Requião apresenta programa em defesa da soberania do Brasil
- Da Redação
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Por Osvaldo Maneschy*
Os integrantes do Diretório Nacional do PDT, reunidos no Rio em convenção neste sábado (6/12), decidiram que o ‘Programa para o Brasil’ escrito pelo ex-governador do Paraná Roberto Requião e lido pessoalmente por ele no encontro será a linha básica de atuação do partido nas eleições presidenciais do ano que vem, fechando no voto e por unanimidade o item um da ordem do dia da convenção que incluiu, como segundo ponto de pauta, relatório das direções do PDT nos Estados sobre a construção de nominatas para deputados federais e estaduais e, ainda, assuntos gerais.

Requião, ao final da leitura de seu programa para o Brasil e sob aplausos dos dirigentes do PDT, em votação encaminhada pelo presidente nacional da legenda, Carlos Lupi, teve o seu programa aprovado pela unanimidade dos convencionais encerrando o item um da Ordem do Dia. Ainda sob os aplausos dos presentes, o ex-governador e ex-senador pelo Paraná também teve o seu nome lançado à presidência da República em 2026 como pré-candidato do PDT. O texto escrito por Requião foi aplaudido 26 vezes à medida que trechos eram lidos. A íntegra do programa, segue no final da matéria.
Ao retomar a palavra depois de abrir a convenção e imediatamente convocar Requião para o seu pronunciamento, ainda impactado pelo conteúdo da fala de Requião, Lupi disse: “Nós (do PDT) temos programa e um plano nacional de desenvolvimento, mas este texto do Requião é uma das peças políticas mais lindas que já vi neste partido: Requião, mesmo sem ser, sempre foi nosso”. Em pequeno aparte Requião explicou que seu bisavô, no mesmo ano da Proclamação da República, fundou um partido que não vingou embora defendesse o trabalho e os trabalhadores.
Lupi pediu à direção da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini para incluir o texto de Requião como base para o programa de 12 pontos que o partido está elaborando, via debates e reuniões por todo o país, para construir o documento “Compromissos com o Brasil” a ser defendido por todos os candidatos do PDT nas eleições do ano que vem. Também anunciou a data da convenção nacional do PDT que aprovará o posicionamento do partido sobre as eleições presidenciais: 20 de julho do ano que vem, após a realização das convenções municipais e estaduais.
A convenção nacional teve o objetivo consolidar o planejamento estratégico e avançar com o processo de formação de chapas competitivas nos estados. O encontro tratou de ações para garantir a ampliação das bancadas do PDT no Congresso e a superação da cláusula de barreira em 2026.
Além da Executiva Nacional, de presidentes estaduais, de prefeitos, de parlamentares e membros dos movimentos nacionais do partido, a atividade lotou o auditório da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (FLB-AP) no Centro do Rio de Janeiro na sexta e no sábado, em reuniões que abordaram as conjunturas locais, o fortalecimento dos movimentos e a construção de ações integradas de qualificação e mobilização.
Na sexta-feira (5), lideranças dos movimentos nacionais do PDT estiveram reunidos com Lupi para debater indicativos temáticos que foram incorporados à pauta analisada. Ao exaltar a força do partido para seguir sem realizar federação com outras siglas, Lupi fez uma avaliação do progresso do partido e o potencial de ampliar as bancadas.
“Temos que ter noção prática das nossas ações para superar a cláusula de barreira e ter, no Congresso Nacional, uma bancada fortalecida. É um dos nossos instrumentos de luta. Temos capacidade para resistir e enfrentar, minha estrela de luz é Leonel Brizola”, afirmou. Anunciou tambem a filiação do ex-senador e ex-presidente da Petrobras Jean Paul Prates, que ocorrerá em Natal (RN) na próxima sexta-feira (12).
Sobre alianças, frisou que “nenhuma federação deu certo até hoje. Nós temos que sonhar e acreditar nas nossas ideias. O Trabalhismo tem uma história única e comigo presidente, o PDT nunca será puxadinho de ninguém. Faremos, sim, alianças para avançar”, completou.
Vice-presidente nacional e presidente estadual da sigla no Ceará, o deputado federal André Figueiredo valorizou a história do partido para seguir construindo uma atuação marcante do Trabalhismo. “Temos a responsabilidade de manter a chama de Brizola viva e Lupi tem percorrido todas as unidades federativas para fortalecer o partido com a chegada de quadros como o Requião. O PDT é uma voz que não se curva a pressões e uma trincheira de resistência democrática“, comentou, ao exaltar a trajetória de Manoel Dias.
