A edição centenária de uma trincheira do mundo multipolar
- Da Redação

- 29 de ago.
- 5 min de leitura
Por Luiz Augusto Erthal
“Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. O pensamento do filósofo e escritor russo Leon Tolstói ilustra bem o espírito que norteia há quase dez anos o jornal TODA PALAVRA, cuja centésima edição impressa você pode ler na íntegra, em versão digital.
Separada do Rio pela bela Baía da Guanabara, a cidade de Niterói, mesmo em seus mais brilhantes dias, quando foi, por mais de 140 anos, a capital da Província e do Estado do Rio de Janeiro, sempre viveu um pouco à sombra da metrópole mais cosmopolita dos trópicos, primeira e única capital imperial das Américas.
Assim como Niterói, em cujo território lançou sua âncora, o TODA PALAVRA também traz no peito uma alma nascida na província e um orgulhoso sentimento do pertencimento identitário fluminense. Mas sem um caráter provinciano, como é o próprio espírito dos niteroienses - e são muitos - que ganharam o mundo com sua capacidade criativa e intelectual.

Da mesma forma, o TODA PALAVRA, sem se desapegar de sua territorialidade, começou a perseguir desde cedo uma vocação cosmopolita em homenagem aos seus leitores, cidadãos da aldeia global em que vivemos e potenciais protagonistas da construção de um mundo mais justo e fraterno. Por isso o jornal abraça bandeiras como as que se vê impressas em sua primeira página, logo abaixo do seu título e da data de circulação da edição, como a causa da Palestina - palco do maior crime humanitário do nosso tempo - e a adoção do português - nosso elo com o mundo lusófono espalhado por todos os continentes - como língua oficial da ONU.
Porém, as maiores causas abraçadas por esta publicação embandeirada com as cores da paz, da verdade e da justiça, são, a nível nacional, o desenvolvimento autônomo e soberano do nosso país, capaz de tornar realidade o sonho trabalhista de uma civilização justa e fraterna no Hemisfério Sul; e, em caráter global, a criação de um mundo multipolar, baseado no multilateralismo e na paz entre os povos.
Essa é a luz que se dilata a cada dia mais no fim do túnel secular do colonialismo e do neocolonialismo, com todas as suas piores pragas, como a escravidão, a opressão e a dominação cultural dos povos. O que estamos assistindo, com a ascensão do BRICS e os espasmos agonizantes da economia e do poder global norte-americano e europeu, é a queda do imperialismo ocidental, a ser suplantado inexoravelmente pelo nascente mundo multipolar.
Em sua lenta agonia, o império e seus vassalos se desnudam, despidos do verniz de defensores da democracia e dos valores da sociedade cristã-ocidental, definitivamente apartada dos verdadeiros ensinamentos do Cristianismo. O poder cada vez mais ditatorial do governo norte-americano sob Donald Trump; as alianças inescrupulosas do ocidente coletivo com a extrema direita, desde Bolsonaro até o nazifascismo assumido do atual regime ucraniano; o genocídio do povo palestino em Gaza, exterminado despudoradamente aos olhos do mundo por bombas, fome e mentiras, são a expressão insofismável de que o velho mundo dos opressores coloniais não mais se sustenta, nem mesmo sobre as fake news criadas aos borbotões pela mídia hegemônica mainstream e pelas big techs ocidentais, com os algorítimos desenvolvidos por seus miquinhos amestrados do Vale do Silício.
Nesse quadro, a neutralidade não é uma opção aceitável. Já faz alguns anos o TODA PALAVRA vem estabelecendo parcerias com veículos independentes da chamada Maioria Global, como a TV BRICS e a agência noticiosa Sputnik, da Rússia; a agência cubana de notícias Prensa Latina e o Executive Intelligence Review News, dos Estados Unidos. Na contramão da mídia hegemônica, estamos desenvolvendo, na prática, uma cadeia de veículos de imprensa independentes que nos permite trazer aos nossos leitores, tanto do jornal impresso como das nossas edições online (www.todapalavra.com) e dos programas que lançamos semanalmente em nosso canal do YouTube (@todapalavra), as informações censuradas pelas agências ocidentais e omitidas pelos filtros dos algoritmos das redes sociais. Da mesma forma, o conteúdo do TODA PALAVRA vem sendo republicado em vários países do Sul Global.
As articulações entre jornalistas independentes tem levado o TODA PALAVRA a participar diretamente de eventos da mídia anti-imperialista em países como Rússia e Cuba, onde, no ano passado, o jornal de Niterói foi o representante brasileiro na Nova Operação Verdade, realizada pela Prensa Latina 65 anos depois de Fidel Castro levar a Havana, em 1959, mais de 300 jornalistas de vários países para lhes apresentar a verdadeira face da Revolução Cubana, desmentindo as fake news da época, propagadas via cabos telegráficos submarinos pelas agências ocidentais Associated Press e UPI. Em Moscou, o TODA PALAVRA foi contemplado, como finalista, no prêmio de reportagem "Olhares Honestos" (Honest View Media Award), um concurso internacional de matérias jornalísticas dedicado à mídia estrangeira, com o apoio da agência Tass.
No dia 4 de julho deste ano, às vésperas da Cúpula BRICS do Rio de Janeiro, o TODA PALAVRA, em parceria com a TV Comunitária de Brasília, realizou, no Solar do Jambeiro, em Niterói, o BRICS Press Meeting, um encontro de jornalistas do Sul Global, que contou com a participação de importantes veículos independentes, como Brasil 247, Sputnik, TV BRICS, Prensa Latina, EIR News (EUA), TeleSur (Venezuela), HispanTV (Irã), entre outros, e teve o apoio da Prefeitura de Niterói, através da Secretaria das Culturas, do NuBRICS/UFF e do Sindicatos dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro.
O BRICS Press Meeting, que reuniu desde importantes intelectuais brasileiros, como o escritor e presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, a destacados jornalistas internacionais, como o correspondente e analista geopolítico Pepe Escobar e o fundador da TeleSur, Beto Almeida, produziu um documento, a Carta de Niterói, que propõe, entre outras medidas, a criação de uma big tech dos BRICS para se contrapor aos algoritmos viciados das redes ocidentais. A carta foi entregue pessoalmente ao presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e sua principal proposta apresentada a todos os dirigentes do BRICS na reunião de cúpula do MAM, lida dentro do relatório final do Conselho dos Povos pelo coordenador do MST, João Pedro Stédile.
A Carta de Niterói continua correndo o mundo. Foi traduzida para o inglês e o espanhol e já chegou, por exemplo, ao Sindicato dos Jornalistas da Índia, que a está difundindo e apoiando junto aos membros da categoria naquele país. Em outubro, a professora e jornalista Beatriz Bíssio fará uma apresentação da carta em evento a ser realizado na Indonésia, dentro das comemorações dos 70 anos da Conferência de Bandung, que lançou, em 1965, as bases para o movimento dos não alinhados.
Ainda em outubro, o TODA PALAVRA, a convite da Sputnik, participará do Fórum “Rússia e Ibero-América em um Mundo Turbulento: De Desafios Compartilhados a Soluções Conjuntas”, promovido pela Universidade Estadual de São Petersburgo e o Instituto da América Latina da Academia Russa de Ciências (RAS). Inseridos na mesa redonda “Formação e evolução de novos polos de mídia nos países do Sul Global em geral e na América Latina em particular”, também iremos lançar as propostas da Carta de Niterói neste grande encontro de jornalistas que acontecedá em São Petersburgo, Rússia.
Como propôs Tolstói, o TODA PALAVRA segue pintando a sua aldeia e a esperança de um mundo mais justo.










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