Médica teria deixado combate à Covid por competência
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Médica teria deixado combate à Covid por competência


A médica infectologista Luana Araújo fala à CPI da Covid no Senado (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)

Em depoimento demolidor contra os que ainda defendem o tratamento precoce e o uso de cloroquina contra a Covid-19, a médica infectologista Luana Araújo, que chegou a trabalhar por dez dias à frente da recém-criada Secretaria de Enfrentamento à COVID-19 do Ministério da Saúde, chamou o tratamento de "discussão delirante". Durante cerca de sete horas de depoimento à CPI da Covid, nesta quarta-feira (2), Luana Araújo, embora não tenha feito nenhuma acusação direta ao presidente da República, não deixou dúvida sobre a responsabilidade de Jair Bolsonaro pela expansão da pandemia e mortes no Brasil.

Luana impressionou os integrantes da CPI por sua firmeza e demonstração de profundo conhecimento dos temas abordados. Mineira, de Belo Horizonte, a médica é especializada em doenças infecciosas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), possui um mestrado em Saúde Pública pela Universidade Johns Hopkins Bloomberg, nos Estados Unidos, e é a primeira brasileira a receber a prestigiosa Bolsa Sommer. Conforme contou à CPI, ela aprendeu a ler e a escrever sozinha, aos 2 anos de idade. Entrou na primeira série do ensino fundamental aos 5 e se formou no ensino médio aos 15 anos.

"Essa é uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente. Quando eu disse que um ano atrás nós estávamos na vanguarda da estupidez mundial, eu infelizmente ainda mantenho isso em vários aspectos, porque nós ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento”, afirmou a médica referindo-se ao tratamento precoce defendido por Bolsonaro.

"Estamos discutindo de que borda da Terra plana vamos pular", também disse a médica sobre o uso de cloroquina, justificando que não há comprovação científica para nenhum tratamento e demonstrando seu posicionamento anti-negacionismo.

"Nós não temos nenhuma ferramenta farmacológica que possa ser utilizada de forma inicial que impeça a progressão da doença", declarou Luana Araújo.

Questionada pelo relator da Comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), se a indicação de cloroquina feita por Bolsonaro “estimulou que a população abandonasse medidas farmacológicas, como o uso de máscara e distanciamento social”, Luana reforçou a responsabilidade do governo federal na propagação do vírus.

“Quando as pessoas defendem algo que não tem comprovação científica, você expõe pessoas desse grupo a uma extrema vulnerabilidade. A partir do momento que vulnerabiliza as pessoas com informações incorretas, não podemos esperar resultado positivo", salientou.

Luana argumentou “que há estudos, nesse caso uma meta-análise feita de maneira correta, que há aumento da mortalidade por uso de cloroquina e hidroxicloroquina”. E questionou a recomendação do uso da cloroquina como tratamento precoce estabelecida por alguns médicos, medida rechaçada pela Organização Mundial da Saúde e entidades médicas no Brasil e no mundo todo.

“Quando a gente tem uma decisão pessoal, é uma coisa. Quando se transforma em política pública, é outra. Autonomia médica faz parte da nossa prática. Mas não é licença para experimentação. Ela precisa ser feita com base em alguns pilares: volume de conhecimento científico, pilar da ética e pilar da responsabilização”.

'Ingerência política no Ministério da Saúde'

Sobre o motivo de sua nomeação não ter sido aprovada pelo Palácio do Planalto após dez dias de trabalho mesmo sem ser nomeada oficialmente, ela declarou que o próprio ministro Marcelo Queiroga lhe disse que "lamentava, mas que a nomeação não sairia", sem dar mais detalhes que justificassem a negativa.

“Não sei se foi uma instância superior. O que eu posso dizer é que não me parece ter sido dele [Queiroga], não teria lógica. Isso ficou claro para mim", afirmou.

Presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM) criticou o afastamento da secretária.

“É inacreditável como a senhora, tendo mestrado e se formado numa das melhores universidades do mundo na área de saúde, seja vetada pelo governo. É claro para a gente aqui: não estão interessados em quem tem capacidade para gerenciar essa crise. Estão interessados em quem compactua com alguém que, desde o primeiro momento, acreditou no tratamento precoce e na imunização de rebanho”, disse Aziz.

Nos dez dias em que atuou na pasta, foram reveladas declarações dela contra a cloroquina e o tratamento precoce. Posicionamentos avessos aos defendidos por Bolsonaro no combate à pandemia.

Para o presidente da CPI, o depoimento da médica servirá também para "mostrar que houve ingerência política no Ministério da Saúde".

Espaço somente para quem defende a cloroquina

"Infelizmente, por tudo que vem acontecendo, por essa polarização esdrúxula, essa politização incabível, os melhores talentos que temos para trabalhar nessas áreas não estavam exatamente à disposição", afirmou a médica aos senadores.

Na avaliação do relator, Renan Calheiros, as declarações de Luana Araújo à CPI mostram de forma "cristalina" a falta de autonomia não só do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, como do próprio Ministério no estabelecimento de políticas públicas para o enfrentamento da pandemia.

"O depoimento ajuda a compreender a insistência do governo em priorizar a utilização do medicamento, mesmo contra posições científicas, dando espaço, somente, aos profissionais que defendiam a cloroquina como política pública", diz um texto da síntese da avaliação feita pela equipe do relator da CPI.

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