‘Arame Farpado’: um novo romance policial brasileiro
- Da Redação
- 4 de jun.
- 2 min de leitura
José Messias Xavier
Durante muitos anos, a ficção policial brasileira estimulou debates intensos no meio acadêmico, que pretendiam responder a uma questão definitiva: ela é literatura ou subliteratura, criada para agradar as massas? Ainda hoje, há os que assinalem as duas opções, entre olhares mútuos de soslaio. Mas, em 2011, o gaúcho Flávio Moreira da Costa, ele próprio autor de, pelo menos, quatro romances do gênero e organizador da antologia “Crime feito em casa – contos policiais brasileiros”, meteu o dedo no bololô, durante conferência na Academia Brasileira de Letras (ABL).

Flávio, como um perito criminal esquadrinhando a estrutura de um DNA, dissecou a história da ficção policial no País, dos contos de Machado de Assis, Lima Barreto, João do Rio e Olavo Bilac, aos modernos Alfredo Garcia-Roza, Marçal Aquino, Marcos Rey, Patrícia Melo e Tony Bellotto. Não esqueceu – e nem poderia – de Rubem Fonseca e dos coletivos de “Mystério”, formado por Medeiros e Albuquerque, Coelho Neto, Afrânio Peixoto e Viriato Correia; e de “Os mistérios de M.M.”, a saber: João Condé, Lúcio Cardoso, Raquel de Queiróz, Jorge Amado, José Conde, Antonio Callado e Guimarães Rosa.
Citou, em sua análise, obras fantásticas, de qualidade literária indiscutível, comparou-as à produção internacional e concluiu que, em romances ou contos, o gênero policial brasileiro tem um formidável potencial para se desenvolver, desde que as editoras abram espaço para os autores, republicando os consagrados e levando os novos ao público. Encaixo aqui meu pitaco: alguns já comprovaram sua verve, como Sandro Araújo, em “Anjo da Noite”; Alexandre Fraga, em “Quando os demônios vão ao confessionário”; e Rodrigo Santos, em “Macumba”; entre outros, é claro.
É, portanto, motivo de grande alegria a chegada às prateleiras de um novo romance policial, o que, inclusive, vai acontecer no próximo dia 10 de junho, quando a Livraria Travessa (Avenida Graça Aranha, 296, Centro do Rio) receberá, das 17h às 20h, o lançamento de “Arame farpado”, do jornalista Ricardo Gouveia, publicado pela Editora Lacre. O autor escapou do canto da sereia dos livros-reportagens, tendência entre seus colegas de profissão, e se atirou na ficção com coragem e faim de le vivre.

O enredo de “Arame farpado” cobre cinco décadas de história do Rio de Janeiro. O ponto de partida é uma carta, encontrada dentro de um livro adquirido em um sebo pelo protagonista. Nela, a remetente revela que estava sendo ameaçada de morte. A correspondência nunca chegou ao destino e aquele que a encontrou, angustiado e obstinado, se entrega à busca pela elucidação de um crime, que teria sido consumado antes mesmo de ele ter nascido.
Gouveia tem expertise na área criminal. Escreveu sobre casos policiais para um grande jornal da capital fluminense e foi assessor de imprensa da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio. “O homem sem rosto”, um romance escrito a quatro mãos com a antropóloga Rose Panet, lançado em 2022, é seu livro de estreia. Pois que seja bem-vindo à literatura de ficção policial com “Arame farpado”.
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