Sargento que matou vizinho em SG foi candidato em 2020

O sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, que matou a tiros seu vizinho, na última quarta-feira (2/1), no bairro Colubandê, em São Gonçalo, já foi candidato a vice-prefeito do município de Paço do Lumir, no Maranhão, na última eleição municipal, em 2020, mas não foi eleito. Ele era filiado ao Partido Social Cristão (PSC) e dizia que sua "regra de fé é a prática da palavra de Deus".
Aurélio morava em uma casa no Condomínio Vale dos Ipês, no Colubandê, em São Gonçalo, e era vizinho do repositor de supermercado Durval Teófilo Filho, de 38 anos, que foi morto a tiros quando chegava em casa. O caso aconteceu por volta das 23h da última quarta-feira (2/1) e foi registrado pelas câmeras de segurança do local.
Nas imagens, é possível ver que o repositor chega ao condomínio caminhando, enquanto mexe em algumas coisas em sua mochila, possivelmente procurando a chave do portão. Durval aparece olhando para baixo e andando calmamente. Em seguida, o sargento, que estava dentro de seu carro, em frente à portaria, efetua três disparos e depois sai e se aproxima da vítima. Um deles atinge a barriga de Durval, que cai e tenta explicar que é morador do local. O militar, então, se aproxima.
Aurélio percebe, então, que Durval não estava armado. Ele volta para o carro para pegar um celular e tenta pedir socorro. O sargento chegou a levar a vítima para o Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), também no Colubandê, mas o repositor não resistiu aos ferimentos. Aurélio foi preso em flagrante por policiais da Divisão de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG) e será indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
De acordo com a polícia, o autor dos disparos fez uma leitura errada da situação quando se surpreendeu ao ver Durval com a mão na mochila. Segundo a corporação, ele entendeu que seria assaltado, já que o local tem altos índices de roubos, e por isso realizou os disparos, considerando a hipótese de legítima defesa.
Mudança para fugir da violência
Morto a tiros pelo vizinho quando chegava do trabalho, Durval havia se mudado com a família para o Colubandê para fugir da violência. Há 12 anos, ele e sua família deixaram a comunidade do Capote em busca de um local mais seguro.
A irmã da vítima, Fabiana Teófilo, afirmou que se fosse um homem branco andando e mexendo em sua mochila, ele não teria sido confundido com um criminoso.
"Minha mãe criou três filhos sozinha e nenhum seguiu vida errada. Ele era o único irmão que eu tinha e acontece um negócio desse? Ele tira a vida do meu irmão? Aí vai dizer que é legítima defesa? Não tem como. Meu irmão não tinha arma, meu irmão veio do serviço, ele veio do trabalho. Ele chegou em casa onze horas da noite", desabafou.
Luziane Teófilo, mulher de Durval, disse que escutou os tiros. Ela afirma ainda que o marido morreu porque era preto.
“A minha filha, que tem 6 anos, estava esperando por ele. Imediatamente ela olhou pela janela e disse que era o pai dela”, narrou.
O corpo de Durval foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Tribobó, na quinta-feira (3/1), onde a família fez o reconhecimento. Segundo o laudo do IML, a causa da morte foi hemorragia interna, causada pelo projétil da arma. O corpo dele foi enterrado nesta sexta-feira (4/2), no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo. O trabalhador deixa sua mulher e uma filha de apenas seis anos.
