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Lula e entidades empresariais criticam BC por manter juros altos


Em entrevista a uma emissora de rádio em Fortaleza (CE) nesta quinta-feira (20), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros (Selic) em 10,5% ao ano. Referindo-se aos gastos astronômicos do país, de R$ 790 bilhões, somente com o pagamento de juros da dívida pública em 2023, Lula disse que enquanto o governo investe na produção e na melhoria da qualidade de vida do cidadão, "a decisão do Banco Central foi investir no sistema financeiro, nos especuladores que ganham dinheiro com os juros".


"Quando você fala em gasto, tudo que o governo faz é gasto. Uma pergunta que nós temos que responder é a seguinte: quanto custa não fazer as coisas necessárias? Quanto custou não fazer a reforma agrária no Brasil nos anos 40? Quanto custou não alfabetizar esse país nos anos 50? Custou muito. A Transposição do Rio São Francisco, que eu comecei a fazer, foi tentada por Dom Pedro II em 1846. Nunca deixaram ele fazer. Pois eu demorei quase 150 anos para fazer, para trazer água para 12 milhões de nordestinos que viviam no semi-árido nordestino. É gasto? É gasto. E não é gasto você ver as pessoas morrendo de fome? Ver as pessoas saindo a pé, com uma mochila, ou trabalhar em uma frente de trabalho para ganhar R$ 30 por mês? Quanto custa isso para o Estado? Então o que nós temos que ter noção é de que quando a gente faz uma coisa e aquilo resulta em um benefício coletivo, na melhoria da qualidade de vida, aquilo é um investimento extraordinário que nós estamos fazendo. Nós estamos investindo no povo brasileiro. A decisão do Banco Central foi investir no sistema financeiro, foi investir nos especuladores que ganham dinheiro com os juros. E nós queremos investir na produção", disse Lula na entrevista à Rádio Verdinha, em Fortaleza.


O presidente também criticou o pagamento, via orçamento, de despesas financeiras com juros e com renúncia de impostos.


“Nós temos possibilidade de ter [este ano] um déficit de R$ 30 bilhões, R$ 40 bilhões. Aí eu fico olhando do outro lado da folha que me apresentam, só de juro, o ano passado, foram R$ 790 bilhões que a gente pagou. Só de desoneração foram R$ 536 bilhões que a gente deixou de receber. Por que não transforma em gasto a taxa de juros que nós pagamos?”, questionou o presidente. Pelas regras vigentes, despesas financeiras com juros da dívida não sofrem contingenciamentos.


“Não vejo o mercado falar dos moradores de rua, dos catadores de papel, não vejo o mercado falar dos desempregados e das pessoas que precisam do Estado. Quem necessita do Estado é o povo trabalhador, a classe média, que é quem paga imposto nesse país”, insistiu o presidente durante a entrevista.


Lula ainda criticou a autonomia do BC, que por lei assegura mandatos a seus diretores.


“Eu fui presidente 8 anos. O presidente da República nunca se mete nas decisões do Copom e do Banco Central. O [Henrique] Meirelles [ex-presidente do BC] tinha autonomia comigo tanto quanto tem esse rapaz [Roberto Campos Neto] de hoje. Só que o Meirelles era um cara que eu tinha o poder de tirar, como o Fernando Henrique Cardoso tirou tantos, como outros presidentes tiraram tantos. Aí resolveram entender que era importante colocar alguém que tivesse um Banco Central independente, que tivesse autonomia. Ora, autonomia de quem? Autonomia para servir quem, para atender quem?”.


Entidades empresariais

Também nesta quinta-feira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou um comunicado em que considera "inadequada e excessivamente conservadora" a decisão do Copom de interromper o ciclo de cortes de juros iniciado em agosto de 2023. As informações são do Globo.


De acordo com o comunicado da entidade empresarial, a manutenção dos juros, neste momento, vai impor restrições adicionais à atividade econômica, com reflexos negativos sobre o emprego e a renda, sem que o "quadro inflacionário exija tamanho sacrifício".


“A manutenção do ritmo de corte na Selic seria o correto, pois contribuiria para mitigar o custo financeiro suportado pelas empresas e pelos consumidores, sem prejudicar o controle da inflação”, defende o presidente da CNI, Ricardo Alban.


Também a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) criticou a decisão de manter a taxa básica de juros da economia como prejudicial à recuperação de importantes setores econômicos do país. "Esse patamar elevado continua a limitar a expansão dos investimentos. Ademais, a indústria, entre os três principais setores que compõem o PIB, foi a única a apresentar desempenho negativo no último trimestre", disse a entidade em nota.


A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) também criticou a decisão do Copom, assim como a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), destacando que “este é um movimento equivocado, já que ainda haveria espaço para uma redução de 0,25 ponto nesta reunião”.


A Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul também se pronunciou, afirmando que o melhor cenário seria a continuidade do ciclo de redução dos juros, principalmente devido às condições difíceis que as empresas do Rio Grande estão enfrentando após a tragédia climática ocorrida em maio, com reflexos ainda hoje.

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