Juliana Brizola, presidente da Ação da Mulher Trabalhista (AMT) e pré-candidata ao governo do Rio Grande do Sul, ratificou a posição de buscar a transformação do estado a partir das bandeiras e valores do PDT e seus líderes.
“A candidatura é uma missão, pois sou soldada do PDT. Tenho compromisso com o meu único partido e vejo o chamamento do povo. Desconsidero a necessidade de fusão, pois temos que manter a nossa identidade. Nós temos legitimidade nas conquistas dos brasileiros. O PDT vai comandar essa revolução com a força de Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola”, garantiu.
Ex-governador do Paraná, Roberto Requião também apresentou a proposta aprovada pelo plenário, por unanimidade, do programa para o Brasil com vistas ao desenvolvimento econômico socialmente responsável. “Nosso programa deve transcender questões políticas e correntes de opinião. É focar na promoção da qualidade de vida do povo a partir de recursos em educação, saúde e infraestrutura”, detalhou, criticando a independência do Banco Central, as taxas de juros praticadas no país e o baixo valor do salário mínimo.
Presidente do PDT no Distrito Federal, a senadora Leila do Vôlei indicou que o Trabalhismo está em evidência para buscar as cadeiras no parlamento. “Não podemos abrir mão da nossa essência e energia. Seguimos lutando pelas nossas ideias e buscando a proposição de pautas efetivas para o povo. Estamos reconectados com as bases para vencer”, abordou.
Martha Rocha, secretária de Assistência Social e presidente estadual em exercício do PDT no Rio de Janeiro, evidenciou o potencial do partido para mobilizar lideranças orgânicas para ampliar a bancada na Câmara e assembleias. “A nominata não pode ser só responsabilidade de quem ocupa cargos na Executiva. Temos que sair com a responsabilidade de construir nominatas fortes “, afirmou.
A convenção nacional também aprovou, no voto, resolução proposta pela Ação da Mulher Trabalhista (AMT) que garante a designação de 30% de cargos no executivo ou legislativo para indicação de filiadas indicadas pelo movimento, bem como questões relacionadas ao fundo partidário e procedimentos para combater a violência de gênero.
O documento indicou ainda que núcleos de base também terão, na nomenclatura, o nome de Manoel Dias, secretário-geral nacional e presidente da FLB-AP, como forma de homenageá-lo.
O pronunciamento do ex-governador Requião, o primeiro diante da direção nacional do PDT, balizou a convenção. Logo no início de sua fala, leitura deum texto de 11 páginas, Requião citou Celso Furtado que “dolorosamente resume toda a tragédia do subdesenvolvimento brasileiro”.
-- ‘Nunca foi tão grande a distância entre o que somos e o que poderíamos ter sido’ e é, justamente aqui, que se impõe a nossa tarefa. Deve ser missão do PDT criar condições para encurtar e mesmo eliminar esse fosso entre as nossas potencialidades e a crua realidade de nosso país, hoje – destacou.
Requião citou os presidentes Getúlio Vargas e João Goulart como os líderes “que fincaram as estruturas para a construção de uma Nação Brasileira desenvolvida, justa e soberana” destacando que Jango e a sua luta pelas reformas de base “precisam ser lembrados e celebrados como as mais revolucionárias propostas para alforriar o Brasil do atraso, da dependência, da servidão, da exploração e da ignorância”.
É preciso, acrescentou o ex-governador agora filiado ao PDT, “oferecer ao país um programa que, definitivamente, nos desamarre dos pressupostos neoliberais que orientam as ações governamentais há décadas”. O Brasil “precisa de um programa corajoso, que tenha como guia os interesses nacionais e populares e não os interesses do mercado.
-- Precisamos de um programa que enfim que dê ao mercado, à banca, à globalização financeira e à rapinagem imperial uma soleníssima banana.
Na opinião de Requião o Brasil “precisa de um programa pedetista que honre nossas tradições trabalhistas e nacionalistas que deve ter a coragem do sacrifício de Vargas – e não a pusilanimidade dos tíbios e dos medrosos”. À medida que Requião alinhava as suas ideias, resumidas no texto, convencionais o aplaudiam.
