Lula, FHC e Ciro repudiam ataque de Bolsonaro a Dilma
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Lula, FHC e Ciro repudiam ataque de Bolsonaro a Dilma


(Foto: Agência Brasil)

O ataque do presidente Jair Bolsonaro à ex-presidenta Dilma Rousseff, colocando em dúvida a tortura sofrida por ela durante a ditadura militar (1964-1985), foi repudiada por vários políticos, como os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro e líder do PDT, Ciro Gomes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se solidarizaram e criticaram Bolsonaro.

Na segunda-feira, falando para apoiadores em frente ao Palácio do Planalto, ele afirmou que aguarda "até hoje" raio-x que comprovaria fratura na mandíbula em Dilma provocada pelos torturadores. "Dizem que a Dilma foi torturada e fraturaram a mandíbula dela. Traz o raio-X para a gente ver o calo ósseo. Olha que eu não sou médico, mas até hoje estou aguardando o raio X", disse Bolsonaro.

O ex-presidente escreveu em sua conta no Twitter: "O Brasil perde um pouco de sua humanidade a cada vez que Jair Bolsonaro abre a boca. Minha solidariedade a presidenta Dilma Rousseff, mulher detentora de uma coragem que Bolsonaro, um homem sem valor, jamais conhecerá".

Ciro Gomes também se pronunciou por meio de rede social, chamando o presidente da República de "frouxo, corrupto e incapaz".

"Bolsonaro ataca Dilma por ser frouxo, corrupto e incapaz. Enquanto ela defende suas convicções, ele vende o país ao estrangeiro e, por sua irresponsabilidade, quase 200 mil brasileiros já perderam suas vidas", escreveu o líder do PDT.

Fernando Henrique também se solidarizou com Dilma e criticou Bolsonaro.

"Brincar com a tortura dela (Dilma) - ou de qualquer pessoa - é inaceitável. Concorde-de (sic) ou não com as atitudes políticas das vítimas. Passa dos limites", afirmou.

Rodrigo Maia lembrou do pai, o ex-prefeito do Rio e atual vereador Cesar Maia (DEM-RJ), que também foi torturado e exilado pela ditadura.

"Bolsonaro não tem dimensão humana. Tortura é debochar da dor do outro. Falo isso porque sou filho de um ex-exilado e torturado pela ditadura. Minha solidariedade a ex-presidente Dilma. Tenho diferenças com a ex-presidente, mas tenho a dimensão do respeito e da dignidade humana", afirmou Rodrigo Maia por meio de rede social.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, também criticou as declarações do presidente.

"Pense em um homem que no meio de uma onda de feminicídios debocha de um mulher presa e torturada. Esse sujeito existe e, pior, preside o Brasil", disse Santa Cruz.

Nota e depoimento histórico

Nesta segunda-feira, Dilma Rousseff divulgou uma nota pública, reagindo à agressão e referiu-se ao atual presidente como "um sociopata, que não se sensibiliza diante da dor de outros seres humanos, não merece a confiança do povo brasileiro". .

Em 2001, em depoimento histórico ao Conselho Estadual de Direitos Humanos do governo de Minas Gerais, Dilma relatou que levou socos dos torturadores em Juiz de Fora (MG), no início dos anos 1970.

"Minha arcada girou para o lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um soco e o dente se deslocou e apodreceu. [...] Só mais tarde, quando voltei para São Paulo, o Albernaz (capitão Alberto Albernaz, do DOI-Codi de São Paulo) completou o serviço com um soco, arrancando o dente", contou Dilma no depoimento.

Dilma relatou ainda sessões de tortura com choque. "Não se distinguia se era dia ou noite. O interrogatório começava. Geralmente, o básico era choque."

Em outro trecho do depoimento, ela contou que foi colocada no pau de arara e o uso de palmatória pelos militares.

"Se o interrogatório é de longa duração, com interrogador ‘experiente’, ele te bota no pau de arara alguns momentos e depois leva para o choque, uma dor que não deixa rastro, só te mina. Muitas vezes também usava palmatória; usava em mim muita palmatória. Em São Paulo usaram pouco esse ‘método’. No fim, quando estava para ir embora, começou uma rotina. No início, não tinha hora. Era de dia e de noite. Emagreci muito, pois não me alimentava direito", relatou.

Em outro momento, ela relata que sofreu hemorragia por conta da tortura.

"Quando eu tinha hemorragia, na primeira vez foi na Oban (…) foi uma hemorragia de útero. Me deram uma injeção e disseram para não bater naquele dia. Em Minas, quando comecei a ter hemorragia, chamaram alguém que me deu comprimido e depois injeção. Mas me davam choque elétrico e depois paravam. Acho que tem registros disso no final da minha prisão, pois fiz um tratamento no Hospital das Clínicas", contou Dilma Rousseff, que em 2016 foi golpeada da presidência da República sem ter cometido crime de responsabilidade.


Leia a íntegra da nota de Dilma Rousseff:

Jair Bolsonaro promoveu mais uma de suas conhecidas sessões de infâmia e torpeza, falando a um pequeno grupo de apoiadores, nesta segunda-feira, 28 de dezembro.

Como não respeita nenhum limite imposto pela educação e pela civilidade, uma exigência a qualquer político, e mais ainda a um presidente da República, desmoraliza mais uma vez o cargo que ocupa. Mostra-se indigno ao tratar com desrespeito e com deboche o fato de eu ter sido presa ilegalmente e torturada pela ditadura militar. Queria provocar risos e reagiu com sórdidas gargalhadas às suas mentiras e agressões.

A cada manifestação pública como esta, Bolsonaro se revela exatamente como é: um indivíduo que não sente qualquer empatia por seres humanos, a não ser aqueles que utiliza para seus propósitos. Bolsonaro não respeita a vida, é defensor da tortura e dos torturadores, é insensível diante da morte e da doença, como tem demonstrado em face dos quase 200 mil mortos causados pela Covid-19 que, aliás, se recusa a combater. A visão de mundo fascista está evidente na celebração da violência, na defesa da ditadura militar e da destruição dos que a ela se opuseram.

É triste, mas o ocupante do Palácio do Planalto se comporta como um fascista. E, no poder, tem agido exatamente como um fascista. Ele revela, com a torpeza do deboche e as gargalhadas de escárnio, a índole própria de um torturador. Ao desrespeitar quem foi torturado quando estava sob a custódia do Estado, escolhe ser cúmplice da tortura e da morte.

Bolsonaro não insulta apenas a mim, mas a milhares de vítimas da ditadura militar, torturadas e mortas, assim como aos seus parentes, muitos dos quais sequer tiveram o direito de enterrar seus entes queridos.

Um sociopata, que não se sensibiliza diante da dor de outros seres humanos, não merece a confiança do povo brasileiro.


DILMA ROUSSEFF

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