EXCLUSIVO: velejadores resgatam casal em barco à deriva no Maranhão
Atualizado: 28 de abr. de 2020
Por Mehane Albuquerque
No dia 4 de abril, o veleiro Galápagos, um Delta de 36 pés tripulado por um casal, saiu de Guadalupe, no Caribe, com destino ao Brasil. É uma rota difícil,
com ventos e correntes fortes. Tudo ia bem até que, no dia 15 de abril, eles quebraram o mastro quando estavam próximos da costa da Guiana francesa, quase
chegando em águas brasileiras. Sem combustível para continuar o trajeto a motor, tentaram improvisar com o pedaço de mastro quebrado e o pau de spinnaker, e conseguiram chegar próximos a São Luís, no Maranhão. O conserto, porém, não resistiu e eles ficaram à deriva. Com a solidariedade de outros velejadores de diferentes pontos do país e em meio à pandemia do novo coronavírus, um arrojado esquema de resgate foi montado em tempo hábil pelo Whatsapp. Hoje (27/4), os tripulantes Leo e Bárbara chegaram a salvo em São Luís, a bordo do Galápagos escoltado pelos voluntários.
O velejador e comandante de barcos de oceano Hans Hutzler, que de Pernambuco integrou o grupo de ajuda remota, conta que vários velejadores brasileiros
vinham monitorando o Galápagos pelo rastreador Spot, mas não havia comunicação entre a tripulação da embarcação e pessoas em terra. Eles desconfiavam que havia algo errado, pois notaram que o veleiro mudou de rumo e parecia estar horas à deriva.
"No dia 20, eles transmitiram uma mensagem pré-programada do Spot dizendo que havia um problema a bordo, mas não disseram o que era. A partir daí,
foi criado um grupo por aplicativo com velejadores de vários lugares do Brasil, incluindo os pais do dono do barco, e começamos a coordenar um resgate", diz Hans.
Em dois dias, os velejadores voluntários conseguiram equipamentos de comunicação por satélite e um navegador experiente disposto a comandar a operação, o Capitão Amador César Mello. Mas eles estavam em Belém, no Pará. Com a ajuda do piloto Tony Saraiva, que emprestou um avião, fizeram o transporte aéreo do equipamento e do comandante até São Luís. Na capital maranhense, conseguiram apoio do dono do barco Larabela — um catamarã Praia 47 cuja tripulação também estava disposta a ajudar — além de combustível e alimentação.
"Fizemos contato com os tripulantes do Galápagos às 14h50m de sábado (25/4). Felizmente, o mar estava calmo e localizamos o veleiro a 280 milhas ao Norte de São Luís. Soubemos através do Leo, que eles estavam velejando no segundo rizo, com ventos de 20 nós, quando um dos estais de força soltou", conta Hans.
O resgate partiu de São Luís e interceptou o barco à deriva a 260 milhas ao Norte. Hans e os outros velejadores do grupo, de forma remota, acompanharam a posição das duas embarcações, definindo um provável ponto de encontro entre elas e direcionando o Larabela através de mensagens de texto via comunicação por satélite. Quando foram abordados, os tripulantes do Galápagos estavam bem, embora cansados. Receberam combustível e alimentos e seguiram rumo à terra, escoltados pelo Larabela.
"Foi uma operação bem sucedida, mas não teria sido possível sem a solidariedade de todos que se mobilizaram prontamente para ajudar. O Delcio, em Belém, emprestou os equipamentos de comunicação; o capitão César Mello, aceitou o desafio de comandar o barco de resgate; o Tony Saraiva emprestou o avião; o André e o Sérgio, em São Luís, conseguiram o catamarã e a tripulação; e o Torpedinho, velejador de Recife, criou o grupo no Whatsapp que organizou tudo isso. Estamos no meio de uma pandemia e os voluntários deixaram o isolamento e suas famílias para dar apoio ao casal no mar. Missão cumprida!", comemora Hutzler.
Depois do desembarque, Leo e Bárbara contaram em vídeo que se mantiveram sempre calmos e não chegaram a passar privação de água ou comida, mas ficaram emocionados e aliviados quando a ajuda chegou.
"Agradecemos, de coração, a todos que se mobilizaram para nos tirar daquela situação. Ainda não sabemos quem são essas pessoas, pois acabamos de desembarcar, mas queremos conhecer e agradecer a cada uma delas", afirmou ele.
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