Não faltaram críticas ao governo, com Requião frisando que é amigo de Lula há 40 anos, mas infelizmente o governo é maravilhoso no discurso, mas ruim na prática. Citou, entre outros exemplos, a decisão do STF desta semana em que o ministro Zanin, indicado e da total confiança do presidente Lula, votou a favor da privatização da Eletrobrás indo contra vários colegas seus do próprio STF. A mesma Eletrobrás que Lula, em discurso, enfaticamente, condenara a privatização.
Também de improviso e fora do texto, Requião citou o fato de o salário-mínimo atual do Brasil ser o segundo pior da América Latina, enquanto os juros pagos aos rentistas, altíssimos, impedem o país de crescer e se desenvolver.
Abrindo a lista de oradores estaduais, Lupi passou a palavra ao candidato do partido no Paraná, Maurício Requião, seguida da fala do deputado federal André Figueiredo (CE); mais representantes de diversos outros estados, como o deputado Mario Heringer (MG), Sirley, dirigente do PDT mineiro; Edivaldo Nogueira (SE); Giovanni Queiroz (PA); o candidato do PDT ao Senado pelo Rio de Janeiro, o ex-deputado federal (11 mandatos) Miro Teixeira; Juliana Brizola (RS), saudada por todos com o antigo jingle da campanha presidencial de Brizola de 1989, lá, lá, Brizola. E vários outros representantes estaduais, homens e mulheres, cada um fazendo curto relato das candidaturas e de como o PDT está se preparando para as eleições de 2026.
O último orador foi o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT), que se desculpou pela não participação na reunião dos movimentos partidários realizada um dia antes, 5/6, por estar recebendo mais de 500 prefeitos da América Latina, que participaram de encontro internacional de prefeitos realizado esta semana, por quatro dias, em Niterói.
(*) Osvaldo Maneschy é jornalista e filiado ao PDT. Com informações de Bruno Ribeiro, na página www.pdt.org.br )
Leia a íntegra do pronunciamento do governador Roberto Requião na Convenção Nacional do PDT realizada no Rio de Janeiro dia 06/12/2025:
“Há uma frase de Celso Furtado que resume dolorosamente toda a tragédia do subdesenvolvimento brasileiro. Dizia ele: “Nunca foi tão grande a distância entre o que somos e o que poderíamos ter sido”.
É justamente aqui que se impõe a nossa tarefa. Deve ser missão do PDT criar condições para encurtar e mesmo eliminar esse fosso entre as nossas potencialidades e a crua realidade de nosso país, hoje.
Somos herdeiros de Vargas, que fincou as estruturas para a construção de uma Nação Brasileira desenvolvida, justa e soberana. Somos herdeiros de João Goulart, cujas Reformas de Base devem ser lembradas e celebradas como as mais revolucionárias propostas para alforriar o Brasil do atraso, da dependência, da servidão, da exploração e da ignorância.
Portanto, temos pedigree e, à conta dessa genealogia, somos compelidos e obrigados a também oferecer ao país um Programa que, definitivamente, nos desamarre dos pressupostos neoliberais que orientam as ações governamentais há décadas. Um Programa corajoso, que tenha como guia os interesses nacionais e populares e não os interesses do mercado, como é hoje, foi ontem e haverá de ser amanhã, se não agirmos para romper esse ciclo de dependência e de covardia.
Um Programa, enfim que dê ao mercado, à banca, à globalização financeira e à rapinagem imperial uma soleníssima banana.
É impressionante e deprimente como todas as elaborações da esquerda, dos chamados progressistas, nas últimas décadas, sempre fazem reverências ao mercado, aos fundamentos econômicos neoliberais. Enchem-se de dedos e de pudores para não desagradar aos donos do dinheiro, aos grandes grupos econômicos nacionais e transacionais, e à mídia que os embala.
Não! Um Programa pedetista, que honre nossas tradições trabalhistas e nacionalistas, deve ter a coragem do sacrifício de Vargas. E não a pusilanimidade dos tíbios e dos medrosos.
Alinho aqui algumas ideais para o debate. Proponho que o PDT discuta, elabore e apresente aos brasileiros um Programa que guie o país para o desenvolvimento, o bem-estar, a paz, a segurança. Não me refiro a uma proposta para eleição, para um governo. O nosso Programa deve transcender as circunstâncias políticas e eleitorais. E, ao mesmo tempo, atrair para a discussão outros partidos e correntes de opinião.
