A luta pela democracia começa nas torcidas
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A luta pela democracia começa nas torcidas

Movimento é puxado por membros de torcidas organizadas de São Paulo, mas de forma autônoma. Entretanto, grupos opositores tentam criminalizar ações


Por Eduardo Gomes


Torcedores foram às ruas pedir pela democracia no último domingo em São Paulo. Foto: Reprodução

Nos últimos dias, a política ganhou espaço nos noticiários esportivos. Mas não poderia ser diferente. No domingo passado, diferentes manifestações ocorreram espalhadas pelo Brasil, com grupos que explicitavam posicionamentos antidemocráticos. Tais coletivos, levantaram gritos de ordem e defenderam pautas como, por exemplo, o retorno do AI-5 e da ditadura. Muitos, inclusive, lançaram pautas extremamente perigosas, como as proclamadas pelo grupo racista Ku Klux Klan ou, até mesmo, bandeiras levantadas por grupos neonazistas e/ou fascistas.

Como contraponto a esses coletivos, alguns integrantes de torcidas organizadas de futebol, notadamente na cidade de São Paulo, organizaram manifestações em defesa da democracia no mesmo dia, se colocando como opositores ao movimento autoritário citado acima.

Puxados por Danilo Pássaro, estudante de História da USP e membro da principal torcida organizada do Corinthians, a Gaviões da Fiel, torcedores com pautas antifascistas e ligados aos quatro grandes do estado (Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo), foram às ruas para defender a democracia. Mesmo não sendo um movimento oficial da Gaviões, é inegável o quanto as causas políticas fazem parte da história dessa organizada. Muitos de seus membros, inclusive, participaram ativamente da “Democracia Corinthiana”, movimento que nos anos 1980 conglomerou jogadores e torcedores do Corinthians na luta pelas Diretas Já (tendo tido lideranças como os atletas Sócrates, Wladimir e Casagrande).


Mesmo em um cenário completamente distinto, considerando as incoerências e tensões pelas quais já passou a torcida desde a sua fundação, Danilo Pássaro convocou o movimento em suas redes sociais e concedeu entrevistas destacando o quanto a defesa da democracia deve ser colocada como extremamente necessária no cenário em que estamos inseridos. É válido destacar, como abertamente falou em entrevista ao jornalista Paulo Vinícius Coelho, em seu blog no Globoesporte.com, que o movimento puxado por Pássaro foi autônomo, não sendo oficializado pela Gaviões, apesar de suas principais lideranças o apoiarem. Junto com torcidas antifascistas de outros clubes, Danilo conseguiu organizar a ida às ruas no domingo e destacou o quanto a democracia é prezada nesse momento para esses manifestantes.

O lado complexo de todos esses ocorridos é que, além de se utilizarem da democracia para expor seus posicionamentos antidemocráticos, o grupo conservador que foi às ruas idealizando a volta de um poder autoritário, passou a criminalizar os movimentos favoráveis ao regime democrático e organizado pelos torcedores. "Bárbaros", "violentos", "comunistas", entre outros adjetivos, foram algumas das nomenclaturas concedidas para aqueles que foram às ruas lutar pelo mantimento da democracia.

Em um mundo ideal, a luta democrática das ruas deveria servir como exemplo aos parlamentares em Brasília, de forma que exacerbasse tal defesa nas esferas legais. O movimento "Juntos", que vem se definindo como uma frente democrática para lutar contra o autoritarismo no Brasil, é um efeito desse processo. Entretanto, se faz necessário que tal movimento se posicione de forma coesa e que haja mais rápido do que o normal da esfera política nacional.


A narrativa do outro lado, já busca criminalizar os grupos que defendem a democracia, sendo essa uma teoria que se junta a muitas outras "cortinas de fumaça" construídas pelos grupos da direita conservadora no Brasil e que são hoje difundidas. A salvação do país contra um "regime comunista" (que nunca existiu) e, agora, contra "criminosos violentos" que vão às ruas, se tornam pratos cheios para aqueles que atualmente ocupam os cargos principais do executivo nacional poderem legalizar formas diversas de repressão. Não será nenhum espanto se, em um futuro próximo, o governo se utilizar dessas motivações conspiratórias como justificativas para, como foi dito por Eduardo Bolsonaro na última semana, estabelecerem medidas mais “enérgicas” no combate aos opositores. E como possuem a força do poder coercitivo do Estado em suas mãos, é importante que os grupos defensores da democracia tenham essa preocupação em vista, para assim tais manifestações não se tornarem, na verdade, uma grande armadilha.

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