top of page

Sífilis congênita é tema do programa 'A Nossa Saúde'

No programa 'A Nossa Saúde' desta semana, o médico Mauro Romero, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e apresentador da atração na Rádio Toda Palavra, falou sobre os desafios de vencer a sífilis congênita no Brasil e também em Niterói, onde os números altos da doença, segundo ele, são inaceitáveis. A sífilis congênita é passada da gestante para o bebê durante a gravidez ou parto. A doença também provoca abortos e é a causa de grande parte dos natimortos em maternidades e hospitais de todo o país.

Reprodução / Acervo Pessoal

O médico defendeu que é preciso eliminar a sífilis congênita. E eliminar, segundo ele, é diferente de erradicar.


"Erradicar é zero. Não registrar nenhum caso em, pelo menos, cinco anos. Eliminar é atingir uma taxa em que a doença é considerada fora de risco para a população. Essa taxa é de 0,5 em cada mil bebês nascidos vivos. Ou seja, a cada dois mil nascimentos haveria apenas um caso de sífilis congênita", explicou.


Segundo Romero, 30% dos casos de sífilis em gestantes no país são descobertos apenas na hora do parto. O que leva a crer que há falhas na detecção da doença durante o pré-natal. Ou essas mulheres não fizeram o acompanhamento médico corretamente durante a gravidez. Em Niterói, a taxa, de acordo com o médico, é de 23,6 infectados por cada mil nascidos vivos.


"Isso é 40 vezes mais do que a taxa ideal, estabelecida pela Organização Mundial da Saúde", lamentou ele, que entrou com uma ação no Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) denunciando a prefeitura de Niterói por descaso em relação à doença no atendimento a gestantes.


"Existe dignóstico, existe tratamento, o custo não é alto. Tem o tempo de um mês antes do parto para evitar a contaminação dos bebês, mas o sistema municipal de saúde não consegue detectar e evitar. Isso não é negligência. É prevaricação. Quando o poder público sabe do problema, tem condição de resolver e não resolve, é prevaricação. Temos diagnóstico e tratamento desde o século passado.", ressaltou.


Mauro Romero disse ainda que no site dos indicadores da sífilis congênita do Ministério da Saúde, Niterói aparece com 38 gestantes notificadas por sífilis em 2021. Porém, nos dados sobre nascimento de bebês com a doença no mesmo ano, são 135 casos registrados. Ou seja, mais notificações de bebês do que gestantes, o que mostra, segundo ele, uma inconsistência na base da coleta de dados da Secretaria Municipal de Saúde, que fornece as informações ao governo federal.


"Há um desjuste sério que se traduz nos dados. Como é que o pediatra obstétrico diz que o bebê tem sífilis e o ginecologista não detectou antes na gestante? Niterói precisa orientar os profissonais para identificar e tratar antes. Fiscalizar durante o pré-natal. Não tem auditoria para saber quem está devendo IPTU e multa de trânsito? A saúde municipal precisa fazer essa auditoria para saber onde, como e por que a doença está sendo negligenciada. Quais os profissionais responsáveis pelas falhas? Se tem distorção nos números, há problemas de gestão". defendeu o médico.


Romero falou também da falta de notificação dos casos de sífilis congênita, o que ocorre principalmente na rede particular de saúde. E citou um dado alarmante, que traduz o quanto essa doença é traiçoeira e silenciosa, exigindo um olhar mais atencioso por parte de médicos e gestores de saúde.


"Em cada 100 bolsas de sangue coletadas em hemocentros, ao menos 10, ou seja, 10%, são inaptas para transfusão porque estão contaminadas com HIV, sífilis, hepatite e outras doenças. Dentre essas 10 que são descartadas, a sífilis aparece em mais de 50% dos testes que são realizados de praxe antes da utilização", conta.


O médico, que é especialista em DST/IST, se colocou à disposição da Secretaria Municipal da Saúde para colaborar e fez um chamado ao secretário Rodrigo Oliveira e ao prefeito Axel Grael:


"Nos 450 anos de Niterói, vamos trabalhar juntos para eliminar a sífilis congênita na cidade. Niterói não merece os números que tem. As mães e bebês não merecem sofrer da doença, quando é possível evitá-la. Sou niteroiense e trabalho na cidade. Gostaria muito de chegar a novembro de 2023, no aniversário do município, e poder dizer que a sífilis congênita não é mais uma ameaça à saúde das mulheres e crianças niteroienses", finalizou.


Sobre o programa:


O programa 'A Nossa Saúde', na Rádio Toda Palavra, aborda questões relacionadas à qualidade de vida, medicina e bem-estar, sempre trazendo ao debate os temas da atualidade.


Apresentado por Mauro Romero Leal Passos, médico especialista em DST/IST e professor titular chefe do Setor de DST da Universidade Federal Fluminense (UFF), o programa possui um quadro de entrevistas e um espaço para esclarecer dúvidas dos ouvintes sobre o tema.


A atração é transmitida às terças-feiras, ao meio-dia, na faixa FM 98.5 (Zona Norte de Niterói e áreas adjacentes) e no site.