Jornalista relança livro sobre tempos da ditadura em Niterói

Passados 57 anos do golpe militar de 1964 e 36 anos após a redemocratização, teme-se ainda o retorno da ditadura, diante da atual conjuntura política do país, de recentes atos antidemocráticos e de parte da população simpática ao presidente Jair Bolsonaro defender uma intervenção militar. Diante deste clima, o jornalista Anderson Carlos Madeira de Carvalho, de 48 anos, lança a segunda edição do seu livro-reportagem 'Niterói na época da ditadura', pelo selo Mundo Contemporâneo, da editora carioca Metanoia. A obra conta como foi o golpe na Cidade Sorriso e o impacto que teve, inclusive para o estado do Rio de Janeiro.

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Fatos como o uso do Estádio Caio Martins, no bairro de Icaraí, como presídio político (foi o primeiro complexo esportivo a ser usado para este fim e que inspirou o uso do Estádio Nacional, no Chile, pela ditadura de Augusto Pinochet); a invasão das oficinas da Companhia Lloyd Brasileiro, na Ilha do Mocanguê, pelos militares; o impeachment do governador Badger da Silveira (o primeiro chefe do Executivo fluminense a ser afastado desta forma); perseguição a professores e estudantes suspeitos de serem esquerdistas; invasão e depredação de sindicatos, como dos Operários Navais e dos Jornalistas; a construção da Ponte Rio-Niterói e a fusão dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara; que impactaram a vida dos cidadãos niteroienses e fluminenses, estão descritos no livro.

Outro fato importante foi o discurso do deputado estadual Afonso Celso Nogueira Monteiro, no dia 1º de abril, nas escadarias do prédio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (que na época era onde hoje funciona a Câmara Municipal de Niterói), diante de metalúrgicos e populares, conclamando o povo a resistir ao golpe, em defesa da democracia. A partir daquele momento, não seria mais possível reunir três amigos para um bate papo na rua. Nem criticar o governo nem falar de política. Todos passaram a desconfiar de todos. O clima era de medo. Professores, advogados, artistas, jornalistas, políticos e diversos profissionais com uma postura política atuante foram presos, perseguidos e torturados, além de terem a carreira interrompida. Estudantes universitários foram expulsos de suas faculdades.

Este livro é fruto de um trabalho de três anos, em que o autor ouviu sobreviventes daquele período - entre os quais, ex-presos políticos -, e pesquisou em livros, jornais e revistas da época, além de consultar a biblioteca da Alerj e o arquivo da Câmara Municipal de Niterói. Teve ainda acesso aos relatórios da Comissão da Verdade de Niterói e o da Comissão da Verdade do Sindicato do Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, além de documentos do antigo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).

“O livro surgiu após uma série de entrevistas que fiz entre fevereiro e abril de 2014, para o jornal A Tribuna, intitulada 'Os sobreviventes de 1964', com ex-presos políticos da cidade. Vi que tinha uma grande história em mãos e que seria esquecida rapidamente se fosse publicada apenas em jornal, que no dia seguinte, vira embrulho para peixe. No momento atual, não só quem mora em Niterói, mas, todo mundo, precisa saber o que aconteceu”, conta o autor.

Sobre o autor

Nascido em Petrópolis (RJ), onde passou a infância e parte da adolescência, Anderson formou-se em Jornalismo na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ), onde morou durante 30 anos. Hoje, mora no Rio de Janeiro. Com 24 anos de profissão, passou por diversos veículos, como os jornais diários O Fluminense e A Tribuna, ambos em Niterói, e em O Itaboraí, como repórter, além de ter sido produtor nas emissoras de televisão Vinde TV (Rio de Janeiro) e Canal 36 (Niterói) e assessor de imprensa na Associação das Empresas da Região Oceânica de Niterói, no Procon RJ e na Prefeitura de São Gonçalo. O livro Niterói na época da ditadura é a sua obra de estreia.