Vamos, então a algumas ideais para a construção de nosso Programa.
O primeiro movimento para a reconquista do Brasil para o seu povo é a eliminação do tripé macroeconômico sobre o qual assentam-se as decisões governamentais. Tão pura e simplesmente isto: dinamitar o tripé, fazer pó desse pressuposto.
O câmbio flutuante, as metas de inflação e o superávit primário engessam e condicionam toda a vida do país. Sob o pretexto da estabilidade econômica, da atração de investimentos, para afagar e acalmar o mercado, a banca e os rentistas, o tripé macroeconômico limita a ação governamental e impede que se execute no país um programa que, minimamente, contribua para a promoção das condições de vida dos brasileiros.
Quem é que dá as cartas, o Lula, o Haddad ou as imposições do mercado através do tripé macroeconômico?
Dinheiro para a educação, para a saúde, para o saneamento, para a segurança pública, para obras de infraestrutura? Apenas se isso não sacudir uma das pernas do tripé, o equilíbrio das contas públicas. Não interessa que os brasileiros precisam, fala mais alto e impõem-se o que ditam as classes dominantes e seus agentes.
Sob a ditadura do tripé, não se distinguem governos ditos progressistas ou de direita: o corte de gastos sociais e a redução de investimentos públicos igualam-nos.
Enfim, como é possível pensar uma política governamental de investimentos pesados em industrialização, na inovação, em tecnologia, por exemplo, se as finanças públicas, se as ações públicas estão sob camisa de força, manietadas?
Demolido o tripé, devemos igualmente acabar com essa excrecência de Banco Central independente. Aliás, independente e incompetente, quando não promíscuo e omisso, basta ver o caso recente do Banco Master. E que não se culpe a diretoria anterior, a presente também vacilou.
O Banco Central deve se responsabilizar basicamente pelo desenvolvimento econômico, pela industrialização, pela criação de empregos. E pela definição da política de juros, regulamentada por lei, que privilegie a produção e não o rentismo. Não há como se praticar uma taxa de juros razoável, se a raposa continuar cuidando do galinheiro.
Abro aqui um parêntese para relembrar que durante o Governo João Goulart, a SUMOC, Superintendência da Moeda e do Crédito, criada por Getúlio Vargas, precedendo a implantação do Banco Central, foi uma das responsáveis pela elaboração do Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, junto com o Ministério do Planejamento, então comandado por Celso Furtado. Quer dizer, na gênese do Banco Central, o trabalhismo via na instituição um instrumento essencial para apoiar e acelerar o desenvolvimento brasileiro. Pois é, sessenta anos depois, estamos falando a mesma coisa, propondo a mesma coisa. Que tragédia!
Removido o tripé macroeconômico, redefinidas as funções do Banco Central, quebradas as pernas do rentismo, desatam-se as mãos do governo para investir em seu próprio povo.
Assim, na educação, vamos seguir a tradição do trabalhismo que, na Era Vargas, criou a Escola Nova, pública, laica, universal e gratuita que, em poucos anos triplicou as matrículas. Devemos, também, tomar por base os CIEPs de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro.
Emergencialmente, urgentemente, considerando o registro de violência generalizada contra a infância brasileira e seu recrutamento precoce por organizações criminosas, propomos a instalação de cem mil CIEPs, em especial nas áreas mais pobres das cidades brasileiras, onde se concentram as favelas e as subhabitações.
É uma forma concreta de enfrentar a violência infantil, de formar uma nova geração de brasileiros e de realizar uma reparação histórica, no que se refere à herança dolorosa da escravidão e do racismo.
Na contramão do ensino libertador de Darcy Ribeiro, de Anísio Teixeira e de Paulo Freire, vemos hoje avançar pelo país a militarização das escolas públicas, levando para os bancos escolares a cultura da violência, da discriminação, do fascismo. É nosso compromisso erradicar também esse embuste.
Aos moldes da Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo, lançada por João Goulart em 1963, que apesar da curta existência, já que foi erradicada pelos golpistas de 64, obteve resultados fantásticos, devemos fixar como meta a extinção definitiva do analfabetismo no Brasil. Países muito mais pobres que o nosso eliminaram essa chaga vergonhosa. E, como a iniciativa de Goulart, a nossa campanha deve buscar desenvolver a educação popular, integrar as pessoas na cidadania e fortalecer as bases de um projeto nacional de desenvolvimento social. Quer dizer, não basta ensinar a ler, escrever e contar, é preciso formar o cidadão.
