Wilson Witzel a um passo do impeachment

Foi dado mais um passo para o impeachment do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. A Assembleia Legislativa (Alerj) aprovou nesta quarta-feira (23), por 69 a 0, o projeto legislativo que autoriza a abertura de processo de crime de responsabilidade contra Witzel, que já se encontra afastado por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O caso agora vai para um Tribunal Misto, formado por desembargadores e deputados que serão escolhidos, de acordo com o regimento interno, até 7 de outubro. A partir daí, conta-se até 120 dias de prazo para a conclusão do processo, que no entanto deve ser concluído antes. Há ainda a possibilidade Wilson Witzel renunciar antes.
O ex-juiz federal dispensou seus advogados e fez sua própria defesa por videoconferência. Seu discurso foi inflamado em algumas partes e se emocionou quando falou da família, principalmente da mulher, Helena, segundo ele, também "vítima" de "ilações espetaculares do Ministério Público Federal".
Estou sendo linchado moralmente e politicamente sem ter o direito de me defender", disse ele. "Numa investigação rasa, estou sendo apontado como chefe de uma organização criminosa, de um esquema de milhões, e o Ministério Público não apresentou nenhuma prova; jamais será apresentada porque não existe", afirmou.
Witzel criticou a ação do MP não apenas no seu caso, mas que, segundo ele, vem solapando o voto popular "sob o manto genérico de combate à corrupção". E acrescentou: "O Ministério Público não pode ditar políticas públicas, nem escolher quem pode ou não pode exercer os cargos públicos", criticou.
Ao cobrar da Alerj uma posição que garanta sua ampla defesa, o governador afastado afirmou que "se [a Alerj] aderir ao lavajatismo [uma referência a linchamento público], não haverá quem possa defender a sociedade", disse ele, responsabilizando também a Alerj por não ter atuado no sentido de fiscalizar os malfeitos no governo.
Witzel também citou Tiradentes como referência de quem sofreu "injustiça", como ele diz estar sendo vítima.
"Tiradentes que foi delatado, vendido, morreu enforcado e as partes do seu corpo foram jogadas em praça pública para servir de exemplo para a tirania. A tirania escolhe suas vítimas e as expõem para que outros não mais se atrevam", discursou.
"Eu não me importo de ser julgado e submetido a julgamento nenhum porque tenho a convicção de que jamais cometi um ato ilícito", disse.
Sobre o ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, que delatou o suposto esquema de corrupção e devolveu R$ 8 milhões aos cofres públicos, Witzel disse: "Mal sabia que eu estava colocando a raposa no galinheiro".
Acusação
Witzel é acusado de receber propina das empresas ligadas a um esquema de contratos falsos firmados com o escritório da primeira-dama Helena Witzel. ele teria recebido pelo menos R$ 554,2 mil. O suposto esquema foi revelado pelo MPF depois de apurar irregularidades em contratos dos hospitais de campanha, respiradores e medicamentos. E, de acordo com os procuradores, o ex-juiz federal teve "participação ativa no conhecimento e comando das contratações com as empresas investigadas".