo menos uma vez por unanimidade tomem uma decisão justa sobre a situação na Palestina. Apelo aos líderes dos países muçulmanos: criem uma coligação e apelem àqueles a quem chamam amigos, à Europa e a todo o Ocidente, para não bombardearem civis sob o pretexto de exterminar militantes”.
Ainda segundo a agência de notícias, o Hamas informou que entre aqueles israelenses feitos reféns, há cidadãos com dupla nacionalidade, incluindo a russa. Um membro do Politburo do Hamas informou que está em contato com as autoridades de Moscou para tratar dos prisioneiros com segunda cidadania russa. No entanto, segundo Aliya Zaripova, secretária de imprensa da missão diplomática russa em Ramallah, ainda não há confirmação de russos-israelenses entre os prisioneiros.
Com informações de Ria Novosti, Sputnik e Коммерсантъ.
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