Pela Estrada
- Da Redação
- 19 de mai.
- 2 min de leitura
Railane Borges
(atriz e cineasta)
Trabalhar com cinema é sempre uma jornada muito distante de ser cartesiana. Variáveis mil, surpresas, necessidades de improvisação e grandes questões de adaptabilidade.
Estamos na estrada filmando nosso novo projeto. Um documentário sobre o sistema de persecução penal do Brasil, que acaba desaguando em questões profundas de injustiça social, preconceito, racismo, além de um aparente projeto de poder que traz consigo a enorme sensação de impunidade que todos nós carregamos no país.
Nossa pequena equipe, rebelde e com uma irreverência que salta aos olhos, tem atravessado o país pelas BRs da vida, e, neste último movimento, estivemos no estado mais rico da União. São Paulo é sempre de uma grandiosidade que por vezes apavora.
Lá encontramos um personagem singular. Jovem, mas com uma jornada intensa de lutas para ascender. Professor de História e Sociólogo, Joel Paviotti ganha espaço no mundo com um canal de streaming, no qual desenha, da forma mais acessível possível, fatos da história e do cotidiano do Brasil.
Mas quem é esse rapaz? Por que interrompo minha “sanha” reflexiva para falar dele? Porque ele é um sobrevivente. Alguém que veio das camadas mais invisíveis da sociedade, trabalhou com a combalida educação do país e pereceu mergulhado no caos do adoecimento mental que alcança tanta gente por aí.
Então Joel é um derrotado pelo caos mental do mundo? Pelo contrário. Buscou forças, fez por onde se recompor, colocou-se em movimento e ganhou o mundo. Com bandeiras legítimas e representando as pessoas de carne e osso, distantes da parametrização insana de algumas redes, Paviotti avança para se tornar referência no mundo das informações decodificadas. Aquelas que servem a todos os tipos de intelectualidade. Passamos um belo dia registrando seus passos.
Mais adiante, já em São José dos Campos, a difícil entrevista com Acioli Cancellier. Quem é ele? Irmão de Luiz Carlos Cancellier, reitor da UFSC, preso de forma absolutamente injusta pela Polícia Federal em 2017, que tirou a própria vida em um gesto extremo de simbolismo enorme.
Conversar com Acioli foi terno, porém agudamente doloroso. Reviver a trajetória do reitor, sua exposição e humilhação pública, a irresponsabilidade dos agentes, que deveriam apurar fatos e se guiaram por questionáveis convicções, trouxe uma emoção difícil de lidar para todos nós que lá estávamos.
Ali, assim como na presença do intrépido Joel e seu canal Iconografia da História, ficou claro que estamos no caminho certo. De elucidar para o cidadão comum as tantas e inúmeras razões pelas quais a sociedade brasileira foi construída para tão poucas pessoas.
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