Time: Lula diz que Zelensky é tão culpado quanto Putin pela guerra

Capa de uma das revistas mais famosas do mundo, a americana Time, e sob o título "Segundo ato de Lula", o ex-presidente afirmou na entrevista que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é tão responsável quanto o presidente russo, Vladimir Putin, pela guerra na Ucrânia.
O petista disse que Zelensky, "quis a guerra" com a Rússia e que o ódio contra o líder russo não "vai resolver nada".
"Ele [Zelensky] quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver! É preciso estimular um acordo. Mas há um estímulo [ao confronto]", disse Lula, de acordo com a revista.
Em sua visão, também há uma "espetacularização" por parte de Zelensky diante do conflito, e que o foco do mandatário ucraniano deveria estar na mesa de negociação e não em palestras por Parlamentos do mundo.
"Eu não conheço o presidente da Ucrânia. Agora, o comportamento dele é um comportamento um pouco esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo. Ou seja, ele aparece na televisão de manhã, de tarde, de noite, aparece no Parlamento britânico, no Parlamento alemão, no Parlamento francês como se estivesse fazendo uma campanha. Era preciso que ele estivesse mais preocupado com a mesa de negociação", declarou.
O ex-presidente também criticou o chefe do Executivo ucraniano por não ter adiado a discussão sobre entrada da Ucrânia na OTAN em meio à escalada das tensões entre os dois países, acrescentando que ele é errado "assim como Putin".
"Às vezes fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin", afirmou.
'O presidente mais popular da história do país'
A revista introduziu Lula em sua matéria lembrando que o petista deixou o poder como o presidente mais popular da história do país. Cita também a reviravolta em sua trajetória política, ao ser condenado e preso na Operação Lava Jato.
Diz o texto: "o presidente mais popular do Brasil retorna do exílio político com a promessa de salvar a nação". A reportagem ressalta que Lula, aos 76 anos, "esperava uma vida mais tranquila longe dos salões do poder".
“A política vive em cada célula do meu corpo, porque eu tenho uma causa. E nos 12 anos desde que deixei o cargo, vejo que todas as políticas que criei para beneficiar os pobres foram destruídas", diz Lula, segundo trecho da matéria.
"O sonho do Brasil que Lula perseguiu durante sua presidência de 2003 a 2010 está em frangalhos, diz ele. Por meio de programas sociais progressistas, pagos pelo boom de produtos brasileiros como aço, soja e petróleo, o governo Lula tirou milhões da pobreza e transformou a vida da maioria negra e da minoria indígena do país. Bolsonaro deu um golpe em tudo isso, descartando políticas que ampliavam o acesso de pessoas pobres à educação, limitavam a violência policial contra comunidades negras e protegiam terras indígenas e a floresta amazônica . A Covid-19 já matou pelo menos 660.000 brasileiros. O pedágio, o segundo maior do mundo, provavelmente foi piorado por Bolsonaro, que chamou o vírus de 'gripezinha', apelidou as pessoas que seguiam as orientações de isolamento de 'idiotas' e se recusaram a tomar uma vacina e a comprar doses para os brasileiros quando estivessem disponíveis", destaca ainda a reportagem.
Ameaça
A Time ainda menciona a ameaça que o presidente Jair Bolsonaro (PL) representa à democracia brasileira.
"Bolsonaro, um defensor da ditadura militar do século 20 do país, convocou comícios em massa contra juízes que o desagradam e atacou jornalistas críticos. Ele também passou meses alertando sobre fraude eleitoral no Brasil, em um eco do comportamento do presidente Donald Trump antes das eleições americanas de 2020. Em abril, ele sugeriu que as eleições poderiam ser 'suspensas' se 'algo anormal acontecer'. Se ele perder, alertam os analistas, é provável que haja uma versão brasileira do motim de 6 de janeiro [invasão do Capitólio]. Se ele vencer, as instituições brasileiras podem não aguentar mais quatro anos de seu governo".