Outra tragédia brasileira é a falta de saneamento básico. Não há dinheiro também para o saneamento porque a “economia de papel”, através da usurpação dos juros, abocanha boa parte do orçamento. Assim, quase a metade dos brasileiros não são servidos por água e esgoto tratados. É um escândalo que pouco comove o Congresso, o Planalto ou a nossa mídia corporativa.
Como consequência, temos que a maior demanda do SUS é de pacientes com doenças gastrointestinais, resultantes de contaminações por falta de saneamento básico.
Já tão pressionado pela política de cortes de gastos, para equilibrar contas públicas e fazer superávit primário, o SUS consome boa parte de seu orçamento tratando de diarreias e vômitos dos brasileiros que não têm banheiro, não bebem água tratada e não são atendidos por serviços de esgoto. Isso sim é uma vergonha!
A extensão do saneamento básico a todos brasileiros, no prazo máximo de dois anos, é o compromisso de nosso Programa. Para isso, há recursos de sobra, basta recuperar para os brasileiros uma pequena fração que o rentismo suga do país.
A Reforma Urbana proposta por João Goulart, atacava em duas frente: medidas para solucionar o transtorno do déficit de habitações nas cidades; e a criação de políticas para democratizar o acesso dos brasileiros à moradia.
Mais de 60 anos depois, seis décadas de tempo desperdiçado, devemos retomar, modernizar e ampliar essas duas tarefas. O nosso Programa, além de enfrentar problemas habitacionais tão antigos, deve lidar também com o crescimento assustador das favelas e das subhabitações nos últimos anos, Brasil afora. A par do aumento irrefreável dos moradores de rua.
Nosso Programa prevê a criação da Campanha Nacional da Habitação Popular- Casa da Família, com meta de construir dois milhões de moradias por ano, em parceria com as Prefeituras, Governos Estaduais, Organizações não Governamentais, e iniciativa privada.
A regularização das ocupações, a remoção de ocupações em áreas de risco e de preservação ambiental terá o prazo de dois anos, no máximo, para ser executada. Experiências de governos estaduais e municipais comprometidos com as causas populares provam que isso é viável.
Já em relação à saúde pública, o nosso Programa deve prever que o percentual do orçamento da União destinado ao setor seja elevado a 20 por cento da receita corrente líquida, pelo prazo de pelos dois anos, para que as demandas reprimidas ao SUS sejam reduzidas próximas do zero.
Registre-se que, com a universalização do saneamento básico, a redução das habitações precárias, com construção massiva de casas populares, haverá uma redução da procura do SUS pela campeã das filas, as doenças infectocontagiosas.
Discutamos agora a segurança pública. É inevitável que as condições sociais, as circunstâncias em que vivem os brasileiros, gerem fatos sociais. Assim, o aumento da violência, a expansão do crime organizado, o envolvimento de parcelas cada vez maiores de pessoas pela criminalidade, especialmente de adolescentes e de jovens, não são fatos fortuitos, que acontecem ao acaso.
Antigamente, quando a sociedade brasileira, as nossas elites, exibiam rudimentos, vestígios de civilização, aceitava-se isso como verdadeiro. Hoje, no entanto, com o predomínio da cultura neoliberal, dos pressupostos e valores culturais neoliberais, que quase sempre tocam, aproximam-se do fascismo e da barbárie, a ordem é a da Rainha de Copas: cortem-lhes a cabeça!
Há pontos de contato, mais do que se possa imaginar, entre a falta de escrúpulos do mercado, dos rentistas, da banca com a criminalidade, com corrupção congressual, suas rachadinhas e emendas imorais. A cultura do neoliberalismo, seu afã de ganhos a qualquer preço não é diferente da cultura do banditismo, do crime organizado. São negócios. A crueldade dos especuladores, eliminando empresas e empregos, falindo nações, destruindo vidas e sonhos, não me parece diferente das ações das quadrilhas, das máfias.
Enfim, a bandidagem , em essencial, reproduz o neoliberalismo: a mesma crueldade, a mesma insensibilidade, a mesma busca irrefreável por vantagens e lucros, o mesmo desrespeito à vida, aos valores humanos e democráticos.
