Moro sai acusando Bolsonaro de interferir para controlar a Polícia Federal

O ministro Sérgio Moro, anunciou oficialmente na manhã desta sexta-feira (24) a sua saída do governo, acusando o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir politicamente desde meados do ano passado no Ministério da Justiça. Moro afirmou que Bolsonaro pretendia substituir o diretor geral da Polícia Federal, Maurício Leite Valeixo, e pelo menos dois superintendentes regionais - os do Rio de Janeiro e de Pernambuco - para ter acesso direto às investigações da corporação.
Dizendo-se preocupado com o envolvimento direto do presidente com as ações em curso na PF - “a troca tinha a ver com isso”, disse Moro -, o até então ministro produziu, durante os quarenta minutos do seu pronunciamento na sede do Ministério da Justiça, acusações graves, capazes de causar forte abalo no governo e de conduzir a um possível processo de impeachment por crime de responsabilidade do presidente da República.
Segundo Moro, em conversa na quinta-feira com o presidente, quando ainda tentava resistir às pressões pela mudança no comando da Polícia Federal, o próprio Bolsonaro admitiu que a sua ação representaria uma interferência política dele na instituição.
“O presidente queria uma pessoa da sua convivência no comando da Polícia Federal para quem ele pudesse ligar, colher informações, relatórios de inteligência. As investigações da Polícia Federal precisam ser preservadas”, enfatizou Sérgio Moro, reconhecendo que, durante todo o período em que esteve à frente da Operação Lava Jato, como juiz federal em Curitiba, nunca sofreu interferência política do ex-presidente Lula - alvo principal das investigações - e da então presidente petista Dilma Rousself.
Moro disse que, na tentativa de contornar as pressões do presidente e evitar a abertura de uma crise política de grandes proporções em meio à pandemia de coronavírus que assola o país, chegou a admitir a troca do diretor geral da PF, desde que ele pudesse indicar o substituto de Valeixo, fazendo valer a promessa de carta branca que Bolsonaro lhe fez ao convidá-lo para o cargo.
O agora ex-ministro disse ter sido surpreendido durante a madrugada com a publicação no Diário Oficial da exoneração “a pedido” do diretor geral da PF. Segundo ele, Valeixo informou ter recebido uma comunicação do Palácio do Planalto da sua demissão com o adendo de que a exoneração seria publicada “a pedido”, o que não é verdade.
Ao encerrar o seu longo comunicado, Moro disse que ao sair dali iria entregar a sua carta de demissão, concluindo que não lhe restava alternativa.
“Tenho um compromisso com o estado de direito. O presidente não me quer no cargo. A interferência política pode levar a relações impróprias da Polícia Federal com o presidente da República”.