Então, combater o crime organizado é combater também a cultura que o gera, o estimula e o faz expandir.
Por outro lado, parece óbvio que o aparato policial de hoje, suas estruturas, modo de agir, formação, atribuições não se afinam mais com a realidade da segurança pública do país. O descompasso é imenso. Logo, é também urgente uma ampla e radical reforma das nossas polícias. Trata-se de mexer em um vespeiro, sabemos, no entanto, é preciso enfrentá-lo. Medidas tíbias, cosméticas ou corporativas vão deixar o que é ruim ainda pior.
Vamos agora falar em economia e nos pressupostos para um desenvolvimento econômico-industrial soberano, acelerado e competitivo.
Antes anotemos algumas informações. Nos anos 80, o Brasil tinha um PIB superior ao da China, da Índia, da Coréia do Sul, da Turquia, do México e mais países ditos em desenvolvimento.
Até o início da década de 90, Brasil e China tinham participação semelhante na produção econômica mundial. E, até a metade daquela década, o PIB brasileiro era superior ao PIB chinês. Mas, nos últimos 30 anos, a China cresceu 2.485 por cento; e o Brasil só 283 por cento.
Enquanto o Brasil aderia ao Consenso de Washington, entregava-se perdidamente aos pressupostos neoliberais, adotava o tripé macroeconômico, desfazia-se de suas estatais, a China reforçava e expandia suas empresas públicas, investia pesadamente na industrialização, na educação de seu povo, em inovação e tecnologia, fixava e buscava cumprir rigidamente metas de crescimento.
O resultado de uma e outra politica estão aí à mostra.
Portanto, o nosso Programa deve acelerar medidas para recuperar o tempo perdido, as décadas que desperdiçamos pela submissão do país aos preceitos neoliberais, fossem governos conservadores, fossem governos ditos à esquerda. A diferença entre os dois é que um tirava do brasileiro até o couro e outro cobria a nossa miséria com alguns panos e fornecia refeições a mais. Sem tocar no sacratíssimo tripé et alia.
O nosso Programa deve contemplar a retomada das empresas estatais estratégicas, como a Petrobrás e a Eletrobrás, assim como a retomada da malha ferroviária, dos portos, dos estaleiros e demais itens de nossa infraestrutura essenciais ao desenvolvimento nacional.
As nossas fantásticas reservas de petróleo na camada pré-sal devem ser estatizadas; as terras raras, o nióbio, as reservas de metais preciosos e de minerais de nosso solo e subsolo devem ser nacionalizadas.
O nosso Programa deve propor o endurecimento das punições para o contrabando, a exploração ilegal e o comércio desses minerais.
Replicando a bem-sucedida política chinesa de ensino de ciência e tecnologia, o nosso Programa deve propor a criação de uma esfera estatal que se responsabilize por essa área, cuidando da expansão dos institutos, fixando metas a serem cumpridas, fiscalizando o cumprimento dessas metas, disponibilizando recursos humanos e equipamentos adequados à formação dos alunos. A esfera estatal responsável pelo ensino de ciência e tecnologia, tal qual os chineses fizeram, deve planejar, com base em nossa realidade e demanda, que áreas produtivas priorizar e a quantidade de alunos a serem formados anualmente.
Não vamos nos iludir com as lorotas liberais: cabe ao Estado a responsabilidade pelo incentivo às inovações, às pesquisas científicas e tecnológicas voltadas às atividades produtivas, em especial à indústria, para torná-la mundialmente competitiva.
Companheiras e companheiros, são algumas ideias à elaboração de nosso Programa para o Brasil. Evidentemente os nossos conservadores, os liberais, a nossa mídia corporativa, os rapazes e as moças da GloboNews ficariam horrorizados no confronto com essas ideais. Não só eles. Certa esquerda que entortou a boca, e o cérebro, fumando o cachimbo neoliberal, também ficaria arrepiada.
Mas, não é para eles que vamos fazer um programa. É para os brasileiros. Um Programa com a cara dos brasileiros, diria Darcy Ribeiro. Já, para o mercado, recomendo novamente uma solene banana.
Vamos ao debate, vamos terçar ideias, vamos concordar ou discordar das propostas, mas vamos em frente, vamos à construção do Programa do PDT para o Povo Brasileiro”.






